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GRITOS DE UMA NOITE DE HALLOWEEN

Escrito por ALLAN FEAR

           
Sarah Winmoore estava sob uma marquise para se proteger da gélida chuva que caía mansa, em ritmo constante, naquela noite fria.
            Sarah usava uma fantasia de diabinha, não para celebrar o Halloween, mas para chamar a atenção dos seus clientes naquela noite de gostosuras ou travessuras.
            Sarah era prostituta, os caminhos errados que havia tomado a levaram a trabalhar na noite, vendendo seu corpo para poder cuidar de Nathaly, a filhinha de três anos que herdara de sua falecida irmã.
            As colegas de trabalho de Sarah haviam dado aquela noite por perdida, afinal a chuva sempre espantava os clientes. Mas, Sarah precisava de grana, suas economias estavam no fim.
            Sarah se abraçou, embora apreciasse o frio, aquela noite parecia mais gélida. A rua estava deserta naquela parte da cidade, passava pouco das nove horas e ela tinha esperança que algum cliente precisando de companhia passaria por ali.
            Em momentos assim, no silêncio da noite, a mente de Sarah a bombardeava de pensamentos e lembranças amargas. Ela recordava de seus vícios, de sua vida louca.
            Mas após a morte da irmã, Sarah teve que se tornar uma mãe para a pobre Nathaly, foi quando ela lutou para largar seus vícios.
            Decidida a mudar, a jovem Sarah de apenas 22 anos decidiu aproveitar sua sensualidade e vender seu corpo quando encontrou muitas dificuldades em conseguir um trabalho como uma pessoa normal. Ela jamais se encaixaria na sociedade, mas não estava sendo fácil superar seu vício.
            O trabalho como prostituta não lhe exigia muito, não necessitava de bons modos e ela não ligava em exibir suas belas curvas.
            De repente Sarah ouviu um assovio vindo do fundo do beco do outro lado da rua e quando se virou, viu um brilho alaranjado dançando no meio do caminho.
            Curiosa, Sarah começou a ir em direção ao objeto. Provavelmente era algum cliente tímido que não queria ser visto na rua com uma prostituta.
            Ao se aproximar do objeto no chão, Sarah reparou que era uma pequena cabeça ornamentada de abóbora com uma vela acesa em seu interior. A face de Jack-o’-lantern a encarava do chão. 

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            Então Sarah sentiu o perfume masculino com notas amadeiradas e viu o homem parado mais à frente na penumbra. 
            -Que fofo, - disse Sarah encarando-o, referindo-se a bela escultura de abóbora. -Feliz Halloween! Quer fazer o programinha em seu carro ou aqui mesmo?
            O tipo estranho não respondeu. Era alto e magro, usava sobretudo escuro e chapéu, seu rosto estava submerso em trevas, mas Sarah pôde ver uma barba espessa e longa descendo por seu queixo.
            Ousada e desinibida Sarah se aproximou do homem, caminhando de forma sexy e ergueu sua mão para tocar-lhe a face. Mas ele a conteve com uma mão grande e forte.
            -Deixa essa diabinha te dar um pouquinho de prazer meu amor? – Sarah sabia ser provocante, falou de forma manhosa aproximando seu rosto do dele para dar-lhe um beijo.
            -Ahhhh! – O grito escapou dos lábios pintados de vermelho de Sarah quando ela viu o homem tirar uma grande faca do bolso do sobretudo e a espetar em sua barriga.
            Ela sentiu a lâmina fria penetrar em sua barriga e depois ser retirada com força. Ela ergueu os olhos para encarar o homem e viu os dentes dele faiscarem em um sorriso de escárnio.
            O maníaco queria mais e em um ritmo frenético, ergueu a faca novamente e começou a esfaquear Sarah de forma alucinada, perfurando seus ombros, peito, pescoço e uma de suas mãos que ela ergueu para tentar contê-lo.
            Sarah cambaleou para trás até suas costas se chocarem contra a parede do beco. Seus cabelos longos, agora ensopados de água, lhe grudavam na face.
            O psicopata a encarava, saboreando sua obra de arte: aquele lindo e sensual corpo de pele muito branca, agora cheio de perfurações e minando sangue.
            -Seu desgraçado. – Falou Sarah amargamente, seus olhos fuzilando o homem que ficou surpreso por ela ainda estar de pé. -Eu jurei no túmulo de minha irmã morta que eu iria mudar, ser uma pessoa melhor e largar meus vícios...
            Ódio, tão vermelho quanto o sangue que lhe escorria das feridas, inundava a mente de Sarah à medida que uma escuridão poderosa lhe dava forças.
            -Eu queria apenas lhe dar prazer por alguns trocados e fingir que sou como todo mundo. – Sarah cuspiu as palavras com ódio, enquanto se mantinha de pé, andando na direção do homem cuja expressão era de dúvida e incredulidade. 

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            Com um gemido inumano e feroz Sarah abriu sua boca enquanto sentia suas presas afiadas rasgarem suas gengivas. Ela sentia o cheiro do sangue pulsando na jugular daquele homem, a escuridão havia tomado conta de sua mente e ela sentia aquela sede voraz novamente.
            -Não pode ser, que diabos?... – Balbuciou o homem aterrorizado diante daquele fenômeno assustador onde a indefesa garota esfaqueada se transformava em uma criatura de presas afiadas e um olhar diabólico de brilho vermelho.
            -Fique longe de mim. – Gritou o homem, largou a faca e tentou correr, porém, ele não foi rápido o suficiente. Como um animal selvagem, Sarah pulou sobre ele, agarrando sua cabeça e cravando suas presas em seu pescoço com raiva.
            -AAARRRRGGGHHHH!!! – O grito do homem explodiu na calada da noite enquanto Sarah sorvia avidamente seu sangue, lembrando-se como era bom o gosto.
            Por três longos anos ela havia bebido apenas sangue de animais, adormecendo seus instintos em uma ilusória tentativa de ser “normal” e não um monstro.
            Mas ali estava o tipo mais sórdido de monstro em seus braços com a garganta perfurada.
            Alimentada, após sugar até a última gota de sangue, Sarah furtou a carteira e deixou o cadáver daquele homem caído no beco. A única testemunha daquele assassinato era a pequena cabeça de abóbora cujo sorriso diabólico iluminava sua face enquanto lutava para manter sua chama acesa. 

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