https://www.youtube.com/watch?v=1sFT0L3C3fw&t=398s
 

Escrito por ALLAN FEAR

Era noite de sexta-feira, 31 de outubro. Eu conduzia a ambulância com a sirene ligada pelas ruas estreitas enquanto era observado por inúmeras cabeças de abóboras de olhares diabólicos.
            Fui obrigado a diminuir a velocidade do veículo, fazendo os pneus derraparem no asfalto molhado, para não atropelar um grupo de pequenos demônios, bruxas e fantasmas com sacolas cheias de doces.
              Meu nome é Arthur e naquela noite de Halloween, estava, juntamente com minha colega de trabalho; Suellen, a caminho de uma chamada, alguém ligou e falou que uma mulher estava em trabalho de parto.   
            A medida que eu avançava os sinais vermelhos e desviava dos carros naquele trânsito horroroso de sexta, a chuva recomeçava a cair deixando o clima ainda mais frio. Ao longe as colinas que cercavam a velha cidade de Hawther se tornavam cinzentas e opressoras.
            Por fim chegamos no local do chamado. Suellen pegou sua maleta com o kit de primeiros socorros enquanto eu me apossei da lanterna e descemos do veículo que ficou na rua com o giroflex ligado. 


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            O local era uma casa antiga, caindo aos pedaços em um dos bairros mais pobres da cidade. Adentramos a residência na penumbra, com minha lanterna rasgando parcialmente as sombras da noite que repousavam ali.
            Chamei pelo morador apenas uma vez e parei ao ouvir os gemidos de dor e agonia. Apressamo-nos casa adentro, deparando com muita sujeira e vários pratos com refeições azedas e fétidas espalhadas pelo assoalho.   
            Andamos até um dos quartos de onde vinha os gritos e gemidos e paramos no umbral da porta. Lá dentro estava uma mulher deitada com as costas na cama, as pernas abertas e flexionadas e pudemos ver sua barriga enorme, prestes a dar à luz.  
            Apressamo-nos em socorrê-la, Suellen deu início rápido aos procedimentos de examinar a vítima para saber se poderíamos realizar o parto normal ali mesmo ou se deveríamos conduzi-la até um hospital mais próximo. 
            Enquanto Suellen a examinava com agilidade, eu reparei no mau cheiro do aposento e nas inúmeras velas vermelhas e pretas espalhadas em castiçais sobre os móveis. Pude reparar também nas paredes riscadas e sujas e quando voltei o olhar para a mulher, notei que seu rosto estava contorcido de dor, dando-lhe uma aparência nada agradável. Seus cabelos pretos desgrenhados caíam-lhe na face e seus braços estavam abertos. Reparei sangue na camisola que ela trajava.
            Os braços dela estavam amarrados por grossas cordas à cabeceira de madeira da cama. 

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            -Precisamos desamarrá-la, veja só o que lhe fizeram...- falei enquanto banhava os braços da pobre mulher com a luz de minha lanterna.
            -Depois cuidamos disso, ela vai ter o bebê agora, a bolsa estourou. - Gritou Suellen. -Venha Arthur, me ajude com isso, vamos realizar o parto!
            Novamente naquela profissão fui auxiliar de um parto em situações nada reconfortantes. Mesmo com minha máscara o odor de carniça que exalava daquele aposento e daquela mulher me embrulhava o estômago.
            Mas tudo ocorreu bem e em pouco tempo ouvimos com alegria o choro da criança.
            -Parabéns senhora, é um menino! – Disse Suellen pegando a criança nos braços.
            A mulher, ainda gemendo, como se a dor ainda lhe dilacerasse os nervos, tentou pegar a criança, mas seus braços foram contidos pelas cordas.
            -Vamos Arthur, desamarre essa pobre mulher, ela deseja segurar o filho. – Disse Suellen sorrindo e ninando o bebê em seus braços que era banhado pelas chamas bruxuleante das velas que dançavam ao sabor da brisa fria que adentrava por um dos vidros quebrados da janela. -Preciso chamar uma unidade da polícia, alguém estava torturando essa pobre mulher.
            Apressei-me em desamarrar a mulher, lutei contra os nós das cortas e senti um arrepio quando ela me lançou um olhar frio, totalmente desesperado.
            Após desatar os nós Suellen entregou o bebê para a mulher que o aninhou entre seus braços e o cobriu com seus cabelos desgrenhados.
              Ligamos para a polícia pedindo uma unidade para investigar e tentar capturar os agressores que haviam prendido a mulher à cama. Suellen apagava as velas nos castiçais pois da forma que estavam, todas desordenadas e próximas a diversos objetos como cortina, livros, roupas e jornais velhos, apresentavam risco de incêndio.
            -Que horror, olhe para esses desenhos e símbolos, parecem tão demoníacos. – Comentou Suellen observando os rabiscos nas paredes.
            Foi então que ouvimos a criança gritar e nós voltamos para a mulher, eu custei a entender o que se passava, mas então não pude acreditar no que meus olhos enxergaram.
            -AAAAHHHHH!!! – O grito de Suellen explodiu junto com o do bebê. -Oh! Deus! Arthur, ela está...? Oh! Deus! Ela está comendo o bebê?...
           

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           Aterrorizado até a medula diante de tal indescritível cena de horror macabra, eu tentei puxar a criança dos braços da mulher, cuja boca estava o devorando... oh! Ela estava devorando o próprio filho.... eu senti os braços frios e moles da criança, mas já era tarde...
            -Grrrrr... – A mulher se voltou para mim com um rugido inumano e neste instante eu vi nitidamente sua face. Oh! Aquilo não era humano, era algo demoníaco saído de um filme do exorcista.
            Jamais na vida eu havia sentido tamanho horror. Um pavor incontrolável me fez saltar para trás e colidir com um criado mudo ao lado da cama e cair no chão.
            -Arthur, corra! – Gritou Suellen desesperada. -Está pegando fogo.
            Tudo aconteceu tão rápido, tão assustadoramente rápido. O criado mudo tombou sobre minha perna e logo eu senti o calor e vi as labaredas subirem lambendo a parede e queimando minhas botas.
            As mãos fortes de minha parceira me ajudaram a escapar das chamas que rapidamente se alastrou no lençol da cama.
            -Precisamos salvá-la, ela não está... – eu balbuciei debilmente enquanto lutava para apagar as chamas de minhas botas.
            Mas antes que eu pudesse mover um dedo para salvar aquela mulher, vimos com horror, seu corpo em chamas, enquanto ela se erguia da cama, com um grito infernal escapando de sua garganta e vinha em nossa direção.
            Saímos, eu e minha parceira, as pressas da casa que logo foi tomada pelas chamas cuja chuva fina que caía era incapaz de apagar.
            Dizem que coisas terríveis acontecem no Halloween em noites de sexta-feira, e os horrores daquela noite macabra eram a prova disso.
             

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