Escrito
por ALLAN FEAR
Trimmmmm... Trimmmmm... Trimmmmm...
O telefone tocava naquela delegacia quase deserta. O
delegado Jon Farder estava na porta do pequeno departamento enchendo a sacola
de doces de um menino-esqueleto e de uma bruxinha de cabelos loiros.
As crianças fantasiadas receberam os doces e deram as
costas ao policial, saindo correndo pela rua cujo asfalto brilhava, molhado
pela chuva da tarde. No céu, nuvens cinzentas e opressoras flutuavam baixas,
prontas para um novo temporal.
-Nada como uma agradável noite de Halloween em Mordor
Valley! - disse o delegado para si mesmo enquanto caminhava até o telefone que
tocava sobre a mesa.
-Departamento de Polícia de Mordor Valley, eu sou o
delegado Jon Farder, em que posso ajudá-lo?
-Eu preciso de ajuda! – falou a voz de um garotinho do
outro lado da linha, pronunciando as palavras quase que em um sussurro. -Estou
com muito medo.
-Qual seu nome meu jovem?
-Doug Willer, - falou o menino do outro lado da linha,
-Preciso de sua ajuda!
-Qual o problema? – indagou o delegado, franzido as
sobrancelhas e colocando uma caneta na boca.
-O monstro invadiu minha casa!
-E como é esse monstro?
-Ele tem uma cabeça grande, com olhos enormes, dentes
afiados e chifres pontudos. Estou com medo. – o menino continuava sussurrando,
falando devagar e pausadamente.
-Alguma chamada delegado? – indagou Soraia entrando no
aposento, era uma policial, que estava sem uniforme, tinha o cabelo preto solto
e molhado. Parou e ficou olhando para Jon.
-Não, apenas mais um garotinho tentando passar um trote,
alegando que um monstro invadiu sua casa. – explicou o delegado enquanto tapava
o fone do telefone. -Pode ir, aproveite sua noite com as crianças. Feliz Halloween!
-Até amanhã, delegado. – falou Soraia, acenou para seu
colega de trabalho e deixou a delegacia, satisfeita por ter trabalhado apenas
meio plantão.
-Olha rapazinho, você não deve temer o monstro, ele veio
apenas procurando doces. – falou o delegado voltando ao telefone. -Dê um pouco
de doces para ele que estará tudo resolvido, ok?
-Está bem, senhor policial, obrigado. – falou o menino e
desligou.
-Todo Halloween é a mesma coisa. – sorriu o delegado,
falando para si mesmo, colocando o telefone no gancho e os pés sobre a mesa.
-As crianças têm muita imaginação, ainda me lembro da menina que ligou no ano
passado dizendo que havia discos voadores sobrevoando sua casa para abduzir
seus doces. Eu adoro o Halloween!!
Naquele momento, em uma das inúmeras casas daquela cidade
de Mordor Valley, no Colorado, o jovem Doug Willer de apenas 7 anos, andou até
a cozinha e pegou uma vasilha de plástico cheia de doces que sua mãe havia
deixado sobre a bancada para que ele e sua irmã mais velha distribuíssem para as
crianças que viessem pedir travessuras ou gostosuras.
Doug tinha um olhar triste, sentia-se sozinho em casa sem
os pais, sua irmã simplesmente não lhe dava atenção e passava horas no celular
com suas amigas.
Doug caminhou com a vasilha de doces até o quarto da
irmã, segurando o choro, tentando ser corajoso para entregar os doces para o
monstro.
-Olá senhor monstro – falou Doug, com sua voz assustada,
o maxilar tremendo enquanto adentrava o quarto e fitava aquela cena macabra,
onde um maníaco homicida, usando uma máscara de monstro esfaqueava sua irmã,
que dava os últimos suspiros depois de uma luta perdida. -Eu lhe trouxe doces,
agora o senhor já pode ir embora e parar de machucar minha irmã.
O psicopata demente se voltou, surpreso, para aquele
pobre menino, parado à porta do quarto, cuja vasilha de doces tremia em suas
mãos. O assassino empunhava uma grande faca de cozinha pingando sangue.
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