Escrito
por ALLAN FEAR
Obs: Este conto é uma degustação do meu livro "SACRIFÍCIOS", vendido em edição física de luxo com ilustrações ou em e-book pela Amazon.
CAPÍTULO 1
Era mais um turno de Caio no necrotério onde trabalhava
durante a noite. Ele havia terminado de tratar e limpar o corpo de um rapaz e
agora iria começar com o segundo cadáver.
-Noite agitada hoje. – falou Caio para si mesmo, era o
único funcionário de plantão naquele Necrotério, que ficava no subsolo de uma
funerária. -Mais um corpo e poderei dormir o resto da noite.
Caio adentrou a sala onde se armazenavam os cadáveres nas
gavetas. Em uma das macas, coberta por um lençol branco, estava o corpo de uma
garota para ser tratado e limpo.
-Hmmm... Elisabeth Martinson, 23 anos, morta com uma
facada no peito. – Caio leu o obituário da jovem em uma prancheta na frente da
maca. -Parece ser gatinha, vamos dar uma olhada.
Caio retirou o lençol e contemplou o corpo da garota. Ela
tinha a pele muito clara, extremamente pálida, cabelo preto e liso. Acima de
seu seio esquerdo havia a ferida de uma facada com sangue coagulado sujando seu
corpo.
-Tão linda... – falou Caio, retirando todo o lençol e
contemplando a nudez daquele cadáver. -Vamos nos divertir hoje antes de você
descansar em paz à sete palmos de terra.
Caio era um tipo alto, com seus 1,92, magricela e com o
rosto cheio de espinhas. Tinha 27 anos e fazia 3 que trabalhava naquele
necrotério do tio. Ele gostava de estar sozinho com cadáveres, costumava
fotografá-los e até mesmo tocar o corpo de garotas bonitas que lá chegavam.
Caio estava encantado com o cadáver de Elisabeth, era uma
garota baixa de 1,55, com um corpo magrinho, porém bem definido, com curvas
sensuais.
Caio parecia
hipnotizado enquanto fitava o cadáver de Elisabeth, mas então ele se deu conta
de que ela precisava de um banho. Um cheiro ruim exalava da defunta.
Caio deixou a sala das gavetas e foi para o banheiro,
pegou um balde com água, sabão e uma esponja.
Voltou para a sala onde a defunta o aguardava e começou a
limpar aquele sangue coagulado de seu peito, quando, de repente, começou a
ouvir um ruído quase inaudível
-Hum? – Caio aproximou seu ouvido do nariz de Elisabeth,
prendeu a respiração e pôs-se a escutar.
Um leve ronco parecia escapar das narinas daquela
defunta.
CAPÍTULO 2
-Que estranho. Parece um ronco, mas nenhum ar está saindo
das narinas. – falou Caio confuso, colando a orelha no nariz da menina morta.
Então a luz do teto piscou e apagou. Caio gritou pelo
susto naquele momento tenso. Ouviu o barulho do gerador, a luz piscou três
vezes e voltou a ficar acesa.
Caio olhou para a
defunta, tão serena, porém aquele ronco continuava emanando de seu corpo. Ele
checou seu coração, seus pulsos e nada. Ela estava fria e morta. De forma
alguma ela poderia estar viva.
Caio encarava o rosto de Elisabeth, seu coração batia
acelerado dentro do peito, aquela situação o estava deixando um pouco nervoso.
-Você está estragando o clima, sabia? – brincou Caio,
dando uma gargalhada nervosa. -É sua última noite entre os vivos, não quer se
divertir um pouco?
Caio terminou de limpar o corpo de Elisabeth e secou-o
com uma toalha. Sentou-se na beira da maca, se inclinou e começou a acariciar
aqueles seios pequenos e duros.
Caio estava excitado, começou a mamar, sorvendo aquele
seio frio, enfiando aquele mamilo em sua boca.
-Você terá uma noite inesquecível! – falou Caio, tirou
sua camisa e já ia voltar para aqueles seios quando seus olhos se encheram de
horror ao fitar o rosto de Elisabeth.
A defunta estava de olhos abertos. Olhava cegamente para
o teto. Seus olhos estavam totalmente brancos.
CAPÍTULO 3
Caio sabia que cadáveres tinham espasmos musculares,
poderiam abrir os olhos e expelir gases. Mas sempre era um fenômeno assustador,
principalmente quando se está sozinho com um defunto no meio da noite.
-Já chega de gracinhas, senão você vai acabar com o clima
gatinha! – disse Caio levando a mão para fechar os olhos de Elisabeth, mas ele
parou quando viu uma mancha negra se espalhar pelas órbitas dela.
-Mas o que é isso? – indagou ele intrigado, enquanto
presenciava os olhos de Elisabeth serem tomados pela escuridão, que deram e ela
um aspecto terrivelmente assustador.
-Eu nunca vi isso antes! O que está acontecendo aqui? –
Caio tentou se afastar do corpo, mas viu com horror este se erguer, e aqueles
nefastos olhos negros encararem-no com fúria. -Oh!
-Você quer brincar com este corpo, seu pervertido? –
indagou a defunta em uma voz infernal, com um timbre gutural medonho enquanto
agarrava o pescoço do rapaz. -Então vamos brincar!
CAPÍTULO 4
-Meu Deus! – exclamou Caio aterrorizado até a medula
diante daquele horror. O cadáver apertava sua garganta com aquela mão gelada,
dotada de força sobre humana.
Com a outra mão o cadáver tateou até seus dedos se
fecharem sobre uma tesoura com ponta fina que estava em uma vasilha ao lado da
maca.
-Vamos descobrir qual a cor do seu sangue! – falou o
cadáver, depois gargalhou, uma rizada perversa de zombaria enquanto se
deliciava com o horror estampado na face de Caio.
-Por favor! Me perdoe! – Caio forçava a voz a sair de sua
boca enquanto era segurado pelo pescoço, quase que dobrado devido a sua
estatura. Ele sentia unhas afiadas enterrando-se em sua pele. –Não me machuque,
eu juro que jamais tocarei em nenhum outro cadáver a não ser para limpar e
tratá-los! Eu juro!!
-Seu tolo! – falou a defunta aproximando seu rosto do
dele, colocou aquela língua azeda e fria para fora e lambeu sua orelha,
enchendo a pele dele de arrepios.
-Eu não ligo se você adora praticar necrofilia. Isso é
tão sujo... – o cadáver gargalhou novamente. Seus olhos tomados pela escuridão
aterradora fuzilando os olhos assustados de Caio. -Eu adoro sujeira! Eu queria
seu sangue, fluindo através de suas veias enquanto arranco suas vísceras, mas
eu tenho outros planos para você!
Caio lutava para escapar das garras daquela defunta, mas
não conseguia arrancar aquela mão fria de seu pescoço. Ela estava apertando
demais, sufocando-o. Seus olhos começavam a girar debilmente nas órbitas.
-Pare... – Caio conseguiu balbuciar, suplicando, num fio
de voz débil e esganiçada. -Não consigo respirar...
O cadáver sorriu, exibindo dentes amarelados dentro
daqueles lábios secos. Era um sorriso frio e cruel.
Então a defunta usou a ponta da tesoura para ferir o
peito de Caio, riscando ali um círculo com sigilos estranhos em seu interior. O
rapaz gritava enquanto se debatia, lutando para se libertar, sentindo sua pele
ser rasgada.
A
defunta pronunciou palavras estranhas e colou seu rosto no de Caio e o beijou.
Ele sentiu nojo, com aquela língua podre, de gosto azedo, invadindo sua boca.
Mas então Caio começou a engasgar quando uma gosma preta
começou a invadir sua boca e descer por sua garganta à medida que a mão da
defunta abrandava o aperto em seu pescoço.
Caio sentiu aquela coisa fria, gosmenta e encaroçada
descer queimando para seu estômago à medida que uma aflição hedionda tomava
conta de sua mente, confundido seus pensamentos e emoções, afogando-o em um
horror indizível.
CAPÍTULO 5
Caio sentiu um arrepio estranho, como se sua vida
estivesse escapando de seu corpo.
Aquela coisa que possuía a defunta estava a comer a alma
de Caio, sorvendo-a de seu corpo que, por fim, tombou inerte sobre o chão. Ele
ainda respirava, havia vida orgânica ali, mas seu espírito havia ido embora,
mergulhado em profundas e densas trevas.
-Este corpo é tão macio... – falou a defunta, -Pena que
já não passa de um cadáver em decomposição. Mas serviu-me para fazer mais uma
coleta.
Caio deu por si caído sobre uma poça fria de lama.
Ergueu-se com dificuldade, seu corpo estava pesado. Olhou ao redor e viu que
estava em um lugar escuro, sombrio, com nuvens negras pesadas flutuando baixas,
enquanto faiscavam raios.
-Como vim parar aqui? – indagou Caio, confuso e
desorientado, olhando para aquele terreno rochoso, enlameado e com odor de
podridão. Era semelhante a um brejo em total decadência. -Que lugar é este?
-Aqui, meu pequeno e doce Caio, - falou uma voz
cavernosa, de timbre medonho, semelhante à que a defunta tinha quando se ergueu
dos mortos. -É meu reino...
Caio se virou e viu uma cena digna dos pesadelos mais
aterrorizantes. Era um homem vindo há alguns metros, tinha o corpo humano,
porém a cabeça de leão sobre o tronco, ele segurava uma enorme serpente e
montava um urso negro. Um funesto som de trombetas soava ao longe.
Caio estava horrorizado
diante da visão macabra, sentindo seu corpo paralisado de medo, enquanto uma
aflição angustiante o dominava.
-Aqui é onde você poderá praticar sexo com os mortos
livremente. – falou a entidade malfazeja aproximando-se de Caio, que podia
contemplar sua indizível feiura. -Há muitos defuntos aqui que desejam profanar
seu corpo Caio. Principalmente aqueles que já passaram por sua funerária.
O ser decadente começou a rir, um riso cruel e perverso.
Em seguida Caio viu surgir à sua volta inúmeras garotas, com seus corpos
apodrecidos, algumas tinham a pele descarnada e seus ossos cinzentos à mostra.
As sinistras aparições surgiam aos montes,
famintas, e começaram a atacar Caio, mordendo sua orelha, enfiando línguas
apodrecidas em sua boca, rasgando suas costas com unhas afiadas, fazendo-o
gritar.
Os
gritos de Caio ecoavam por aquele vale sombrio onde almas gemiam e
lamentavam.
Os
crimes que Caio vinha praticando com aqueles cadáveres acabou por abrir uma
porta de acesso que o levou a um reino tenebroso onde, pelo menos, sua tara
pelos mortos seria mantida, porém não exatamente como ele queria.
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