Escrito
por ALLAN FEAR
CAPÍTULO
1
Luan é um garoto de 12
anos, filho único, há 2 anos que ele se mudara para uma cidade chamada
Montanhas de gelo. Ele estava colocando
seu agasalho para sair de casa e olhava pelo vidro embaçado da janela do quarto
a neve cair lá fora como flocos de algodão. Era o primeiro dia oficial de inverno.
Luan
se despediu dos pais, que estavam assistindo a um programa de auditório na sala
de estar, era um fim de tarde de sábado e Luan estava animado para encontrar os
bonecos de neve que seus vizinhos passaram a manhã toda construindo.
Luan
saiu para a neve, com suas botas afundando no solo macio, coberto por uma
grossa camada de gelo e viu na esquina de sua casa um boneco de neve gorducho,
adornado com uma cartola preta sobre a cabeça redonda, tinha um rosto feito com
massa de modelar e uma casquinha de sorvete no lugar do nariz, um cachecol
sobre os ombros e dois galhos secos simbolizando os braços. O boneco exibia um
sorriso satisfeito na cara gorducha.
Luan
começou a socar o boneco, enterrando seus punhos em seu corpo macio de gelo. O
garoto tinha uma obsessão desde que se mudara de uma cidade tropical para
aquela cujo frio era capaz de congelar até os ossos.
Luan
gostava de destruir os bonecos de neve que encontrava pela vizinhança durante o
inverno. Por fim o boneco estava feito
em pedaços, caído no chão.
Assim
foi o fim de tarde de Luan, destruindo os bonecos de neve pelo bairro, um a um,
totalizando meia dúzia de bonecos arruinados.
Este
era o mistério das redondezas, pois Luan agia na surdina. Ninguém sabia quem
destruía os bonecos de neve.
Após
destruir o último e mais bem produzido boneco de neve, Luan ouviu uns ruídos e
viu várias crianças do bairro saírem de trás de arbustos em frente à escola
primária. Ele congelou, tinha sido pego em flagrante, e agora? Como poderia
escapar desta enrascada?
CAPÍTULO
2
Luan tentou se safar
dando no pé, correndo como um louco, sentindo seus pés afundando na neve macia.
Mas um dos garotos, alto e corpulento foi mais veloz e o pegou. Então uma
menina baixinha e sardenta, que ele conhecia apenas de vista disse: “Então é
você quem tem destruído nossos bonecos de neve durante todos esses invernos?”
Outro
menino, este de óculos e muito raquítico, disse: “Agora você será castigado, pagará
por desrespeitar nossa tradição. Será
congelado vivo dentro de um boneco de neve!”
E
todos começaram a cantar, enquanto faziam uma ciranda macabra ao redor de Luan,
num coro assustador o refrão de uma melodia medonha: “Congelado vivo dentro de
um boneco de neve! Congelado vivo dentro de um boneco de neve!”
CAPÍTULO
3
As crianças amarraram
Luan com uma corda grossa enquanto ele gritava por socorro, vendo a neve cair
mais pesada, mais fria, a medida que um boneco de neve era construído à sua
volta.
Por
fim, Luan estava preso dentro daquele boneco de neve, sentindo um frio intenso
congelar todo seu corpo. Seus olhos estavam abertos, porém só conseguia ver uma
parede branca diante dos olhos, ele sabia que precisava escapar dali ou
morreria congelado, o ar era frio que entrava pelo orifício nasal do boneco de
neve. Luan sentia seus pulmões congelarem, seu tempo era curto.
Ele
sentia frio, estava tremendo, uma gélida e mortal hipotermia começava a tomar
todo seu corpo.
CAPÍTULO
4
Luan se debatia
compulsivamente, desesperado, até que conseguiu, por fim, fazer seu corpo cair
no chão e se libertar das cordas que prendiam suas mãos. Ele saiu de dentro do
boneco de neve arruinado, precisava ir para sua casa e tomar um banho fervendo
e uma xícara de chocolate quente.
Luan
começou a correr para casa, vendo que a neve estava muito intensa, tudo era
branco à sua volta, uma tempestade de neve caía impiedosa, soprando aquele
vento gélido contra sua face, queimando sua pele.
Foi
então que ao cruzar a esquina de sua casa, lá estava um grande boneco de neve
parado de costas para ele. Luan sentiu ódio pela maldade das crianças em tê-lo
quase matado e decidiu destruir mais este boneco à sua frente.
Mas
quando Luan desferiu um golpe na cabeça do boneco, este se desviou e se virou
para ele, com um olhar zangado na face rechonchuda. Luan engasgou de espanto ao
ver o boneco se mexer enquanto o encarava com aqueles olhos diabólicos que
faiscavam ódio. O boneco de neve estava vivo.
CAPÍTULO
5
O boneco de neve de
cara gorda e branca, estudou Luan com seus olhos alaranjados faiscando, abriu a
boca e disse numa voz cavernosa e fria:
“Espere,
você é humano? O que você faz aqui? Como conseguiu vir para nosso mundo?”
Luan
ficou espantado, chocado demais, sem reação, e de repente, percebeu que
inúmeros bonecos de neve o estavam cercando, surgindo da fria cortina de névoa
espessa, fitando-o com aqueles olhinhos alaranjados e malignos.
Novamente
Luan tentou correr, mas os bonecos eram muitos, e o pegaram, envolvendo-o com
aqueles braços feitos de galhos secos de árvores, então um grande e gordo
boneco de neve veio cambaleando em seu andar estranho e disse para Luan,
fazendo o garoto sentir seu hálito frio:
“Você
é humano e humanos são escravos em nosso mundo de gelo, não sabemos como vocês fazem
para vir parar aqui, mas agora você vai trabalhar para nós!! Vai construir mais
bonecos de neve para popular meu mundo de gelo.“
Pobre
Luan, ele odiava o frio, ele odiava bonecos de neve e agora ali estava ele,
sendo supervisionado por muitos bonecos de neve vivos e malignos que o
obrigavam a construir mais e mais bonecos. Ele sentia suas mãos dormentes, seu
corpo todo tremia de frio, a neve caía sem parar.
Luan
construiu vários bonecos de neve. Mas por fim ele parou, não mais sentia seus
movimentos, seu corpo estava todo dormente. Ele sentia sono, muito sono.
CAPÍTULO
6
Então o maior de todos os bonecos de neve veio, acordou
seus vigilantes que estavam cochilando e jogou no chão vários adornos para
colocar nos bonecos recém construídos e indagou onde estava o jovem intruso?
Mas os guardas não poderiam dizer, pois à frente deles
havia apenas vários bonecos de neve que o menino tinha construído.
“Ele
se mandou enquanto vocês cochilavam, mas não importa, adornem os novos bonecos
que em breve eu os farei viver.” Disse o grande boneco de neve para seus
súditos.
Pobre
Luan, seu corpo havia congelado e a neve que caía fez o trabalho de cobrir todo
seu corpo, transformando-o em um dos vários bonecos de neve.
Ele
acabou se tornando aquilo que ele tanto odiava.
0 Comentários