Escrito
por ALLAN FEAR
CapĂtulo
1
A noite era fria, mas
Justine se contorcia debaixo do edredom, ela sentia um calor, como chamas
ardentes, que lambiam suas pernas nuas.
Justine parecia estar em transe sonambĂşlico,
contorcendo-se enquanto um gemido lhe escapava dos lábios.
A pobre moça balançava a cabeça, agitando seus longos
cabelos pretos que se soltaram do elástico que os prendia. Em sua mente ela via
a face do padre Jacob, seus finos e grisalhos cabelos que tentavam, sem sucesso,
esconder-lhe a calvĂcie e seus olhos por baixo dos Ăłculos de grau, olhos
selvagens que faiscavam um brilho vermelho, diabĂłlico e famintos a fitavam
intensamente.
Ela sentia as mĂŁos quentes do padre tocando porcamente em
seu corpo, ela sentia sua lĂngua rastejar como um verme por seu rosto.
A pesar de todo o horror ela sentia uma guisa de prazer,
o doce e amargo pecado que ansiava por consumi-la.
Justine estava tĂŁo perto de fazer seus votos de castidade
e se tornar uma freira para a alegria de sua querida mĂŁe. Mas ali estava ela,
em um dos quartos de hĂłspede do Convento de Santa Mira, era para que ela
descansasse após um dia de orações e devoção. Mas novamente aquele pesadelo
sujo, emergia dos mais ocultos lugares de seu subconsciente para atormentá-la.
Quando Justine sentiu sua calcinha ser arrancada e algo
quente como fogo tocar em sua vagina, ela ergueu-se de seu leito com um grito
agudo.
Na penumbra de uma quietude lĂşgubre, os olhos de Justine
pousaram em uma sombra que flutuava sobre sombras.
Justine tinha a respiração ofegante, o suor lhe escorria
da face, ela forçou a vista para ver o que era aquilo à sua frente. Talvez
fosse apenas miragens, pedaços onĂricos de seus pesadelos.
Mas para a surpresa de Justine, a sombra começou a ganhar
um contorno tĂŞnue e olhos vermelhos surgiram de suas entranhas, faiscando como
chamas infernais. EntĂŁo a sombra articulou de palavras surdas de um timbre
estranho e descomunal e disse-lhe:
“Há pecado em vocĂŞ noviça, eu pude
sentir o gosto da profanação escorrendo por sua boceta, você anseia por ser
consumida pelas chamas do prazer!”
Aturdida ante as palavras sujas e porcamente
pronunciadas, Justine foi tomada por arrepios intensos e horripilantes e
começou a fazer o sinal da cruz e orar ao altĂssimo para que afugentasse aquele
ser maligno Ă sua frente, que em verdade nĂŁo era fruto de seus pesadelos, mas
sim o prĂłprio diabo manifestado.
CapĂtulo
2
Justine despertou pela
manhã sentindo uma aflição que atormentava seu coração. Ela se lembrava de cada
minucioso pedaço dos maus momentos da noite passada. O diabo havia demorado a
partir, e não foi senão deixando os ecos de suas risadas maléficas retumbando
nas paredes do aposento.
Justine foi para o banheiro, despiu-se e entrou no
chuveiro, deixando que a água morna lhe limpasse, começou a passar a esponja
ensaboada em seu corpo. Era uma mulher de 23 anos, no auge de sua beleza, tinha
belas e sensuais curvas. Quando nova desejava se casar com um prĂncipe
encantado que a levasse embora daquela aldeia onde morava com a mĂŁe, mas devido
a desilusĂŁo com garotos e a insistĂŞncia da mĂŁe que ela entrasse para o
convento, ela decidiu seguir o caminho da castidade.
Um leve gemido escapou dos lábios de Justine quando ela
percebeu que estava demasiado tempo limpando suas partes Ăntimas. Um arrepio
lhe subiu pelas costas até chegar na nuca. Ela parou, respirou fundo e desligou
o chuveiro.
O diabo a havia provocado e ela precisava de forças para
não se deixar cair nas suas tentações. Ainda no banheiro ela fez uma breve
oração, mas então sentiu mãos fortes a pegarem pelos braços e a jogarem na
parede.
-NĂŁo banque a
inocente, vocĂŞ Ă© uma puta! – Ela ouviu a voz sussurrar porcamente em seu
ouvido direito enquanto o corpo do estranho era pressionado contra o dela. –VocĂŞ tem fetiches profanos!!
Reunindo sua coragem Justine se virou e encarou uma
noviça com olhos tomado por um brilho amarelo e um sorriso sujo na face.
CapĂtulo
3
A noviça gritou quando
o Padre Jacob adentrou o banheiro e começou a exorcizá-la, o reverendo usava
uma cruz de prata na mão e era acompanhado de várias irmãs de caridade,
incluindo a madre superiora.
Justine corou quando os olhos do padre fitaram seu corpo
nu. Ela pegou uma toalha e se cobriu.
-NĂŁo há onde se esconder na casa de Deus demĂ´nio! –
Gritou o padre colocando a cruz sobre o peito da possessa que gritava.
-NĂŁo fique aĂ parada irmĂŁ Justine – Gritou a Madre
superiora. –Vá se vestir se nĂŁo quer acabar como essa pobre miserável que
sucumbiu ante as tentações de satã.
***
Logo a noite fria
retornou. Duas irmãs ajudaram Justine a vestir o hábito religioso. Era hora de
fazer os votos, ela podia ouvir os cantos do coro que antecipavam a cerimĂ´nia.
Justine e outras cinco irmĂŁs se preparavam para fazerem
seus votos. A outra mulher, a que havia sido possuĂda nĂŁo estava entre elas, de
certo havia sido excluĂda. O padre Jacob comandava cerimĂ´nia do altar santo.
Justine sabia que tĂŁo logo fizesse os votos o diabo nĂŁo
mais a atormentaria, ela seria uma mulher de deus. Ela acenou timidamente para
sua mĂŁe que estava entre os convidados.
Tudo era tĂŁo lindo, Justine estava pronta, o dia enfim
havia chegado e o diabo não havia conseguido arrastá-la para a perdição.
Justine e as demais moças foram chamadas para subirem no
altar para fazerem os votos. O coração de Justine estava disparado, mas os
olhos cheios de jĂşbilo e alegria de sua mĂŁe a confortavam. A hora havia
chegado.
Mas quando começou a fazer os juramentos, Justine sentiu
ondas de calor subirem por suas pernas. Ela tentou ignorar e continuou seu
discurso.
Em uma olhada de relance, quando se afastou do ambĂŁo onde
repousava o livro santo, Justine viu a fumaça negra como carvão serpenteando
por suas pernas e penetrando em seu ĂłrgĂŁo genital.
-Oh! – Gemeu Justine apavorada quando aquelas sombras
nefastas e sujas invadiram suas entranhas, fazendo-a sentir uma terrĂvel
aflição.
Justine estremeceu quando ouviu a risada satânica em sua
mente e soube que o diabo a havia possuĂdo.
Lágrimas frias começaram a rolar pela face pálida de
Justine a medida que seu coração se enchia de dor e desespero.
CapĂtulo
4
Justine sentiu densas
trevas frias entorpecerem seus sentidos e mergulhou em uma escuridĂŁo suja e
gosmenta como piche.
Justine pegou uma espátula sobre o ambão, cortou a palma
da mĂŁo direita e com seu sangue riscou, com os dedos, sĂmbolos antigos no chĂŁo
da igreja ante o assombro de todos presentes. EntĂŁo ela pronunciou dialetos
antigos tudo a sua volta se estremeceu.
-Ela está possuĂda! – Gritou o Padre Jacob apontando-lhe
um dedo. Mas logo seus olhos cheios de terror se voltaram para as demais
noviças e viu-as se contorcerem e ficarem possessas por forças tenebrosas. Seus olhos foram tomados pelo preto e pelo
vermelho infernal.
O padre tentou iniciar o exorcismo, mas Justine se colocou
em sua frente, desabotoou suas calças e tocou em seu membro.
-Nada disso padre,
Ă© hora de brincarmos com o fogo da perdição. – Sussurrou Justine em seu
ouvido, mas a voz já nĂŁo era a sua, mas sim uma voz sombria e gutural. –Estamos tomando esse convento!!
O padre gritou em protesto, mas Justine lambeu a orelha
dele e em seguida seus lábios se tocaram. Da boca da possessa derramou uma
fumaça preta que penetrou garganta abaixo do padre.
-Deixe-me entrar
padre, eu despertarei seus desejos mais primitivos nesta noite de luxĂşria.
– Falou Justine, seus olhos vermelhos faiscando de desejos e fascĂnio.
CapĂtulo
5
A igreja se tornou um
pandemônio enquanto muitos corriam para se salvar. Mas as noviças possessas
haviam segurado as outras freiras, incluindo a madre superiora e com elas
praticavam atos libidinosos, depositando em suas bocas um pouco daquela fumaça
escura.
-Arrrrgghhhh!!!
– O grito explodiu da boca de Justine ante aquele pandemĂ´nio herege. Os olhos
da possessa foram tomados pelo horror. –Mas
que diabos? Eu nĂŁo posso acreditar, Ă© vocĂŞ maldito?
A fumaça que o padre havia engolido foi expelida por sua
boca como piche fervendo e começou a pingar no chão.
- É chegado o momento! – Sussurrou o padre exibindo um
sorriso frio nos lábios manchados de gosma preta. –Há quanto tempo um grande
ministro e seus conselheiros do inferno nĂŁo se reĂşnem diante de mim. Seu tempo
de diversĂŁo acabou Abbadon!!
CapĂtulo
6
-Quem Ă© este que vĂłs
fazei recuar, mestre Abbadon? – Indagou uma das noviças possessa, que como as
demais, reuniram-se ao redor do padre.
-É o Arcanjo Miguel quem está possuindo o corpo do padre!
– Falou Abbadon pelo corpo de Justine. -Quando expeli minhas trevas para dentro
dele, eu senti sua luz queimar-me.
O padre Jacob ergueu suas mĂŁos e pronunciou dialetos
antigos e ante suas palavras um cĂrculo azul se formou ao redor do altar,
fazendo todo o chão começar a girar e afundar-se terra adentro a medida que
todo o convento se estremecia e vinha a baixo.
As possessas gritavam em total desespero. Os olhos do
padre cintilavam em um azul lĂmpido enquanto seguia com sua terrĂvel providĂŞncia
divina.
-Maldito, estás a manifestar a terrĂvel prisĂŁo da
providência divina, mas com isso estás ciente de que matará as noviças assim
como o padre que estás a possuir? – Indagou Abbadon que possuĂa Justine,
lutando para nĂŁo cair diante do turbilhĂŁo que se aprofundava terra adentro.
–Pior que isso, está ciente de que ficará preso conosco por toda a eternidade
nas entranhas deste maldito planetinha?
-Deus agradece aos mártires por seus sacrifĂcios pela
humanidade, embora apenas seus corpos irĂŁo perecer na prisĂŁo, visto que suas
almas já estĂŁo a caminho do paraĂso. – Falou o padre exibindo um sorriso
ofuscado pela fumaça cinzenta e as faixas de brilho de luz azul que envolvia
todo o altar. –Mas engana-te Abbadon, em pensar que Miguel, o prĂncipe e
regente das milĂcias celestes, estará convosco nesta prisĂŁo, eu sou apenas o
Padre Jacob, a luz que brilha eu meu interior nada mais Ă© do que um pouco da
graça que Miguel me concedeu para realizar este feito!!
-Desgraçado! Isso nĂŁo Ă© possĂvel, fomos enganados...- as
palavras de Abbadon findaram-se quando o turbilhĂŁo parou e a prisĂŁo celestial
se estabeleceu nas entranhas da terra. Um silĂŞncio frio e escuro reinou
soberano a medida que a poeira cinzenta se assentava.
-Vejo que sobreviveu a queda Padre Jacob – Falou Abbadon
no corpo de Justine. –VocĂŞ nos selou nestes corpos, e agora que estamos presos
aqui pela eternidade vamos profanar seu corpo incontáveis vezes e descontar em
vocĂŞ toda nossa ira infernal!
Atrás de Justine as demais noviças possessas se ergueram
com seus olhos brilhantes.
-É tudo o que eu mais desejo. – Disse o padre Jacob
exibindo um sorriso e despindo-se de sua batina rasgada e manchada. –Em vida eu
não pequei senão em pensamentos, tudo o que eu mais desejava além de servir a
Deus era poder me entregar as chamas do pecado e ser consumido pelo desejo. Eu
jamais pensei que pudesse ter ambas as coisas...
Abbadon ficou sem palavras quando Jacob a pegou nos
braços e beijou-a loucamente.
-VocĂŞs humanos... – Balbuciou Abbadon aturdida, incapaz
de esboçar uma reação. –NĂłs sentimos inveja da perspicácia imunda de seres tĂŁo
perversos capazes de enganar anjos e demĂ´nios com tamanha naturalidade.
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