Escrito
por ALLAN FEAR
Era mais um dia de
rotina na vida de Gilberto. Ele ia de ônibus de seu bairro até o centro da
cidade e de lá tinha que esperar outra condução para o seu trabalho noturno.
Gilberto desceu do primeiro coletivo e subiu uma rua até
o ponto do segundo ônibus. Chegou até a marquise do ponto e já ia se sentar
quando viu uma carteira caída debaixo do banco de ferro.
Sorrateiro como um felino, Gilberto olhou para os lados,
não vendo ninguém por perto, apanhou a carteira e a enfiou na cintura, debaixo
da calça Jeans que usava.
Gilberto sabia que ainda faltava uns 5 minutos até seu
ônibus chegar, foi quando viu um homem gorducho, já na casa dos 50, usando
roupas sociais, tinha bigode grisalho e uma fina linha de cabelo rodeando uma careca
que brilhava banhada de suor.
O homem parou perto de Gilberto e olhou todo o perímetro,
certamente procurando sua carteira perdida.
-Meu jovem, - começou o homem olhando para Gilberto, com
um ar de preocupação. -Por acaso não viu uma carteira de couro preta caída por
aqui? Eu a perdi não tem 5 minutos, entrei no ônibus e quando fui me
identificar para o cobrador dei pela falta dela, desci e vim correndo pra cá.
-Poxa amigo, quando eu estava chegando vi um rapaz alto,
de camisa vermelha e pele morena, sabe, ele pegou algo que estava caído debaixo
do banco. – começou Gilberto, sabia o quanto era bom com mentiras. - Ele passou
por mim não tem nem 2 minutos. Ele desceu naquela direção, parecia meio
preocupado sabe?
-Obrigado meu jovem, fico te devendo essa! – Disse o
homem, apressando-se em descer a rua em busca do inexistente rapaz descrito por
Gilberto.
Satisfeito, Gilberto subiu no coletivo, que acabara de
chegar ao ponto. Pagou a passagem com seu cartão e sentou-se num dos últimos
bancos do ônibus.
O veículo estava com pelo menos duas dúzias de passageiros.
Todos sentados quietos. Gilberto sorria internamente, dada a preocupação do
homem e o peso da carteira que deveria estar recheada.
Percebendo que todos estavam distraídos e que ele era o
único passageiro na última fileira de bancos, Gilberto retirou a carteira da
cintura para se apossar do dinheiro e em seguida descartá-la pela janela quando
ouviu vozes furiosas anunciarem um assalto.
-Fica
quietinho mermão ou estouro a bagaça dos seus miolos! - Ameaçou um delinquente
jovem e magricela apontando um revólver na direção de Gilberto, que tinha a
carteira na mão. -Vai passando a carteira que tu tem aí morô!
Gilberto com a mão trêmula pelo terror entregou a
carteira para o delinquente, mas quando este, visivelmente transtornado por
algum entorpecente, levou a mão para se apossar do bem alheio, a deixou cair
quando o veículo deu uma sacolejada.
O marginal olhou a carteira se estatelar no assoalho do
ônibus, abrindo-se e revelando um distintivo policial.
-Tú
é cana maluco?! – Gritou o bandido e sem pensar, atirou inúmeras vezes em
Gilberto, cujo corpo peneirado de bala caiu imóvel sobre os bancos, com a boca
aberta, numa falha tentativa de explicar o mal-entendido.
0 Comentários