Escrito por ALLAN FEAR
CAPÍTULO 1
Lucas era um jovem de 12 anos. Ele estava contente por passar uma temporada de férias na casa de seus avós. Sua avó preparava deliciosas tortas de maçã enquanto que o seu avô lhe fazia incríveis bonecos esculpidos em madeira.
Era uma tarde quente e úmida de verão. Após devorar uma torta de maçã com calda de chocolate, Lucas estava descansando na velha rede na varanda da residência. Ele balançava de um lado para o outro.
Lucas estava feliz por ficar longe dos pais. Longe da escola. Longe da neve. Ele era um rapaz rechonchudo, de cabelos loiros e anelados. Usava óculos com armação de plástico e tinha um rosto bolachudo, seus amigos na escola o chamavam de cara de lua cheia ou rolha de poço.
Mas ele não se importava com os apelidos, o que ele mais odiava eram seus pais o obrigando a caminhar, a fazer dieta. Sempre usavam Thales, seu irmão mais velho, como exemplo de saúde. Mas Lucas não se importava com seu peso, ele gostava de comer, se empanturrar e depois deitar enquanto a comida fazia digestão para recomeçar logo em seguida. Seu som favorito era o de seus dentes mastigando comida.
Seus avós o adoravam como ele era, estavam sempre a apertar suas bochechas carnudas e alimentá-lo.
Ele estava sozinho naquela tarde, os avós haviam saído para comprar comida. Iriam preparar bolos e salgadinhos para ele naquela noite.
-Ahhhh!- Lucas deu um grito a plenos pulmões quando uma criatura comeu o dedo de seu pé que pendia do lado de fora da rede.
CAPÍTULO 2
Assustado Lucas levantou e viu o Sr. Apolônio ronronar depois do salto que dera para abocanhar seu dedo.
Ele repreendeu o felino, dando-lhe um tapa, mas este desviou descendo as escadas da varanda e soltando um miado.
O Sr. Apolônio era o gato gordo dos avós, de pelo todo preto. Como todos os filhos já haviam se casado e nenhum morava mais com eles, tinham apenas o gato como bicho de estimação.
Lucas não gostava muito dele pois era endiabrado. Certo dia Lucas acordou assustado com ele sobre seu peito, roçando-lhe as unhas afiadas, como um exercício matinal.
Lucas estava com sede, queria beber um pouco de Coca-cola, assim ajudava a sentir mais fome para devorar o resto de torta que sobrara.
Ele fez força para se levantar da rede, com sua enorme e saliente barriga pesando uma tonelada, quando viu com horror o parafuso se soltar da parede.
Sem que ele nada pudesse fazer, caiu pesadamente com um estrondo e ouviu um agonizante gemido de dor.
Quando se recompôs se deu conta que caiu justamente no momento em que o Sr. Apolônio passava debaixo da rede.
Lucas perdeu a cor do rosto quando retirou a rede e viu o gato esmagado, o pescoço dobrado em um ângulo impossível.
CAPÍTULO 3
Lucas ficou desesperado. E agora? Como iria contar para os avós que havia esmagado o gato que tanto gostavam?
Lucas tinha que fazer alguma coisa.
Desesperado ele recolheu o corpo sem vida do Sr. Apolônio e o escondeu num antigo forno a lenha nos fundos da casa.
Pegou sua carteira e saiu apressado. Lembrava que havia um Pet Shop no final da rua. Tinha que achar outro gato parecido lá, talvez pudesse comprá-lo e substituir o Sr. Apolônio. Poderia dar certo, afinal gatos são todos iguais.
***
A respiração de Lucas ficava ruidosa a medida que andava com sua enorme barriga saliente balançando deum lado para outro a sua frente.
Achou a loja na esquina, mas estava fechada. Lembrou-se que era sábado, tudo fechava mais cedo naquela pequena cidade.
Mas ele não poderia voltar para casa. Logo os avós sentiriam falta do gato. Se descobrissem que ele o matou por estar tão obeso com certeza nunca mais o iriam aceitá-lo para passar as férias lá. Sua vida estaria arruinada.
Lucas estava andando a esmo pelo bairro quando viu um gato preto entrar numa pequena lojinha de quinquilharias.
Ele se alegrou, aquele gato poderia servir.
Lucas entrou na loja a procura do gato, cumprimentou o dono que estava no caixa e começou a andar pelos corredores apertados, ladeados por prateleiras lotadas de brinquedos e revistas. Lembrou-se que certa vez estivera ali e comprou alguns gibis.
Lucas achou o gato num canto, bebendo água numa tigela de plástico.
O felino ergueu a cabeça e sibilou para ele. Então percebeu com desapontamento, que o felino tinha grandes manchas brancas na cara e orelhas.
Não serviria, o Sr. Apolônio tinha o pelo todo negro, só se ele o pintasse... péssima ideia. Gato nenhum o deixaria ser tingido.
Desapontado ele se virou e viu algumas latas numa prateleira que chamou sua atenção. Eram coloridas, do tamanho de latas de refrigerante, com desenho de animais. Ele pegou uma que tinha a figura de uma cobra e leu o rótulo: Como ressuscitar sua cobra.
Ele achou bizarro. Por que alguém iria querer reviver uma cobra?
Mas então ele viu uma lata com desenho de um gato com o rótulo dizendo: como ressuscitar seu gato.
Não era possível. Ali estava a solução para seu problema. Não sabia como, mas se esta coisa funcionasse mesmo, poderia ressuscitar o Sr. Apolônio e comer o delicioso bolo a noite sem nenhum problema.
Afinal o que teria a perder?
CAPÍTULO 4
Lucas voltava para casa quase correndo, se a barriga enorme não o atrasasse é claro. Ele ia lendo e relendo as instruções no rótulo em letras miúdas que diziam:
“Ressuscite o seu gato antes que ele apodreça. Esta é uma fórmula incrível desenvolvida para trazer o animal de volta a vida. Basta colocar esta incrível substância num copo juntamente com saliva e pelo do seu gato, misturar bem e...”
Não dava para ler o restante, o papel estava borrado. Como não havia outra formula daquela e todas tinham grande parte da embalagem danificada, certamente por ser muito antiga, Lucas se deu conta que deveria improvisar.
Provavelmente após feita a mistura deveria apenas jogar goela abaixo do animal e esperar que ele ressuscitasse. De alguma forma maluca alguém criou aquilo e valia a pena testar.
Lucas chegou em casa arfando como um buldogue cansado, se certificou de que os avós ainda não haviam chegado e foi para os fundos da casa preparar a substância.
Mas sua garganta estava seca, como se a boca estivesse entupida de algodão. Deixou a sustância para ressuscitar gato no chão e correu para a cozinha.
Voltou em seguida com dois copos de plástico azul. Um estava vazio e outro cheio de Coca-cola.
Entre uma golada e outra ele despejou o liquido espesso no copo e viu que ele tinha um cheiro podre, como vômito estragado. Sua cor era esverdeada e borbulhante.
Passou por sua cabeça que talvez o dono da loja estava apenas a enlatar seus vômitos e vende-los para pessoas loucas que achassem que poderiam ressuscitar o gato ou a cobra com ele.
Lucas retirou o gato do forno de pedra e esfregou a boca dele na beira do copo para cair sua saliva. Um líquido espesso desceu até encher 2 dedos do copo. Ele arrancou alguns fiapos de pelo do animal e jogou junto à mistura. Mexeu bem com uma colher, tapando o nariz para não sentir aquele cheiro de podridão que era 10 mil vezes pior que o hálito de sua professora de biologia.
Após misturar ele deu uma longa golada na coca cola que desceu congelando suas amídalas e segurou o cadáver do gato, pegou o outro copo e foi despejando aquele líquido nojento e viscoso goela abaixo do animal quando ouviu o barulho de passos e uma voz chamar seu nome. Eram seus avós.
CAPÍTULO 5
No assombro, Lucas se virou, ainda agachado, escondendo gato às suas costas.
-Por acaso está a fazer o que eu estou pensando?- indagou o avô exibindo um sorriso maroto. –Não seria melhor ir ao banheiro?
-Ãh!?- Lucas sentiu o rosto corar. –Não, eu...- ele tentava pensar –só estava tomando um copo de Coca-cola e procurava uma bolinha de gude que caiu.
Lucas levantou o copo para mostrar para os avós.
-Deixa isso aí e venha nos ajudar a desempacotar as mercadorias- falou a avô dando-lhe as costas. –Sr. Apolônio, venha bichano trouxe sua ração favorita.
Lucas rezava silenciosamente para que o avô não visse o cadáver do gato atrás dele. O velho o fitava desconfiado, coçando a barbicha rala que pendia de seu queixo.
Mas então o avô se virou e foi para a cozinha.
Aliviado Lucas suspirou e deu uma longa tragada no copo de coca cola em sua mão.
-Argh!- gemeu Lucas ao perceber o erro que cometeu, sentindo aquele líquido nojento de gosto azedo descer por sua garganta.
CAPÍTULO 6
Desesperado ele pegou o copo de Coca-cola e bebeu por cima para aliviar a terrível gastura de pelos espetando sua garganta.
Mas ele sabia que precisava vomitar aquele troço. Poderia lhe fazer muito mal. Já podia sentir seu estômago revirar e uma queimação terrível começar.
Apressado, Lucas escondeu o gato dentro do forno de pedra e correu para o banheiro, o líquido caiu em seu estômago, revirando-o e provocando uma dor terrível.
Esperava que funcionasse logo. Que dentro em pouco o Sr. Apolônio pudesse estar andando pela casa novamente, ressuscitado.
Mas antes de chegar no banheiro Lucas sentiu a dor lancinante na barriga aumentar, seu corpo começou a tremer e entrou em convulsão.
Sua boca começou a espumar e os olhos começaram a girar loucamente nas órbitas. A estranha gosma borbulhava em sua barriga, que crescia, inchando ainda mais sua pança.
Então o pobre menino caiu pesadamente sobre o assoalho e tudo ficou escuro. Escuro e silencioso enquanto ele se debatia em espasmos frenéticos com os olhos dançando loucamente nas órbitas.
CAPÍTULO 7
A avó preparava a massa do bolo quando avistou o Sr. Apolônio entrar na cozinha.
A idosa se abaixou e o pegou o felino nos braços, acariciando seu pelo negro e macio. Ele soltou um miado triste e choroso.
O avô chamou por Lucas quando terminaram de fazer um grande e delicioso bolo de chocolate e diversos salgadinhos. Mas o garoto não respondeu.
Os avós ficaram preocupados quando não viram nenhum sinal do menino e saíram casa à dentro para procurar o neto, quando se depararam com as roupas de Lucas caídas no assoalho, próxima ao banheiro. Chinelo, shorts e camisa estavam jogados no chão, embebidos em vômito e em uma substancia estranha.
-Essas crianças de hoje- murmurou a avó –Jogam as roupas em qualquer lugar. – ela já ia se abaixar para recolher as roupas quando o velho a impediu.
-Espere velha. O que é isso?- indagou o avô curioso, se abaixando para examinar uma massa estranha, de um tom rosa muito claro, que cobria as roupas. –Parece pele humana... será que?
-Não seja tolo velho- disse a avó, recolhendo as roupas. –Crianças não mudam de pele como cobras. Lucas, seu bolo está pronto, onde você está?
Não houve resposta. Apenas o gato que miava tristemente, se aproximando do casal de velhos, como se quisesse lhes dizer algo. Seus miados eram agudos como um lamento profundo e triste.
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