Escrito
por ALLAN FEAR
Elie estava sentada
naquele sofá de couro, de frente para uma grande TV de tela plana que exibia um
filme onde jovens garotas se divertiam num parque de diversões.
Loira, magra, de um rosto muito bem definido como o das
modelos de grifes famosas, Elie fitava a cena do filme. Seus olhos, de um tom
único de azul-acinzentado, pareciam cintilar.
Tudo que Elie queria era poder ser uma garota normal,
poder sair e se divertir com as amigas, ter um namorado e ser livre.
Pobre Elie, ela sabia o quanto era linda, seu corpo era
simplesmente perfeito, todos sempre ficavam encantados com o brilho de seus
doces olhos. Mas ela não podia se mexer, seria capaz de trocar sua beleza para
ter uma vida normal. Ela dependia de outras pessoas para tudo, era bem dizer,
uma inválida.
“Por que tenho que ser assim?”- indagou Elie em
pensamentos, sentindo inveja daquelas jovens sorridentes do filme. “Por que não
posso ser como todas as outras garotas?”- se perguntou. Não apenas raiva, mas
um ódio escuro crescia em seu peito.
Elie não podia falar, não podia se mover, seria esse o
preço a pagar por ser tão linda? Mas de que lhe valia toda aquela beleza se ela
era uma nulidade?
-Está gostando do filme Elie? – indagou Jéssica entrando
pela sala e se sentando ao lado de Elie no sofá. A jovem menina usava um
vestido cor-de-rosa com corações brancos estampados e olhava para Elie com um
sorriso torto. -Você gostaria de tomar seu chazinho da tarde agora?
Então Elie sentiu uma força obscura e poderosa, talvez
causada pela sua forte emoção, ou talvez fosse pela raiva que ela sentia, e
conseguiu virar o rosto e encarar Jéssica que, de repente, ganhou uma expressão
de terror.
-Ahhh!! – gritou Jéssica, tentando se levantar do sofá.
Mas foi agarrada pelas mãos frias e duras de Elie. -Socorro mamãe, minha boneca
está se mexendo!!
-Chega de ver TV, sem chazinhos da tarde hoje sua garota
estúpida!! – os lábios de Elie se moviam enquanto ela pronunciava aquelas
palavras amargas, cheias de ódio, num timbre funesto e inumano, enquanto que
seus olhos faiscavam um diabólico brilho vermelho. -Agora nós vamos brincar de
esconder a alma!
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