Escrito
por ALLAN FEAR
Meu nome é Arthur Murfon e sou o cara mais excêntrico do
meu bairro. Sou de poucos amigos e pouca conversa, tenho meus 39 anos, de
família pequena, e vivo sozinho em um apartamento simples e barato no subúrbio.
Trabalho
no almoxarifado de uma empresa de guindastes e vivo minha vida de forma pacata,
sempre me isolando das pessoas e colecionando quadros de artistas fracassados
que perambulam pelas ruas oferecendo suas artes por uma ninharia.
Era
uma manhã fria, eu voltava do armazém com uma sacola de compras quando pisei em
um prego enferrujado na calçada. Odeio
médicos, retirei eu mesmo o prego e voltei para casa mancando, deixando um
rastro de um sangue escuro e viscoso. Eu mesmo cuidaria do ferimento, odeio
terceiros me examinando, tenho a impressão de que eles estão a me analisar como
se escolhessem carne no açougue.
Mas a ferida começou a infeccionar, causando uma dor que
pulsava na sola do meu pé direito. A pele estava roxa e escura, como se
estivesse necrosando. Eu temia ter contraído tétano, mas me recusava a procurar
um médico, pois pra mim todos os médicos não passam de uns açougueiros.
Passados três dias, a ferida exalava um odor de carne
podre e ao examinar melhor, notei que havia um grande orifício no centro, com a
pele ao redor rachada e muito ressecada.
Eu sou desses que quando começa a roer unha, só para
quando chega na carne viva e o dedo fica sangrando, sendo assim comecei a
retirar aquela pele escura, ressecada e malcheirosa. Foi então que algo me
surpreendeu. A minha pele começou a sair em grossas camadas, revelando uma
casca escura por baixo, muito escamosa.
Por fim eu parei, havia me descascado até o meio da
canela, a coisa não estava nada bonita e eu comecei a ficar apavorado. Eu sabia
que tinha feito besteira e agora precisaria mesmo de um médico.
***
-Vamos
dar uma olhada nisso! – falou o médico meia hora depois, me deitando sobre a
maca em seu consultório e retirando as ataduras que eu havia colocado para
encobrir minha perna descascada. -Oh! Mas isso é muito sério rapaz!
O doutor, que estava muito surpreso, me aplicou uma
injeção, vacina antitetânica segundo ele, e chamou um enfermeiro corpulento, de
pele morena.
-Traga o cutelo imediatamente Ronald! – ordenou o doutor
para o enfermeiro assim que este entrou no aposento, seus olhos fixos em minha
perna. De repente comecei a ficar zonzo, enquanto ouvia seus diálogos, seus
rostos pareciam dançar à minha volta.
-Vamos destrinchá-lo aqui mesmo doutor Fagundes? –
indagou o enfermeiro enquanto me olhava com nojo.
Eu tentei levantar e dar o fora dali, entendia que aquela
injeção nada mais era do que uma anestesia capaz de derrubar um leão, e antes
de desmaiar eu ouvi aquele açougueiro carniceiro dizer:
-Sim, depois embalamos a carne em sacos para cadáver. –
um sorriso perverso brilhava no rosto do doutor Fagundes. -Fazia tempo que um
reptiliano não aparecia! Essa iguaria vale uma fortuna no mercado negro!!
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