Escrito
por ALLAN FEAR
Era hora de acordar, eu
sabia, mas aqui estou eu, deitado de barriga para cima, mergulhado em densas
trevas. Novamente aquela maldita paralisia do sono me afeta, mantendo-me nesta
posição, com os olhos fechados, incapaz de mover um dedo sequer.
Meu nome é Romário Montanhas, sou advogado trabalhista e
sempre acordo bem cedo para ir ao escritório no centro de Mordor Valley. Mas
aqui estou eu, sofrendo, uma vez mais, desse distúrbio do sono que começou na
infância, quando tinha meus 10 anos e que me segue até hoje.
Segundo os médicos, a paralisia do sono é um fenômeno
comum, grande parte das pessoas passam por isso ao menos uma vez na vida, você
acorda, sua mente consciente desperta, porém, seu cérebro acha que você ainda
está dormindo e o mantém privado dos movimentos, enchendo sua cabeça de imagens
onÃricas.
Bem me lembro o quanto a paralisia do sono era
assustadora, eu via coisas, ouvia vozes e até cheguei a ver meu próprio corpo
deitado na cama. Mas nos acostumamos com tudo não é mesmo?
Mas aqui estou eu, sentindo essa aflição, essa sensação
estranha, sinto-me prisioneiro dentro do meu próprio corpo, um arrepio gélido
percorre minha nuca e ouço meu estômago roncar, Ah! Como estou faminto!
Eu me lembro de ter tido um pesadelo onde alguém me
atacava, era uma mulher muito pálida, de olhar selvagem, parecia possessa de
raiva, avançou sobre mim bem no centro da cidade e arranhou meu braço com suas
unhas afiadas, eu posso até me lembrar da dor que senti, então várias pessoas a
contiveram e não me lembro mais o que aconteceu depois. Sonhos quase nunca
fazem sentido algum.
Estou tentando mexer meus dedos, pois sempre fui
aconselhado pelo Dr. Faustos, do instituto do sono, foi ele quem acompanhou meu
caso anos atrás, ele dizia para tentar mexer o dedo, isso envia um sinal para o
cérebro de que eu acordei e ele me libera dessa maldita paralisia.
Mas minhas mãos continuam paralisadas.
Estou faminto, parece que faz dias que não como nada, meu
estômago está se remoendo de fome. Preciso me alimentar.
De repente, ouvi um ruÃdo, e uma claridade ofuscante
jorrou sobre mim sua luz brilhante. Meus olhos continuam fechados, mas posso
perceber nitidamente que há luz no meu quarto.
Então começo a ouvir vozes de várias pessoas, estão bem
próximas de mim. Teria entrado pessoas em meu quarto ou seria apenas ilusões
propÃcias da paralisia do sono?
-Gouch! – Eu posso ouvir o som nojento de meu estômago
soar cada vez mais alto, eu nunca mais vou para a cama sem uma boa refeição,
sinto como se tivesse um buraco na minha barriga.
Decido
a não perder mais tempo com essas fantasias tolas, afinal tenho que trabalhar,
uso de toda minha força e consegui cerrar os dentes e fechei as mãos, levanto-me
com esforço.
-OOOHHH!!! – Ouvi o coro de vozes assustadas e encaro
aqueles rostos apavorados que me fitam incrédulos.
Estou aturdido diante da visão fantástica, olhando para
várias pessoas aterrorizadas à minha volta, umas caem desmaiadas, enquanto
outras estão fitando-me com seus olhos cheios de horror.
-OH! – Tento exclamar, mas apenas um grunhido estranho
sai por minha boca, quando vejo que estou em um caixão e entendo que aquele é
meu velório!
Os rostos me parecem familiares, mas a fome é demais, e
uma bestialidade inumana toma conta de mim, uma força insana, feroz, que me faz
saltar de dentro do caixão e pular sobre uma das mulheres à minha frente,
derrubo-a no chão e abocanho seu pescoço macio.
Estou faminto! Preciso me alimentar!
Delicio-me
com aquela carne quente e suculenta descendo por minha garganta a medida que a devoro,
ouvindo seus pavorosos gritos de dor. Ainda sou eu aqui dentro, mas sinto que
me transformei em uma daquelas criaturas de andar cambaleante, distintas de
emoção, cujo único objetivo é satisfazer o voraz desejo de se alimentar da
carne humana.
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