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O FANTASMA NO MEU QUARTO

 


Escrito por ALLAN FEAR




Capítulo 1

 

Olá! Eu sou Emilly Carmem, uma garota de apenas 13 anos, e jamais pensei que estaria aqui, para lhes contar uma horripilante história de terror.

          Os sinistros acontecimentos que vou lhes contar agora, aconteceram alguns meses atrás em uma casa para onde nos mudamos Igor, meu irmãozinho de 10 anos, meus pais; Poliana e Sílvio e eu.

          A nova casa ficava em uma pacata cidade, chamada Vale Azul, em meio a montanhas e muitas árvores.

          Era uma casa antiga, de apenas um andar, com grandes e espaçosos cômodos.

          Não estava muito feliz por me mudar para um lugar onde não conhecia ninguém. No primeiro dia comecei a sentir saudade dos meus amigos, da escola, do shopping, enfim, de tudo.

          Mas meus pais achavam melhor comprar uma casa mais barata, do que continuar pagando o alto preço do aluguel do apartamento onde morávamos.

          Mudamos nas férias de janeiro e papai falou que iria arrumar um novo colégio para Igor e eu estudarmos. Seria chato estudar em um novo colégio onde não conhecíamos ninguém. Mas isso iria demorar um tempo, pois as férias de janeiro só estavam começando.

          Meu quarto era o mesmo que o de Igor, comigo dormindo na cama próxima a janela, enquanto meu irmão do outro lado.

          A principio não gostava da nova casa, mas me alegrei um pouco quando minha mamãe disse que ali poderíamos criar um cachorrinho. Sempre quis ter um, mas papai nunca deixava. Dizia sempre que apartamento não é lugar de se criar animais de estimação.

         ***

          Certo dia, umas nove horas da noite, depois de jantarmos, Igor foi para nosso quarto, enquanto meus pais continuavam na sala, eu ia pro banheiro escovar os dentes, quando de repente ouvi o grito do meu irmão.

 


 

 

Capítulo 2


 

 

Corri para o quarto, meus pais estavam vendo TV, com o volume um pouco alto, por certo não ouviram o grito assustado de Igor.

          -Igor! O que foi?- Perguntei, fitando-o atentamente para me certificar de que não estaria machucado. –Por que você gritou?

          Ele me olhou assustado. Estava pálido, com as mãos tremendo.

          –Um fantasma.- disse ele num murmúrio. –eu vi um fantasma. Ele me assustou.

          Segurei-o pelos ombros e o sacudi.

          –Fantasmas não existem.- comecei –Por acaso está tentando me assustar?

          -Não.- sussurrou ele, enquanto seus olhos pequenos e escuros me fitavam apavorados. –Eu o vi. Era o fantasma de uma garotinha.- em seguida ele tapou os olhos com as mãos e soltou um grito abafado.

          -Eu a vejo.

          -Pare com essa farsa.

          -É verdade.

          -Não credito.

          -Olhe, ela está atrás de você!

          Virei-me sorrateiramente, e numa fração de segundos, pude contemplar nitidamente uma silhueta de uma garotinha branca, com os longos, anelados e louros cabelos divididos na cabeça por dois grandes prendedores. Ela usava um longo e volumoso vestido branco, onde do lado direito, acima do peito, havia um pequeno buraco, por onde um sangue vermelho brilhante escorria.

          Em seguida ela desapareceu, como num passe de mágica.

          Engoli a seco, incrédula ante a visão assombrosa.

 

 


 

Capítulo 3

 

 

-Boa noite!- murmurei, em seguida apaguei a luz do abajur que encimava uma mesinha entre nossas camas. Igor não respondeu. Talvez já estivesse adormecido.

          Ao contrario dele continuei acordada, sentia-me um pouco apavorada. Estava confusa, poderia jurar que tinha realmente visto aquela garotinha fantasmagórica. Seria nossa casa realmente assombrada? Eu não podia ter certeza, pois a visão não passara de uma fração de segundos.

          Fui uma boba ao me levantar da cama e contar a meus pais sobre isso. Pensei que, se de fato fosse um fantasma e não minha imaginação, pudessem ajudar, mas estava enganada.

          –Ora Emilly, fantasmas? Sejamos honestos. Fantasmas não existem!- Isso foi o que meu pai disse. Já minha mãe:

          -Emilly! Pare com isso, vai assustar o seu irmão. Você já é uma mocinha. Comporte-se como tal.

          Em meio à escuridão que inundava o quarto, eu tentava inutilmente dormir. De olhos fechados ou abertos, nada enxergava além de escuridão.

          De repente me pareceu ver algo branco se movendo no meio do aposento. Abri mais os olhos e novamente não vi nada mais do que escuridão.

          Encolhi-me debaixo do cobertor, tapando a cabeça, tentando ignorar qualquer presença sobrenatural que pudesse se fazer presente ali. Pouco depois adormeci profundamente.

 ***

Acordei no outro dia, às oito da manhã, com os raios solares invadindo o quarto, entrando por entre uma brecha na cortina.

          Espreguicei e me levantei da cama, vi que Igor já havia acordado, pois sua cama estava arrumada.

          Após o café da manhã, saímos para dar uma volta, eu, meus pais e Igor, para conhecermos um pouco da nova cidade.

          Paramos frente a uma velha casa que ficava no final da rua, onde vimos o senhor Augusto Kent, o homem que nos vendeu a nova casa. Papai ficou lá, conversando com ele, enquanto eu, Igor e mamãe fomos até uma pequena praça, que ficava um pouco à frente da casa do senhor Augusto.

          Não era grande coisa. Uma praça boba. Em nosso antigo bairro, tinha uma bela e grande praça, com jardins floridos, fontes e bonitos arbustos muito bem podados.

          Mamãe se afastou um pouco de nós, indo até uma mulher que segurava um bebê no colo. Ambas começaram a conversar.

          Fiquei com Igor, sentada num banco de cimento. Olhávamos ao redor, algumas pequenas árvores, um senhor passeando com seu cachorro, entre outras coisas bobas.

          -Olá!- disse uma voz feminina. Virei-me e pude ver uma garota de cabelos curtos e pretos, mais ou menos do meu tamanho. Ela me olhava com ar de curiosidade.

          –Oi! Você é nova por aqui, não é?- perguntou ela me fitando e com um sorriso alegre estampado no rosto.

          -Sim. Nos mudamos pra cá faz dois dias. Você mora por aqui?

          -Sim.- assentiu ela. –moro naquela casa de portão amarelo.- disse  apontando para uma casa no final de uma subida.

          -E este garotinho? É seu irmão?- perguntou ela se referindo a Igor.

          -Sim. Seu nome é Igor. O meu é Emilly e o seu?- ela sorriu e disse:

           -Lindos nomes. Eu sou Patrícia.

          Ficamos amigas. Conversamos por muito tempo, até mamãe nos chamar para irmos para casa.

 ***

          Começamos a fazer novas amizades, conhecemos naquela mesma tarde, Jéssica, Lúcia, André e Anderson, todos amigos de Patrícia. Muito legais, por sinal.

          Parecia que estava me entrosando com os moradores de Vale Azul, mas naquela noite, ouvi algo atingir a janela do meu quatro. Pensei se tratar de alguém que jogara uma pedra para chamar nossa atenção. Mas quando abri a janela nada avistei além da grama verde e bem aparada, que brilhava ao ser iluminada pela grande lua cheia no céu.

          Mas uma sensação estranha me incomodava. Poderia jurar que estava sentindo uma presença sobrenatural ao meu lado à medida que os pelos de minha nuca ficavam arrepiados.

 

 



Capítulo 4


 

No outro dia eu estava a explorar os arredores da casa da casa quando avistei uma entrada para um porão.

          Examinei e vi que a porta não estava trancada. Abri a porta de madeira e avistei uma escada que levava a seu interior, totalmente submerso na escuridão.

          -O que está fazendo aí?- perguntou Igor bisbilhotando.

          –Acabo de achar esta entrada para um porão.- disse a ele.

          –Que legal. Temos um porão.- disse Igor, como se fosse grande coisa ter um porão. –Vamos descer pra ver o que tem lá em baixo.

          -O que pode ter senão ratos, baratas, aranhas e tralhas velhas?- disse desanimada.

          -Vamos descer. Por favor!- implorou ele, bastante curioso por esta pequena aventura.

          -Está bem.- concordei. Igor quando queria fazer alguma coisa, era bastante persistente. Era melhor concordar, senão ele ficaria insistindo até eu perder a paciência.

          Começamos a descer cuidadosamente as escadas empoeiradas, que rangiam a cada passo que dávamos.

          -Ai!- gritei, assustando-me ao bater a cabeça em algo que estava pendurado no ar.

          -O que foi?- perguntou Igor, que estava à minha frente.

          –Bati a cabeça em algo.

          Examinei em que eu havia batido e vi que era uma lâmpada, que estava pendurada a um fio. Então a rodei e ela acendeu. Fechamos os olhos por causa da forte claridade e os abrimos aos poucos até nos acostumarmos.

          O porão estava empoeirado, com várias teias de aranhas nos cantos das paredes, em cima de alguns móveis velhos e sacolas pretas.

          –Será que tem brinquedos nestas sacolas?- perguntou Igor esperançoso, terminando de descer as escadas.

          -Duvido que tenha algum brinquedo nestas sacolas. Cuidado com algum insetos. Deve haver muitos deles por aqui.- disse, mas ele me ignorou, enquanto fuçava algumas sacolas.

          -Aqui está ficando um forno! Vamos embora!- reclamei enquanto subia as escadas. –Se não vir agora vou deixar você preso aí.

          Naquela noite não conseguia dormir direito, inquietava-me na cama, me debruçando de um lado para o outro, até que por fim me levantei e resolvi ir até a cozinha para tomar água.

          De repente, enquanto entornava água da jarra em um copo, vi um vulto branco passar no corredor, indo em direção ao meu quarto. Deixei o copo e a jarra sobre a mesa e corri em direção ao quarto.

          Entrando no meu quarto, vi Igor sentado na cama, com o lençol lhe cobrindo todo o corpo. Percebi que ele estava tremendo bastante. O que teria o assustado daquela maneira?

          -Igor? O que aconteceu?- perguntei, sentando ao seu lado. Coloquei a mão sobre a coberta que lhe cobria o corpo e a puxei de uma só vez.

          Meus olhos simultaneamente se arregalaram, fiquei boquiaberta, trêmula, com meu corpo se arrepiando da cabeça aos pés, enquanto paralisava pelo terror, fitava o fantasma daquela garotinha que estava debaixo da coberta.

 


 

Capítulo 5

 

 

Um grito de pânico, rouco e baixo, saiu estrondoso por minha garganta.

          Atirei-me para trás, vendo aquela criatura horripilante, com uma pele totalmente clara, o rosto magro, olheiras cadavéricas, o vestido branco ainda manchado de sangue com um buraco.

          Ela não se movia, apenas me fitava medonhamente.

          Eu estava cambaleando pelo aposento, minhas pernas pareciam feitas de borracha, tinha de lutar para ficar de pé.

          Então de repente vi algo se mover debaixo da cama, lutando para sair.

 ***

          -Você realmente a viu ontem à noite?- perguntei a Igor, sentados à mesa, tomando chocolate quente com biscoitos de leite.

          –Sim.- murmurou Igor, enquanto mastigava um biscoito.

          –E por que não foi me avisar ao invés de se esconder debaixo da cama?- perguntei, depois dei uma rápida golada no achocolatado, que desceu queimando por minha garganta. –Faltou pouco para eu ter um treco.

          –Eu fiquei com muito medo. –murmurou meu irmão, num tom de voz choroso. -Tentei gritar, mas minha voz não saiu.

          -Não consegui dormir direito. Pensei que ela pudesse voltar a aparecer a qualquer momento.- disse num murmúrio, enquanto meu corpo se arrepiava apenas com a lembrança dos momentos de horror da noite passada.

          Após terminarmos nossas refeições, fomos, Igor e eu, à casa de nossa nova amiga, Patrícia.

          Ficamos lá brincando de adivinhações durante um bom tempo. Tentava me distrair. Mas resolvi contar a Patrícia sobre o fantasma da garotinha que nos assombrava durante a noite. Ela ficou curiosa. Quis ir até nossa casa para conferir isso.

          Quando chegamos em casa, nossos pais estavam de saída.

          –Vamos até a cidade onde morávamos resolver alguns negócios. Não vamos demorar muito.- disse papai, enquanto dava ré no carro, tirando-o da garagem.

          –Comportem-se. Sem mais gritos e histórias de fantasma- começou mamãe. –E vê se cuida bem do teu irmão, está bem Emilly? Sorri nervosamente para ela, que estava à janela do carro e acenei positivamente com a cabeça.

          –Pode deixar que eu ajudo Emilly a cuidar do Igor, dona Poliana.- disse Patrícia, puxando minha mão para que entrássemos na casa.

          Igor ficou sentado no sofá da sala e começou a assistir TV. Enquanto nós duas fomos para o meu quarto.

          –Eu queria ver como é um fantasma.- disse Patrícia, enquanto percorria os olhos por todos os cantos do quarto. -Este quarto não é só seu?- perguntou-me ela olhando as duas camas.

          –Não. Meu irmão tem medo de dormir sozinho, portanto este quarto é de nós dois...- Concluí.

          –E qual é a sua cama?- perguntou ela.

          –Esta do lado da janela.- disse enquanto me sentava ao seu lado na cama.

          –O que tem naquela sacola preta?- perguntou ela, apontando para uma sacola que estava debaixo da cama de Igor.

          –Não sei. Ainda não tinha reparado esta sacola. Talvez seja uma das que Igor achou no porão.- conclui, vendo-a se levantar e examinar o que tinha na sacola.

          –Então vocês têm um porão, hein?- disse ela retirando algo de dentro da sacola.

          –O que é isso?- perguntei curiosa.

          –Não sei. Parece um álbum de fotografias.- disse ela examinando-o.

          –Legal. Também quero ver- disse indo me sentar na outra cama, ao seu lado.

          Começamos a folhear o álbum, onde tinha várias fotos de pessoas. A julgar plo colorido sépia e o papel envelhecido diria que eram fotos antigas.

          -Oh! Meu Deus!- gritei apavorada, enquanto olhava para uma das fotos no álbum. –É essa garotinha! É o fantasma que tem nos assombrado!

 



Capítulo 6


 

-Vamos! Apressem os passos.- gritei para Patrícia e Igor que me acompanhavam em passos lentos.

          –Calma Emilly. A casa do senhor Augusto está perto.- murmurou Igor, enquanto me seguia, ao lado de Patrícia.

          Estávamos indo até a casa do senhor Augusto, aquele que nos vendera a nova casa. Havia algo estranho naquela residência, que tinha a ver com um fantasma e coincidência ou não, estava naquele álbum de fotos que Igor achara no porão. Talvez o senhor Augusto pudesse nos ajudar de alguma forma.

          -Olá, meus jovens.- saudou-nos o senhor Augusto parado na porta de sua casa, fumando um cachimbo. –Em que posso ajudá-los?

          -Eu sou Emilly. Lembra-se de mim?- perguntei me aproximando dele.

          –Oh! Mas é claro. Seu pai comprou a casa que estava vendendo. O que desejam?

          Antes de falar o que queria, tossi por causa da fumaça do cachimbo.

          –Oh! Desculpem-me- disse ele, em seguida apagou o cachimbo. –Sentem-se.- disse para nós.

          Sentamos e mostre-o o álbum de fotografias e disse:

          -Meu irmão achou este álbum de fotos no porão. Quem são estas pessoas?

          Ele pegou o álbum e o examinou cuidadosamente. Sua expressão mudou. Como se aquelas fotos lhe recordassem coisas tristes.

          –Esta era minha família.- murmurou finalmente.

          Levantei-me e fui até ele, ficando de pé ao seu lado.

          –Então por que este álbum estava no nosso porão?- perguntou Igor curioso.

          –Moramos naquela casa durante muito tempo.- respondeu ele com uma expressão triste.

          –Espere! Quem é esta garotinha?- perguntei impacientemente. Houve uma pausa. O silêncio se abateu sobre aquele homem cujo tempo lhe roubara toda a força e o vigor.

          -E então, não vai nos dizer quem é a garotinha?- insistiu Patrícia se aproximando de nós.

          Ele suspirou e disse finalmente:

          -Esta era minha filha, Bárbara. Tinha apenas 6 anos.

          -O que aconteceu com ela?- interrompi.

          –Ela desapareceu misteriosamente. Procuramos por ela intensamente, mas nada achamos. Desde então desgraças terríveis começaram a acontecer com minha família. Primeiro nosso filho Beto, de 16 anos se suicidou. Minha mulher Laura, começou a enlouquecer e acabou tendo de ser internada numa clínica para recuperações. Mas a depressão e a tristeza levaram-na à morte.- ele calou-se por alguns minutos, enquanto limpava, com um lenço de malha, as lágrimas que lhe escorriam pela face envelhecida.

          -Então é isso!- gritei. –O fantasma que nos assombra naquela casa é o da sua filha!

 


 

Capítulo 7

 

 

Enquanto jantávamos um belo prato de macarrão com molho de tomate, batatas fritas e uma grande fatia de bife, percebia o quanto Igor estava tenso, mal havia tocado na comida.

          -Estou sem fome.- disse ele com a voz fraca e sonolenta. –Vou dormir.

Papai o olhou e disse:

          -É isso que dá ficar comendo esse monte de besteiras. Na hora da janta, fica sem fome.

          A comida estava ótima. Devorei todo o meu prato, depois fui escovar os dentes.

          Já debaixo das cobertas, com um livro de mistério na mão, eu estava  pensativa. Sequer conseguia me concentrar na história, as letras pareciam dançar na frente dos meus olhos.

          -Emilly. Apague o abajur. Não consigo dormir com essa luz.- murmurou Igor, meio sonolento, enquanto enfiava sua cabeça debaixo das cobertas.

          Quando me ergui para apagar o abajur, vi em cima da mesinha ao lado da cama, a pavorosa figura daquela garotinha, cujos olhos agora brilhavam. Um brilho avermelhado e perverso.

          O medo novamente me paralisava ante a visão assombrada, e aos poucos minha visão ficou turva e escureceu. Só escutei o barulho de meu corpo cair pesadamente sobre a cama.

 

 


 

Capítulo 8

 

 

Despertei daquele estranho desmaio. Olhei para o lado e não vi Igor. Certamente já estará acordado.

          Então percebi que nossos móveis estavam diferentes. A mesinha com o abajur não estava entre as duas camas, no seu lugar estava uma estante de mármore, com vários brinquedos.

          Outra coisa diferente era um espelho numa das paredes do quaro. Um espelho grande, com suas bordas douradas, abaixo dele havia uma penteadeira.

Algo estava errado.

          De repente dois garotos entraram no quarto. Pareciam ter 17 ou 20 anos. Não eram os novos vizinhos que conhecemos.

          Eles carregavam uma caixa e estavam excitados para abri-la.

          Eu estava no meio do quarto, fitando-os surpresa. Mas eles pareciam não me notar. Talvez estivessem muito distraídos para isso.

          Fiquei em silêncio. Só observando-os. Eles sentaram na cama ao lado da janela, abriram a caixa e retiraram um revólver.

          Seria uma arma de brinquedo? Mas parecia real! e por que eles me ignoravam?

          Eles manejavam a arma, apontando-a um para o outro. Então eles a apontaram em minha direção.

          Fiquei paralisada pelo medo. Quem eram aqueles garotos? Por que me apontavam aquela arma?

          Então um deles puxou o gatilho, atirando contra mim.

 

 


 

Capítulo 9

 

 

 

Os garotos, sentados na cama, estavam apavorados, me fitando com total horror.

Mas eu estava de pé. Sem nenhum ferimento. À bala simplesmente não me atingira.

          -Vocês estão loucos?- perguntei furiosa. –Poderiam ter me acertado.

          Mas eles pareciam não me ouvir. Ambos se levantaram da cama, trêmulos, com os olhos arregalados, boquiabertos, vindo lentamente em minha direção.

          Inexplicavelmente, eles simplesmente passaram por mim, como se eu fosse um fantasma.

          Teria eu morrido com aquele tiro? Seria eu um fantasma?

          Os pensamentos apavorantes me inundavam a mente naquele momento.

          -Beto! Você matou sua irmã!- afirmou um dos garotos apavorados.

          Virei-me e pude contemplar uma cena apavorante: os dois garotos estavam abaixados, olhando para o corpo de uma garotinha caída no chão.

          Olhei bem e vi que era a mesma garotinha que nos assombrava. Não tinha dúvidas. Era ela, tal como a víamos; com os cabelos separados e presos, o mesmo vestido branco, com um buraco acima do peito e com muito sangue escorrendo.

          -O que vamos fazer, Beto?- perguntou um dos garotos.

          -Se descobrirem que fizemos isso, nos mandam pra um reformatório.- disse Beto.

          -Então o que vamos fazer?- insistiu o outro.

          -Flávio.- disse Beto o fitando nos olhos. –Temos de esconder este corpo, logo meus pais estarão aqui.

          -O que vai dizer a eles quando notarem que sua irmã Bárbara não está mais aqui?- perguntou Flávio.

          -Contamos que ela fugiu de casa. Mas agora me ajude a levar o corpo até aquele espelho.- disse Beto com firmeza na voz.

          -Pra perto do espelho? Mas pra quê?- perguntou Flávio curioso, enquanto ajudava o amigo a erguer o corpo da garotinha.

          Beto arredou a penteadeira e retirou o espelho, observou bem a parede e disse:

          -Aqui tinha uma lareira há alguns anos, mas meu pai a tampou, para que se assemelhasse ao resto da parede do quarto.- em seguida bateu nela com uma das mãos. –Vê como é oca?

          -E o que você propõe?- perguntou Flávio, enquanto esfregava as mãos uma contra a outra, nervosamente.

          -Há uma saliência por trás destes tijolos, poderemos retirá-los facilmente usando alguma estaca, colocamos o corpo de Bárbara e depois recolocamos novamente os tijolos, do mesmo modo. Arranjamos cimento, cal, areia e cobrimos novamente este pedaço da parede, depois a tampamos com o espelho e a penteadeira. Ninguém vai desconfiar de nada.

          Fiquei horrorizada com as palavras ouvidas, enquanto os dois garotos executavam o emparedamento de Bárbara.

Eu, ali presente, era como um fantasma invisível. Não me viam nem ouviam.

          Algum tempo depois, tudo estava perfeito. O corpo de Bárbara havia sido emparedado com sucesso.

 


Capítulo 10

 

 

No outro dia acordei em minha casa. Tudo estava no lugar. Eu me sentia um pouco cansada, com minha cabeça doendo um pouco.

          Quando tomava o café da manhã, comecei a me lembrar daquele sonho, que mais pareceu uma visão do passado. Talvez realmente fosse isso mesmo.

          -Oh!! Meu Deus!- gritei horrorizada a medida que todo o sonho lúcido fazia sentido. –Eu sei o que aconteceu com Bárbara!

          Ainda confusa, me recordando de cada detalhe daquela visão assombrosa, eu saí de minha casa, correndo em direção à residência do senhor Augusto.

          -Espere, Emilly! Espere, Emilly!- gritava Igor, enquanto corria atrás de mim.

          Meu coração batia acelerado dentro do peito, minha respiração ficava cada vez mais ofegante. Muito suor me escorria pela face enquanto um vento gélido e intenso soprava contra mim.

          No céu, nuvens cinzentas e opressoras tampavam por completo o céu azul.

Alguns raios desciam sobre a terra, com seus trovões ecoando ruidosamente em meus ouvidos.

          -Senhor Augusto! Senhor Augusto!- gritei enquanto batia fortemente em sua porta.

          -Emilly, por que disse que sabe o que aconteceu com a filha do senhor Augusto?- perguntou Igor, com a voz ofegante, parando um pouco atrás de mim.

Não respondi, enquanto ouvi alguém vir atender a porta.

          -Emilly!? O que você deseja?- perguntou Augusto, me olhando com surpresa.

          -Eu descobri o que aconteceu com sua filha!- disse rapidamente.

          -Já te disse pra não fazer gracinhas quanto a isso, não foi? Agora volte para sua casa.- disse ele bravamente.

          -Mas... não estou brincando. É sério. Eu posso provar.- gritei, puxando-o pela mão, na tentativa de arrastá-lo para minha casa.

         ***

          -É realmente muito estranho...- começou o senhor Augusto, enquanto entrávamos em minha casa. –As coisas que você me disse fazem sentido. Há de fato uma parede oca, onde antes havia uma lareira. Eu me lembro, algum tempo depois de Bárbara ter desaparecido, que faltava uma bala em meu revólver. Mas com todos aqueles acontecimentos, isso acabou passando despercebido. Mas queira Deus, que estas suas visões sobrenaturais estejam enganadas.

          Com meus pais, Igor, eu e o senhor Augusto retirando os tijolos da parede de meu quarto, realmente queria que estivesse errada.

          -Oh! Mas é...- gaguejou o senhor Augusto apavorado.

          -O que foi senhor Augusto? O que encontrou?- perguntou mamãe aflita.

          -Diga-nos, homem. O que há de fato aí dentro?- insistiu papai.

          Igor e eu permanecíamos atentos, só observando com extrema atenção.

          Então vimos o senhor Augusto retirar de dentro da parede um corpo. Era o corpo de uma garota, que usava um vestido brando. Era o corpo de Bárbara. Naquele momento um cheiro pútrido, que jamais havia sentido, nos invadiu. Tivemos de tampar nossos narizes.

          O corpo esquelético tinha uma perfuração, onde repousava uma bala de revólver.

          Ficamos em silêncio. Chocados com o terrível destino de Bárbara Kent.

          Enfim o mistério daquela garotinha havia sido solucionado.

 ***

          Bárbara foi enterrada no cemitério da cidade ainda naquele dia. A parede do quarto foi rebocada novamente, ficando da mesma forma que era antes.

Naquela noite, em que lá fora a chuva caía fortemente, não mais vimos o fantasma de Bárbara. Podíamos dormir tranquilamente de novo.

 ***

          No outro dia quando acordava, vi Igor de pé, entre as duas camas. Ele estava com uma expressão pálida.

          -O que foi, Igor?- perguntei. –Parece que você viu um fantasma.

          Ele não respondeu, apenas apontou com um dedo para sua cama.

Olhei na direção apontada e não vi nada.

          Mas então para meu horror, vi o fantasma de Bárbara sair debaixo da cama e flutuar em nossa direção.

          -Vocês são meus novos amigos!- sussurrou o fantasma em uma voz fina, de timbre muito estranho. –Agora é a vez de vocês se esconderem e eu procurar!





 



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