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CRIATURAS DA NOITE

 


Escrito por ALAN FEAR

 

Para conhecer os livros indicados na postagem, 

clique na capa dele. Boa leitura e Bons Pesadelos!

 


CAPÍTULO 1

 

Enquanto o ônibus do acampamento percorria a estrada deserta, eu olhava perdidamente para as colinas, sob um céu coberto por nuvens cinzentas e meio amarronzadas.

          Pedras pretas amontoadas acompanhavam a estrada formando uma pequena muralha. Já fazia três horas que não passávamos por qualquer sinal de habitação.

          Viajávamos num ônibus antigo com banco de plástico duro e, cada vez que o veículo passava em um buraco, eles chacoalhavam nos tirando do lugar.     Era desconfortável, mas a viagem era divertida de certa forma.

          Éramos vinte e três jovens sendo treze rapazes e dez garotas. Todos íamos para o mesmo acampamento, tínhamos sido informados que a viagem era longa, quase nove horas até o destino.

          Eu estava sentado na última fileira de bancos no final do ônibus ao lado da janela.

          Ao meu lado iam dois rapazes; Cláudio de 15 anos, pele clara, cabelos pretos, curtos e ralos e olhos azuis pequenos, e Lúcio, de 17 anos, pele morena, cabelos pretos, curtos, encaracolados, olhos castanhos e grandes.

          Sentadas em dois bancos à minha frente, estavam duas garotas: do lado da janela estava Jaqueline de 16 anos, pele clara, cabelos pretos, longos e lisos, e ao seu lado, estava Luciana de 14 anos, pele morena clara, cabelo ruivo, longo e liso. Nós cinco nos conhecemos durante a viagem e íamos conversando, estávamos muito ansiosos, pois era nossa primeira vez viajando para um acampamento.

          - Será que vai ser divertido passar quatro semanas num acampamento? – Perguntei.

          -Sim, claro, Henrique.- Respondeu-me Jaqueline com um belo sorriso estampado no rosto.

          - Estou muito feliz de estar indo acampar!- disse Luciano sorridente.

          - Eu também. - concordou Cláudio.

          - Sinto um friozinho na espinha só de pensar nesse acampamento.- disse.

          - Não está com medo, está?- Perguntou-me Luciana sarcasticamente.

          - Não. Claro que não!- só estou um pouco nervoso. Vocês não estão?- Perguntei encarando-os.

          - Confesso que sim.- respondeu Jaqueline, cruzando os braços.

          - Eu não. Estou só ansioso.- Disse Luciano.

          -Estou animada.- Respondeu Luciana. –sempre quis ir a um acampamento de verão.

          - Estou um pouco nervoso, eu acho.- Disse Cláudio forçando um sorriso.

          Além dos 23 jovens no ônibus, só havia mais duas pessoas: O motorista, um homem de uns trinta ou quarenta anos, pele avermelhada, pouco cabelo em volta da cabeça que lhe contornava a careca, e olhos verdes, submersos em um óculos de grau.

          A segunda pessoa no veículo, era nosso monitor, Geraldo, de uns vinte e cinco anos, forte, pele morena, cabelos pretos e curtos, que estava debaixo de um boné verde, usava óculos escuros e em sua camisa branca tinha uma estampa com o nome do acampamento: “Noite ao Luar”, escrito de verde claro.

          Já era cinco horas da tarde e ainda faltavam seis horas para chegar ao acampamento, uma vez que saímos em viagem duas horas desta tarde.

          Subitamente ouvimos dois fortes estouros estrondosos, um seguido do outro e o ônibus inclinou perigosamente para tombar.

 


CAPÍTULO 2

 

 Sem aviso, com os pneus derrapando ruidosamente sobre o asfalto, inclinamos para a nossa direita, balançando fora de controle. Ouvia os coros de gritos das crianças presas em seus cintos de segurança.

          Então o ônibus parou abruptamente.

          Com o inesperado impacto, todos ainda gritaram, como eu, desequilibraram-se e bateram com o peito no banco da frente. Os outros conseguiram se segurar nos assentos da frente a tempo.

          – Ai! Essa doeu mesmo! – exclamei juntamente com outras pessoas.

          Enquanto voltava a me sentar direito, com o coração batendo em disparada dentro do peito, o motorista abriu a porta e juntamente com nosso monitor Geraldo, desceram do ônibus.

          - O que será que aconteceu?- Perguntei enquanto olhava pela janela, pouco depois Geraldo entrou e pediu que ficássemos quietos.

          - O que aconteceu?- Perguntou alguém que estava lá na frente.

          - O ônibus teve um problema. – disse Geraldo em resposta. – os dois pneus traseiros do lado esquerdo furaram e, infelizmente, não temos estepe. Mas já ligamos para a empresa de ônibus, eles estão providenciando novos pneus. Não se preocupem.

          Nesse momento o motorista entrou e, pediu que todos descessem do veículo.

          Saímos do ônibus aos empurrões e encontrões.

          Depois que descemos, o motorista o estacionou à beira da estrada, no meio do nada. Estávamos num campo aberto, cercado de colinas. Ao longe, podíamos ver uma frondosa fileira de árvores secas e desfolhadas. Mais adiante se encontravam as colinas.

          - Aposto que vamos mofar aqui. – Resmunguei chateado e preocupado.

-Espero que não! Esse lugar me dá calafrios.– Confessou Jaqueline amedrontada.

          - Este lugar é sinistro! – Exclamou Cláudio, enquanto olhava para as colinas.

          - É. – concordei. - E parece isolado de qualquer cidade.

          - Talvez aqui seja a terra dos horrores e esteja cheia de monstros. – disse Luciano sarcasticamente, fazendo uma careta.

          - Com esta careta horrorosa, o único monstro aqui é você!- Zombou Luciana sorrindo.

          À medida em que o tempo passava, a temperatura ia esfriando cada vez mais.

          Nenhum veículo passava por aquela estrada, eu podia se ver expressões de preocupação no rosto do motorista e também do nosso monitor.

          O dia ia chegando ao fim, o céu estava coberto por nuvens pesadas, uma parte avermelhada e outra cinzenta, que davam ao tempo um clima sombrio e silencioso.

          - Está fazendo muito frio aqui fora. É melhor entrarmos no ônibus. – Anunciou Geraldo em voz alta para que todos pudessem ouvi-lo. Mas apenas um pequeno grupo, de três garotas e dois rapazes, entraram no ônibus, o resto continuou lá fora.

          Alguns garotos brincavam de atirar pedras na direção das colinas que, a essa altura eram cobertas por uma névoa espessa.

          Eu fiquei próximo ao ônibus com meus novos amigos, quase não falava, aquela situação me preocupava muito.

          “Até quando ficaremos aqui?” Me perguntava inquieto.

          Alguns segundos depois ouvimos gritos assustadores de alguns rapazes.

          Olhei e vi os garotos que jogavam pedras na direção das colinas, eles corriam na direção do ônibus.

          -O que está acontecendo com eles? – Perguntei apavorado.

          -Q... que é isto? – gaguejou Jaqueline.

          Atrás dos rapazes corriam, perseguindo-os, algumas estranhas criaturas de olhos que brilhavam.


 

CAPÍTULO 3


Em total desespero todos os jovens correram em direção do ônibus.

          Fomos entrando aos montes dentro do veículo, ouvimos gritos estridentes, não apenas de horror, mas também de morte.

          Rapidamente o motorista fechou a porta do ônibus e levantou-se do seu banco segurando uma arma.

          -Aquelas criaturas pegaram três garotos! – Gritou o monitor apavorado e desesperado, sem poder fazer nada para ajudá-los.

          Eu estava no final do ônibus, uma vez que fui um dos primeiros a entrar e olhava assustado para os lados.

          Certifiquei-me que Cláudio, Jaqueline e Luciana estavam ali, mas e o Lúcio? Onde estava o Lúcio?

          – Onde está o Lúcio?- Perguntei com minha voz rouca e amedrontada, embargada pelo terror.

          -Oh! Meu deus! Eu não acredito!- Lamentou Jaqueline horrorizada, olhando pela janela.

          -Virei-me rapidamente para a janela e meus olhos se encheram de terror. Lúcio estava caído próximo ao ônibus, amontoado por aquelas criaturas que, o devoravam ferozmente.        

 


CAPÍTULO 4

 

Empalideci-me em total horror enquanto meu corpo tremia e se arrepiava.

          -Lúcio! – Balbuciei.

          Os jovens, na maioria as garotas, gritavam apavorados.

          De repente ouvi um forte barulho, seguido de gritos estridentes de horror. Um amontoado de garotas e rapazes afastando-se do meio do ônibus e vieram em minha direção.

          - O que está acontecendo? – Perguntei enquanto subia com os pés em cima dos bancos. Vi algo que não desejaria ver novamente: Uma daquelas horrendas criaturas estava dentro do ônibus. Certamente entrara por uma das janelas que estava aberta.

          A criatura peluda com cerca de um metro de altura, com enormes patas, unhas afiadas, uma boca saliente com duas mandíbulas de dentes pontiagudos e afiados e olhos avermelhados brilhantes e faiscantes, preparava-se para atacar. Era semelhante a uma hiena.

          O animal feroz olhava em volta, tentando se decidir: quem seria a sua refeição. Antes que a enorme criatura negra pudesse atacar, vários tiros a derrubaram. O motorista com uma expressão séria e a respiração ofegante, segurava um revólver de cano longo, de onde saia fumaça.

          - Fechem todas as janelas! – Ordenou Geraldo impaciente.

          Enquanto todos fechavam as janelas em pânico, estremeci da cabeça aos pés. Senti um leve soprar de vento entrar pela janela aberta, ao meu lado. Ainda estava de pé sobre o banco, olhei de relance e, vi várias criaturas se preparando para saltar dentro do ônibus. Engoli a seco, quando num movimento rápido, Jaqueline usando as duas mãos, conseguiu fechar a janela. Subitamente a criatura saltou, chocando-se violentamente contra o vidro, que num ruído estridente trincou.

          Todos olhávamos pasmos o vidro trincado e, lá fora, inúmeras criaturas com seus olhos vermelhos, brilhando e faiscando meio as sombras da noite. Estávamos completamente cercados.

          De repente fortes barulhos quebraram o silêncio que reinava no ônibus. Inúmeras patas pesadas andavam sobre o teto.

          - Estamos cercados!- Exclamou o motorista.- Há inúmeras dessas criaturas por toda parte.

          - O que são esses bichos? – Perguntou alguém.

          - Eu não sei.- Respondeu Geraldo. – Nunca vi nada igual antes.

          Afastei-me do fundo do ônibus, acompanhado de Cláudio, Jaqueline e Luciana.

          O ônibus estava tumultuado, quase todo mundo estava de pé no corredor, estavam com medo de ficarem próximos às janelas e serem atacados por aquelas criaturas. Tinham razão. Por pouco aquela criatura não quebrou o vidro da janela e me pegou. Ao aproximar-me vi que Geraldo inclinava-se examinando a criatura morta no meio do ônibus.

          As longas unhas da criatura, arranhavam o teto do ônibus, criando vários ruídos agudos e ruidosos, enquanto uivos sinistros vinham de toda parte.

          Uma pancada forte atingiu o vidro da frente do ônibus trincando-o do lado da porta. Outra criatura saltou sobre o vidro. Viam-se enormes rachaduras.

          - Temos que sair daqui!- Avisou o motorista, sentando-se ao volante.

          - Mas a empresa mandou um carro trazer os pneus. – lembrou Geraldo, aproximando-se do motorista.

          - Sim.– murmurou o motorista ligando o ônibus. –Mas vamos voltar para casa. Esses vidros não vão suportar muito tempo. Se não sairmos agora estaremos todos mortos num piscar de olhos.

 


CAPÍTULO 5


 

- Espere. É muito perigoso andar com dois pneus furados.- protestou o monitor.

          - O pior é ficarmos aqui! – Gritou o motorista irritado.

          - Por que não chamam a polícia? – perguntei.

          - Infelizmente não dá. – começou Geraldo. - No meio de todo aquele desespero acabei deixando o celular cair lá fora.

          - Droga. – lamentei.

          Quando o motorista acendeu os faróis do ônibus, ouvi-o gritar de susto e pavor.

          Toda a estrada à nossa frente estava tomada por inúmeras criaturas. Todas nos fitavam famintas com seus olhos brilhantes e suas bocas abertas e salientes.

          O motorista acelerou o ônibus dando meia volta e pegando a estrada. Consegui ver que algumas criaturas se afastavam dando passagem.

          O ônibus seguia meio devagar inclinado para um lado, às inúmeras criaturas seguiam-nos e uivavam.

          Um clima de tensão tomara conta de nós, alguns jovens choravam e tampavam o rosto com as mãos para não olharem aquela horrenda criatura caída no meio do ônibus.         Além de horrenda era nojenta. Uma poça de sangue debaixo dela se espalhava à medida que o ônibus balançava.

          De repente vimos duas criaturas que estavam em cima do ônibus pularem na estrada, caíram de pé e puseram a nos seguir.

          Repentinamente as criaturas começaram a nos atacar. Foram três ataques: no primeiro uma das criaturas pulou sobre uma janela com tanta força que o vidro trincou. No segundo ataque a criatura não teve sucesso, acabou sendo puxada pela roda de trás do ônibus, uma vez que seu salto fora muito baixo. No terceiro ataque, a criatura agarrou-se ao retrovisor do lado do motorista e pôs-se a rosnar enlouquecidamente.

          -Que diabos!? - Resmungou o motorista jogando o ônibus para a sua direita. Mas a criatura permaneceu agarrada ao retrovisor, fitando-o com seus brilhantes e faiscantes olhos vermelhos.

          O motorista começou a acelerar fazendo o ônibus correr.

          - Cuidado! - gritou Geraldo em alerta.        -É muito perigoso correr com os pneus furados.

          O motorista o ignorou, acelerando ainda mais. Apesar da velocidade a criatura continuava agarrada no ônibus.

          Todos nós seguramos bem fortemente no ônibus para não cairmos. De repente o ônibus passou sobre um buraco quando ia fazer uma curva. O veículo se desgovernou fazendo o motorista perder o controle.

          O ônibus desgovernado na curva sinuosa se inclinou perigosa sobre duas rodas e tombou em seguida.

 

 

 

CAPÍTULO 6


 O veículo derrapou de lado sobre a estrada indo, por fim, parar há alguns metros da estrada. Todos nós dentro do ônibus fomos arremessados para os lados, salvos pelo sinto que nos manteve presos aos assentos.

          - AAhh!!! – gritei. Seguiram-se vários outros gritos de dor, como em um coro assustador.

          Levantei-me diante de toda aquela confusão e desespero e percebi uma grande movimentação que vinha da frente do ônibus.

          - Não!Não! Argh! – gritou o motorista tentando se livrar daquela enorme criatura que tentava devorá-lo, mas a defesa do motorista não era bastante perante o ataque mortal daquela besta-fera. Os gritos do homem pararam silenciados pelo horror de sua morte.

          Cláudio, Jaqueline e Luciana estavam vivos, porém um pouco machucados assim como eu.

          - Precisamos sair do ônibus!- gritei. - Logo as criaturas que nos seguiam vão chegar.

          Subimos nos bancos inclinados, usamos as saídas de emergência retirando as janelas  e saímos os quatro do ônibus que estava tombado de lado.

          Os outros jovens também conseguiram escapar do ônibus. Corríamos pela estrada escura, mal conseguíamos enxergar o caminho.

          Os outros jovens iam por outro lado. Alguns jovens infelizmente não resistiram ao acidente. Mas não podíamos fazer nada e ainda não tínhamos visto o nosso monitor.

          “Será que ele morreu?” me perguntei engolindo a seco, ouvimos gritos estridentes que prolongaram-se na noite.

          Olhei para trás e estremeci. Vi várias criaturas aproximando-se do ônibus tombado, atacando vários jovens. Seus olhos vermelhos faiscavam na escuridão.

          - Elas estão vindo! - gritei com um tom de voz agudo e alto.

          - Elas vão nos pegar. – gritou Jaqueline, choramingando.

          -Eu não quero ser o jantar desses bichos.- Murmurou Cláudio quase sem fôlego.

          -Ei! Vejam!- Gritou Luciana, que corria um pouco à nossa frente.

          Olhamos todos ao mesmo tempo e vimos um carro parado, com as portas abertas e os faróis acesos.

          -Estamos salvos!- Gritei.

          Mas quando chegamos ao carro, vimos uma criatura morta ao lado e, esqueletos humanos em pedaços sobre uma enorme poça de sangue coagulado.

          -Oh! Meu Deus!- Lamentamos, quase todos ao mesmo tempo.

 

 

CAPÍTULO 7


“Era o resgate que vinha nos ajudar.” Pensei amargamente. “Certamente atropelaram a criatura e, quando desceram do carro, foram atacados mortalmente por outras.”

          Vi que na frente do carro estava um pequeno amassado. Certamente por causa do impacto.

          -Vamos entrar no carro!- Disse Luciana. -As criaturas estão vindo.

          Entramos no carro rapidamente e fechamos as portas e janelas.

          Eu sentei ao volante, Jaqueline ao meu lado, Cláudio e Luciano no banco de trás.

          -Elas estão se aproximando.- Gritou Jaqueline apontando para um enorme grupo de criaturas, que caminhavam em nossa direção.

          -Calma.- Disse-lhe, ligando o carro e pondo as mãos ao volante. –Eu sei dirigir.

          -Você sabe dirigir?- perguntou-me Jaqueline, um tanto surpresa.

          -Sim.- disse em resposta. –Meu pai já me ensinou a dirigir há uns três anos.

          Acelerei o carro, fazendo meia volta e de repente uma criatura saltou em cima de nós. Ouvimos, amedrontados, o forte estrondo da criatura sobre o teto do carro.

          Pisei fundo no acelerador, fazendo o carro cantar pneu. Mas a criatura permaneceu sobre o veículo, segurando-se firmemente com suas grandes patas.

          -O que vamos fazer?- Perguntou Jaqueline. –A criatura ainda está em cima do carro.

          -Não sei o que posso fazer!- Disse-lhe. –A estrada é muito estreita.

          -Fique atento na estrada.- Avisou-me Cláudio impaciente. –estamos indo muito rápido. Um pequeno vacilo será fatal!

          -Parece estranho mas meu avô me contou uma história ontem à noite.- Disse Luciana num sussurro sombrio.

          -Que história?- Perguntei curioso.

          -Ele me contou uma história sobre criaturas que habitam essas colinas.- Começou Luciana em resposta. –Ele as chamou de criaturas da noite porque elas descem das colinas para caçar apenas durante a noite.

          -Elas só comem humanos?- perguntei, interrompendo-a.

          -Sim. Segundo meu avô, são suas refeições prediletas.

          -Nossa!- Exclamou Jaqueline, pondo as mãos sobre a boca, sentindo seu estômago embrulhar.

          -Meu avô também me disse que muitos desconhecem a existência destas criaturas. Por outro lado, têm os que sabem da existência delas, tanto que não se atrevem nem mesmo a passar por esta estrada.

          -Talvez o motorista e o nosso monitor não soubessem sobre estas criaturas- Disse.

          -Ou talvez soubessem, mas a ignoraram.– Murmurou Jaqueline.

          -É. Como eu fiz.– Lamentou-se Luciana. –Meu avô me avisou mas não acreditei. Pensei que ele só estivesse tentando me assustar, afinal, ele é um velhote de 94 anos.

          Mais adiante um enorme buraco na pista me fez desviar bruscamente para o lado. O carro balançou muito ao passar sobre outro buraco.

          –Oh não!- Gritei ao perder o controle do carro. –Vamos capotar!!



CAPÍTULO 8

 

 Tive que frear. Afundei meu pé no pedal com toda a minha força. O veículo derrapou na pista, rodando várias vezes, até parar mais adiante, fora da estrada, numa área plana. Não capotamos. Com o giro, a criatura foi arremessada há alguns metros do carro.

          -Vocês estão bem?- perguntei.

          -Sim. Eu estou bem!- Respondeu-me Jaqueline, um pouco pálida.

          -É. Aqui atrás ainda estamos vivos.- respondeu Cláudio e Luciana.

          -E a criatura?- Perguntei.

          -Não sei.- respondeu Jaqueline. –Acho que caiu lá atrás.

          -O porta-malas abriu.- Disse Luciana. –Vejam!

          -Vamos embora!- Gritou Cláudio.

          -Sim. Vamos!- concordei, acelerando o carro, fazendo as rodas derraparem ruidosamente sobre o chão. Voltamos para a estrada e seguimos viagem.

          Pouco depois chegávamos a uma pequena cidade, ao lado da estrada. Já era de madrugada e a neblina caía levemente.

          Parei o carro, próximo há algumas casas e respirei fundo.

          –Estamos salvos.- Disse suspirando. -Por aqui deve haver algum telefone. Precisamos avisar nossos pais e pedir socorro.

          –Talvez alguém ainda esteja vivo.

          -Com aquelas criaturas espalhadas por toda parte?- Perguntou Jaqueline. –Acho difícil.

          Buzinei várias vezes para avisar aos moradores que precisávamos de ajuda. Em seguida descemos do carro.

          Ouvimos um estalo e silenciosamente, caminhamos para trás do veículo. Em direção ao porta-malas de onde tinha vindo o ruído.

          Coloquei um dedo sobre a boca em sinal de silêncio.

          Só ouvíamos as batidas fortes de nossos corações. Sentíamos calafrios percorrerem por nossos corpos a medida em que aproximávamos do porta-malas.

          “Estaria a criatura dentro do porta-malas?” perguntava-me assustado.

“O que estamos fazendo? Se a criatura estiver aí dentro, estaremos todos mortos.” Meu corpo tremia e congelava de medo.

          Fui o primeiro a contemplar o interior do porta-malas.

          -O que é isso? –perguntei.

          -São só os dois pneus. –disse Jaqueline aliviada. Como ela, respiramos aliviados.

          A criatura não estava dentro do porta-malas.

          -Não! Nãããooo! Malditos!- Gritou uma voz grossa, vindo de umas das casas. –Vocês as atraíram para cá.

          Olhamos assustados e vimos o homem que gritava, totalmente descontrolado. Havia saído de sua casa ainda de pijama e segurando uma espingarda a apontava para nós.


CAPÍTULO 9 

 

O terror invadiu nossos corpos.

          “Do que aquele homem estava falando? Porque apontava sua arma para nós?”

          Então subitamente ele atirou. Gritamos apavorados. Mas logo percebemos que não era para nós que ele apontava sua arma. Olhamos para trás e sentimo-nos empalidecidos, trêmulos, espavoridos... O sangue gelava dentro de minhas veias. Meu corpo tremia descontroladamente enquanto meus olhos pareciam querer saltar de minhas órbitas.

          Enormes bandos daquelas criaturas assassinas vinham em nossa direção. Seus olhos brilhando infernais na escuridão.

           O homem continuou atirando, abatendo algumas criaturas, mas a quantidade delas era enorme.

          Olhei em volta e vi que estávamos perdidos. Por todos os lados daquela pequena cidade, surgiam mais e mais criaturas. De repente, vários gritos de terror e morte, prolongavam-se, rasgando a noite, vindo de várias casas.

          -Estamos perdidos.- Balbuciei. –Vamos entrar no carro!- Gritei em seguida.

          Quando corremos para entrar no carro, uma daquelas criaturas horrendas, surgiu repentinamente à nossa frente. Paralisados pelo horror, tanto eu quanto Jaqueline, Cláudio e Luciana, mal conseguíamos nos mover.

          A enorme criatura nos fitava, com seus olhos vermelhos, faiscantes e com sua enorme boca aberta e saliente. Um grito de morte saiu da boca do homem que estava atirando e em seguida desapareceu.

          Então ouvi o grito de Jaqueline. Em seguida outros gritos ecoaram na noite. Eram os gritos de Luciana e Cláudio.

          Estávamos perdidos!!!

         

 


CAPÍTULO 10


Eu não sei quanto tempo passou desde que senti as presas afiadas daquela criatura penetrar em minha jugular. Lembro-me do seu rosnado selvagem e feroz, então tudo ficou vermelho brilhante e então escuro. Escuro como breu.

          Então, sem saber quanto tempo se passou, eu despertei. Mas eu não era exatamente eu mesmo. Eu estava diferente. Lutei para tirar os pedaços de tecidos que cobriam meu corpo, minha velha roupa. Eu não precisaria mais dela.

          De alguma forma bizarra e loucamente estranha, o ataque daquela criatura me transformou, talvez fosse uma doença como a licantropia, talvez outra que até então acreditava que fazia parte apenas de lendas. Eu, assim como meus amigos, não nos assemelhávamos mais com seres humanos.  

          Havíamos sido comidos vivos por aquelas criaturas, mas toda a pele comida cresceu novamente, mas com pelos negros.

          Eramos agora como aquelas criaturas, mas podíamos pensar e se comunicar com estranhos sonhos.

          Quando andávamos pelas margens da estrada, intrigados com nossa nova forma de vida, fascinados com os novos sentidos, avistamos um veículo parado no acostamento.

          Uma moça erguia um celular na mão procurando sinal enquanto um rapaz trocava o pneu furado.

          Uma fome animal, de um apetite voraz fez o instinto me dominar, fazendo eu não mais enxergar dois seres humanos ali, mas sim dois saborosos bifes suculentos. 

 


 












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