Escrito
por ALLAN FEAR
Laila andava pela rua
deserta. A noite era fria e silenciosa. Ela gostava da noite, amava suas
caminhadas noturnas através do silêncio, em busca de emoção.
Laila estava com os cabelos negros
soltos ao vento, não usava mais que sombra nos olhos e um sensual vestido
escarlate.
No sombrio céu estrelado a lua cheia
brilhava pálida e majestosa. Os olhos verdes de Laila faiscavam quando
encaravam a lua, sua nuca se arrepiava e ela era invadida por lembranças
selvagens.
Laila correu pela rua e escalou um
muro alto com agilidade de uma felina, ela queria contemplar mais de perto toda
a beleza inefável daquele luar.
Ela queria uivar, sentia a
bestialidade dentro dela querer se libertar.
Em noites de lua cheia Laila deixava
seu lar, seu esposo e filho dormindo, e saÃa para a noite esbanjando
sensualidade até que encontrava sua vÃtima, algum tipo estranho cheio de
pensamentos sujos que desejava usá-la como um objeto.
Laila amava bancar a inocente e
entrar em carros de desconhecidos que a conduziam para locais desertos na
calada da noite.
Ela gostava da brutalidade deles, do
odor que exalavam com sua fome por sexo. Tão sujo e ao mesmo tempo tão
delicioso, ela deixava ser abusada, lutando para conter a besta em seu interior
como um orgasmo louco para sair.
Então tudo acontecia, exatamente
como um orgasmo louco, a metamorfose ocorria e em questão de segundos ela se
tornava um lobisomem, uma criatura faminta pelo sabor da noite.
O tipo imundo de tarado que a possuÃa
gritava de horror diante daquele fenômeno assustador, mas já era tarde demais
para ele. Normalmente ela atacava com uma mordida faminta na jugular e sorvia
seu sangue quente e cheio de adrenalina. Outras vezes ela os deixava fugir para
se deliciar com uma caçada humana.
Laila tentou uivar para aquela lua
cheia resplandecente, mas de seus lábios saÃram apenas um lamento triste. A
besta não se manifestou.
Uma lágrima fria rolou pela face
pálida de Laila quando ela desviou o olhar da lua, envergonhada por não poder
se transformar e libertar a fera. Seus olhos então contemplaram os túmulos que
repousavam nas sombras lá embaixo do outro lado do muro.
Laila flutuou graciosamente para
baixo como se uma força irresistÃvel a puxasse para perto das sepulturas frias.
Ao aterrissar diante de um dos
túmulos, uma tristeza amarga fez o espÃrito de Laila estremecer ao ler seu nome
gravado na lápide.
Lembranças amargas inundaram sua
mente. Ela se recordou daquela noite maldita quando topou com um caçador após
devorar sua vÃtima. Laila, em sua forma
de lobisomem, se preparava para correr pelo beco em direção aos bosques antes
do raiar do sol.
Mas
o caçador estava à espreita, era desses tipos cuidadosos que sabem esconder
seus rastros e ocultar sua presença do olfato apurado das feras.
Laila
rosnou quando o homem alto e corpulento saiu das sombras apontando uma arma
para ela. Ela queria rir, afinal armas não a podiam ferir, mas apenas quando
ele atirou e ela sentiu a dor lancinante em seu peito e o cheiro de prata, foi
que ela soube que havia subestimado um caçador ainda mais letal que suas garras
ou presas.
Agora
ali estava Laila, não passava de um fantasma triste cuja consciência adormecida
ainda a fazia sair pela noite em busca de vÃtimas.
Mas a besta-fera havia morrido junto
com seu corpo humano. Ela agora era apenas uma alma penada que, não importando
os caminhos que trilhava, sempre acabava voltando para seu túmulo. Talvez
aquilo fosse apenas uma mensagem do além de que ela deveria se desapegar de sua
vida.
Pobre Laila, ela só queria uivar
para a lua cheia e voltar a ser aquela besta selvagem, afinal a sede por sangue
e a fome por carne humana ainda se faziam vorazes dentro dela, corroendo as
entranhas de sua alma.
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