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A VÍTIMA PERFEITA




Escrito por ALLAN FEAR

            A garota corria por sua vida, seus gritos esganiçados ecoavam pelos cômodos escuros de sua casa, seus entes queridos não estavam lá para ajudá-la. Ninguém estava. Era uma data especial, e ela estava sozinha em casa com um assassino!
            Eu sentia a guisa de insanidade percorrer junto com o sangue em minhas veias, eu a perseguia, numa caçada mortal, como um gato atrás do rato.
              Sem opções, a garota avançou em direção as escadas para o segundo andar, eu estava em seu encalço, ainda sorrindo por ter conseguido adentrar sua residência facilmente e surpreendê-la na sala enquanto assistia a um filme de terror na TV. Ela jamais imaginou que um assassino de verdade surgiria no meio da noite, um maníaco que sabia tudo sobre ela, que escolheu o momento perfeito para atacar.

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            Eu manuseei a grande faca que segurava firmemente em minha mão direita para espetá-la em suas costas quando ela alcançou os primeiros degraus da escada. Mas ela se esgueirou, desviando o corpo, e a lâmina raspou na parede causando faíscas.
            Em um golpe rápido, ergui minha mão esquerda e consegui alcançar seus cabelos loiros que se agitavam no calor do momento e puxei-a para mim, dando-lhe uma gravata. Ela gritou, com sua voz rouca, embargada pelo medo, eu ergui a faca e...
            -Nicolas! Acorde rapaz!! – falou a mãe dele, dando-lhe um safanão na cabeça enquanto ele estava perdido em seus devaneios sentado à mesa com seu prato de comida intocado. -Sua comida já está fria como um cadáver! Está sem fome?
            -Ãh? – balbuciou Nicolas, ainda se lembrando de seu pensamento, frustrado pela interrupção da mãe justo na hora que ele matava a vítima. -Eu estou sem fome. Pode deixar o prato na geladeira pra mim?
            -Você tem que parar de ficar lendo esses livros idiotas, está andando cada vez mais distraído, totalmente no mundo da lua. – falou a mãe, retirando seu prato da mesa e saindo para a cozinha, balançando a cabeça enquanto andava.
            Nicolas também deixou a mesa e foi para seu quarto, era por volta das sete horas da noite e ultimamente ele vinha perdendo o apetite àquele horário. Era um rapaz alto, com seus 1,85 metros, magro, de pele clara, cabelo preto curto, sempre penteado para trás com gel, nariz pontudo, que herdou do pai, e ombros largos. Era acanhado, um tanto quanto calado e reservado, de poucos amigos.

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            Já havia um tempo que Nicolas estava fascinado por histórias de assassinos em série. Ficava horas vendo filmes, documentários e lendo livros sobre este assunto.
            Com seus 35 anos, Nicolas não tinha o desejo de se casar, ter filhos e um bom emprego, se contentava em ajudar o pai no RH de uma empresa que prestava serviço de limpeza. Seu maior desejo era se tornar um serial killer reconhecido.
            Nicolas jamais havia matado ninguém, nem mesmo no colégio quando apanhava dos valentões. Mas em sua mente sempre planejava mortes horríveis para aqueles garotos, ele chegava a sentir sadismo quando se imaginava tomando a vida de uma pessoa.
            Aqueles pensamentos sórdidos, sombrios e perversos, haviam distorcido a mente de Nicolas. Em seu mundo interno, ele se tornara um conhecido assassino em série chamado Lâmina, pois sempre deixava as facas usadas para assassinar suas vítimas espetada no corpo delas, sendo sempre cuidadoso ao deixar apenas as digitais da própria vítima no cabo da arma, uma característica sua para confundir a polícia.
            Mas Nicolas havia ultrapassado a tênue linha que separa a realidade da fantasia, estava obcecado para matar alguém. Disposto a tudo para sentir aquela emoção que tanto exercia fascínio nos assassinos.        
            Não havia outro pensamento na mente de Nicolas a não ser matar, não por vingança ou por ódio, mas pelo puro prazer de tomar uma vida.
            Nicolas deitou em sua cama, ficou olhando a esmo para o teto e deixou os pensamentos invadirem sua mente, relembrando todo o plano que ele havia colocado em ação. Ele ansiava por matar alguém, e tudo já estava preparado, naquela noite ele teria um encontro com sua primeira vítima, isso o excitava, muito mais do que a primeira vez que ele transou com uma garota.

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            Nicolas se lembrava das últimas semanas que passaram, quando ele saía durante o fim da tarde, andando pelas ruas de alguns bairros afastados, em busca da vítima perfeita.
            Demorou quase uma semana, mas naquele final de tarde de uma sexta-feira, Nicolas encontrou aquela jovem garota que não aparentava ter mais do que 25 anos, 1,70 de altura e magra como as modelos de grifes famosas, um cabelo ruivo impecavelmente liso, pele clara como neve e os mais lindos olhos azuis que ele já viu.
            Nicolas viu aquela garota quando ela saia de uma loja de artigos religiosos. Suas roupas pretas, a saia rodada com meia calça por baixo, o bracelete e o pentagrama invertido em uma correntinha sobre o peito, diziam que ela gostava de rock, naquele estilo patricinha rebelde.
            A garota não o viu. Nicolas era sorrateiro e a seguiu pelo bairro, descobrindo facilmente onde ela morava. Passou a espioná-la e descobriu seu número de telefone no catálogo telefônico. Ligou, se passando por um funcionário do banco procurando pelo Sr. Holfman, após tê-lo visto deixar a casa, e descobriu que a garota se chamava Melissa Holfman.
            Nicolas ficou monitorando a jovem Melissa por cerca de duas semanas inteiras. Descobriu que ela não tinha namorado, trabalhava cantando em algumas casas noturnas com sua banda de rock, tinha um gato preto que às vezes a esperava em cima do muro quando ela chegava em casa, gostava de beber, saia com uma amiga para tomar açaí todo sábado à tarde. Descobriu também que ela sempre usava roupas pretas, tinha uma grande variedade de saias curtas e algum tipo de adereço de couro no pescoço, como coleiras com espetos.
            Nicolas havia ficado bem perto dela, incapaz de chegar e fazer amizade pois, atuar, como faziam grandes psicopatas que tinham o lado monstro e o lado galanteador, não era seu forte. Conseguira descobrir que ela sempre saía depois das dez da noite, costumava ir a pé, andando pelas ruas desertas de seu bairro. Passava por quarteirões inteiros de uma grande fábrica de tecidos abandonada e casas em ruinas do outro lado da rua que aguardavam serem demolidas por algum projeto utópico da prefeitura.
            Nicolas havia planejado tudo, iria deixar seu Corola estacionado em um ponto estratégico e abordar Melissa, dopando-a com clorofórmio, a colocaria desacordada no porta-malas do carro e a levaria para as profundezas de um bosque, onde a mataria.
            Tudo era tão simples em sua mente, a brisa suave que entrava pela janela arrepiava os poucos pelos que tinha em seus braços, fazendo um sorriso frio, nervoso, se formar em sua face tensa.
            Com uma olhadela no relógio em seu pulso viu que marcava 9 horas, estava na hora de ir. Seu carro estava na garagem aguardando-o, sua faca de caça, virgem, estava no porta luvas, esperando por ele.
            Era hora de dar vida a seus pensamentos obscuros, de pintar uma macabra cena de assassinato com o sangue de uma jovem garota. Ele mal podia esperar para se deliciar com a notícia no jornal na manhã seguinte, falando do seu primeiro assassinato, informando que o assassino continuava à solta e que as autoridades policiais não tinham nenhuma pista do maníaco homicida.
            
 ***





            Nicolas dirigiu seu Corola por cerca de meia hora, estava nervoso, o coração batia acelerado dentro do peito. Era sua primeira vez, mas havia ensaiado tanto, tudo sairia perfeitamente. Ele parou o carro em um local estratégico, atrás de altos arbustos que ficavam em frente a uma das casas abandonadas, e ficou sentado no banco, com as luzes do veículo apagadas, esperando, pois durante o tempo que ficou observando, apenas Melissa passava ali, naquele horário, a pé, indo para a casa de uma amiga que morava a algumas quadras dali.
            Não demorou muito, Melissa era uma garota pontual, sua rotina era sempre cumprida com rigor quanto ao horário. Lá estava ela, caminhando pela rua deserta, iluminada pela luz amarela dos postes e pela meia lua que flutuava em um céu escuro, com poucas estrelas.
            Melissa usava botas de couro, uma mini saia curtíssima e uma blusa decotada, com a estampa de uma caveira com uma flor entre os dentes. Seus cabelos ruivos esvoaçavam pela brisa suave. A rua era ladeada por antigas e grossas árvores.
            Nicolas abriu a porta e esperou Melissa passar por ele, ela parecia perdida em seus pensamentos, andar por ali era um hábito tão comum que ela se sentia muito à vontade. Então ele saiu do carro, untou a flanela com clorofórmio, ajeitou a faca embainhada na cintura, dentro da calça Jens e, sorrateiro como um felino, foi atrás da garota com a adrenalina a mil por hora.
            Tudo parecia tão irreal para Nicolas, havia planejado isso em sua mente por tanto tempo, abordar a garota e colocá-la em seu carro, temendo que alguém surgisse do nada. Mas ali, aproximando-se de sua vítima, sentindo o solo duro sobre seus pés calçados apenas com meias para não fazer barulho, suas pernas pareciam fraquejar, um fio de voz em seu interior implorava para ele voltar, para desistir daquela loucura.  Jamais, em toda sua vida, se sentiu tão excitado e tão nervoso, suas mãos estavam frias, os lábios tremiam... tudo tão irreal...

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            Nicolas estava se aproximando, cada vez mais perto de Melissa, podia sentir seu perfume amadeirado. Se quisesse poderia até mesmo tocar os fios de seus cabelos ruivos que se agitavam ao sabor da brisa adocicada.
            Nicolas pisou em uma pedrinha pontuda, sentiu a dor subir por suas pernas e cambaleou para a esquerda quando percebeu que sua flanela com clorofórmio havia caído no chão. Ele lançou um olhar e a localizou alguns metros atrás, pensou em retornar, mas quando voltou seu olhar para Melissa, um horror mudo assolou seu espírito.
            Melissa havia parado e o encarava com uma expressão de surpresa no rosto.
            Era hora de improvisar, a mente de Nicolas ia a mil por hora, ele temia não conseguir articular sequer uma palavra devido aquela surpresa, aquilo não deveria ter acontecido. Ele deveria surpreendê-la, mas agora era tarde demais.
            -Oi! – começou Nicolas, exibindo um sorriso amarelo, enfiando as mãos nos bolsos da calça Jens, meio sem jeito, tentando parecer casual. -Eu estou meio perdido, acabei descendo no ponto errado e não faço ideia de como chegar no endereço de um rapaz que fiquei de pegar uma placa de vídeo. Desculpa se te assustei, você foi a única pessoa que vi e resolvi te alcançar, para perguntar.
            -Tudo bem. – Melissa sorriu, parecendo gentil. -Qual o nome da rua que você está procurando?
            -Deixa eu lembrar, me deu um branco, acho que é Rua Cheyzier, se não me falha a memória. – falou Nicolas, gotas de suas escorriam de sua testa, ele pensava que havia arruinado tudo, mas ali estava ele, naquela parte deserta do bairro, com a vítima perfeita. Por que não a matar ali mesmo? Darias certo? Seria um crime perfeito?
            -Humm... eu já ouvi o nome dessa rua, mas não me lembro direito, deixa eu ver... - falou Melissa, pensativa, olhando a esmo para a rua, como se tentasse forçar sua mente a se lembrar.
            Nicolas encarou aquela garota linda, inalando seu perfume com notas amadeiradas e, de forma natural, sem levantar suspeitas, sem assustá-la, retirou da parte de trás da cintura aquela grande faca de caça e em um golpe rápido como o bote de uma cascavel, espetou-a no peito de Melissa.
            Um prazer sádico tomou conta de todo o corpo de Nicolas quando sentiu a lâmina da faca penetrar o peito de Melissa. Um silêncio lúgubre reinou sobre eles por um instante, os olhos dela se fecharam e ela se calou.
            -Ãh?! – engasgou Nicolas quando aqueles lindos olhos azuis de Melissa se abriram, fitando-o com uma tristeza depressiva e profunda.
            -Morre sua maldita!! – gritou Nicolas retirando a faca e voltando a espetá-la no corpo de Melissa. -Morre!!
            Nenhuma única gota de sangue escorreu daquelas feridas. Nicolas estava assustado, incrédulo diante daquela situação inusitada.
            -Você não pode me matar! – falou Melissa, sua voz doce e suave agora soava como um sussurro triste. Ela segurou o pulso de Nicolas, mantendo a faca enfiada em seu peito e continuou: -Porque eu já estou morta!


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            -Não, isso não é possível! O que está acontecendo aqui? Era para você morrer, eu ... – as palavras morreram na boca de Nicolas, seus olhos cheios de dúvida e de assombro encaravam aquela garota cuja mão gélida apertava seu pulso com uma força poderosa.
            -Veja e preste bem atenção. – falou Melissa naquele fio de voz triste, encarando-o com aqueles olhos azuis cheios de melancolia. Ela retirou a coleira que usava no pescoço com uma das mãos, revelando uma cicatriz feia que ia de um extremo ao outro.
            -A maquiagem me ajuda a parecer normal, viva, mas olhe bem para meu pescoço, ele foi rasgado. –  ela deu uma risada amarga, a depressão tomava seus olhos, o azul havia se tornado cinza escuro. De tão perto Nicolas podia ver a grande quantidade de maquiagem que ela usava e, junto com seu perfume, pôde sentir um odor estranho, profundo, semelhante a formol, a fragrância da morte.
            -Foi há três anos, quando eu me cansei de sair com garotos e decidi terminar com meu namorado, mas ele não aceitou bem o fato de eu querer sair com meninas e deixa-lo. Então numa noite como esta, ele invadiu minha casa e me atacou, rasgando minha garganta com uma faca de cozinha.
            -Meu sangue jorrava do meu pescoço enquanto ele fugia, eu estava sozinha em casa naquela noite, me restava pouco tempo, então usei meu próprio sangue para riscar o sigilo daquele Daemon que por tanto tempo vinha me servindo, e clamei para que ele me ajudasse. O espírito veio e propôs um acordo quando eu já estava desfalecendo, eu aceitaria qualquer coisa para não morrer sangrando como um maldito porco. –um sorriso perverso e frio brilhou nos lábios de Melissa enquanto ela abaixou o braço de Nicolas e se apossou da faca, retirando-a de seu peito.
            -Aquele que me serve e com quem fiz um pacto de sangue é um grande e poderoso Rei. Naquele momento prestes a morrer, pela primeira vez eu o vi cara a cara, e ouvi sua voz, não apenas por telepatia como antes. Ele me disse que eu deveria ceifar vidas de pessoas como você e derramar seu sangue para ele em forma de sacrifício!
            Nicolas queria gritar, aquilo não deveria estar acontecendo, não era assim que ele imaginou, ele havia planejado tudo, isso não poderia estar ocorrendo. Sua voz estava presa na garganta, ele fechou a mão pronto para desferir um soco na cara de Melissa e em seguida tomar a faca de suas mãos.
            Pobre Nicolas, ele engasgou e sentiu o gosto de sangue na boca quando, num ágil e rápido golpe, Melissa enfiou aquela faca em seu estômago. A dor lancinante se espalhou por todo o corpo de Nicolas, enquanto fitava os diabólicos e sombrios olhos daquela garota perversa.


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            -Gasp! – o som nojento escapou da garganta de Nicolas quando Melissa lhe espetou a faca em sua traqueia.
Nicolas sentiu a dor dilacerar seus nervos à medida que seu sangue vermelho brilhante fluía através das feridas mortais.
“Oh! Então é assim que as vítimas se sentem?”- indagou Nicolas em seus delírios, à medida que seu corpo se desfalecia, entregando-se a uma escuridão profunda e silenciosa que o levava para o além-túmulo. “É tão intenso... Mas o que é aquilo?”
Nicolas pareceu ver duas silhuetas, como se fossem dois anjos imponentes com asas atrás de Melissa, mas antes mesmo que as formas espectrais ganhassem foco, seu corpo tombou sobre o chão com sua vida se esvaindo juntamente com o sangue que fluía avidamente de seus ferimentos.
-Saudações meu Rei! – falou Melissa fazendo uma reverência, curvando-se ante aquele ser inumano que se manifestara. -És perspicaz meu lorde, instigai o mal nos homens para que eles sucumbam as tentações e assim podeis tragar suas almas para vossa morada infernal.
Os olhos daquele ser primitivo, que se manifestava como duas entidades distintas em forma angelical, brilhavam, queimando como as chamas do inferno, deliciando-se com aquele sangue impuro, viciado de sentimentos mórbidos.
Pobre Nicolas, nem mesmo em seus piores pesadelos imaginou que ao nutrir todos aqueles sentimentos obscuros e perversos, destruindo e envenenando sua mente com maldade, ele é quem seria a vítima perfeita!        



https://noitesdehalloween.wixsite.com/allanfear/o-sabor-do-medo

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