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Escrito por ALLAN FEAR

CAPÍTULO 1

Vlademir havia viajado cerca de uma hora e meia desde Denver no colorado até a sombria cidade de Mordor Valley, também no Colorado. Era um vale obscuro e frio, uma leve garoa de começo de manhã caía mansamente.
            O jovem rapaz foi recebido de forma cordial pelo mordomo, um sujeito alto, velho e muito magro e conduzido até seus senhorios.
            Vlademir era um fotógrafo profissional que trabalhava como freelancer, normalmente fotografando festas de aniversários e casamentos. Mas não desta vez.
            Uma rica família de sobrenome Hawther, descendente dos colonizadores de Mordor Valley, haviam entrado em contato com ele na manhã de ontem e fizeram-lhe uma proposta de fotografar sua filha adolescente. Apenas disseram que era urgente e ali estava ele, afinal no inverno, surgia poucas oportunidades de trabalho.
            Vlademir cumprimentou a Sra. e Sr. Hawther, não deixando de notar um ar de tristeza em seus olhares, o casal estava vestindo roupas pretas e tinham a pele muito clara, ele foi conduzido até a sala de estar.
            -Esta é nossa filha, Abigail Hawther. – Disse a Sra. de olhar triste, apresentando a jovem garota que aparentava ter uns 12 anos de idade. A menina, que estava sentada de olhos fechados e em linha reta sobre um sofá de vinil, usava um vestido azul com um laço sobre o busto e um grande colar de diamantes sobre o peito pendurado por correntinha de ouro, algo estranho, um tanto quanto fora de moda. Sua pele era pálida, o semblante calmo e o cabelo castanho, muito bem penteado, estava solto.
            -Está tudo bem com ela? – Balbuciou Vlademir enquanto pousava sua maleta no chão e estudava a jovem, tendo a estranheza de estar olhando para um cadáver. 


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CAPÍTULO 2

-Lamento não ter dado maiores informações sobre a sessão de fotos Sr. Vlademir, - começou o Sr. Hawther após pigarrear, se aproximou do jovem fotógrafo e posou-lhe sua grande e pesada mão ossuda em seu ombro esquerdo. -pois que quando ficaram sabendo do que se tratava outros fotógrafos não aceitaram o trabalho.
            -Nossa querida filha faleceu dois dias atrás vítima de pneumonia. – Falou a Sra. Hawther aproximando-se da menina morta, sua voz fraquejou e seus olhos se encheram de lágrimas. -E antes de enterrá-la queremos seguir a tradição da família. Desde a era vitoriana que meus antepassados registram fotografias post-mortem.
            Vlademir sorriu-lhes e assentiu, dizendo que estava tudo bem para ele. Afinal o valor que lhe tinham prometido era muito maior do que ele costumava ganhar em um mês de trabalho.  
            -Começo agora? – Indagou Vlademir pegando sua maleta do chão.
            -Não meu jovem, primeiro venha fazer uma refeição e te instruiremos de como as fotos devem ser tiradas. – Disse o Sr. Hawther retirando a mão do ombro de Vlademir e o conduzindo para outro aposento.
***
Cerca de meia hora depois, após uma boa refeição e estudar os álbuns de fotos da família para entender como aquele tipo de foto deveria ficar, Vlademir começou a sessão de fotos.
O mordomo da família o ajudava a colocar a jovem em diferentes posições, como sentada no sofá com a família e a cabeça repousada no ombro da mãe. Ora dançando uma valsa com o pai no meio da sala. Em seguida recebendo um duplo beijo dos pais nas bochechas.
Fotos dezenas de fotos, com roupas e penteados diferentes, mas sempre com aquele antigo colar sobre o peito.
-Há algo especial sobre este colar? – Indagou Vlademir ao mordomo em uma pausa para o almoço.
 -É uma espécie de tradição Sr. Vlademir, que todas as mulheres da Família Hawther sejam enterradas usando um destes. – Falou o mordomo em sua voz grave. -É uma família supersticiosa, eles acreditam que esse talismã de joias impede que a alma da falecida se torne um espírito errante e permaneça em seu descanso eterno.
Vlademir ficou fascinado com aquele colar, ainda mais sabendo que ele poderia valer muito dinheiro, afinal todo o luxo daquela família insinuava que nada ali naquela casa era barato.
Na parte da tarde Vlademir fotografou o velório da jovem. Havia alguns familiares e uns poucos vizinhos. O corpo de Abigail foi velado em um dos aposentos da casa. A menina usava agora um vestido branco com o colar sobre o peito e o cabelo frisado para trás.
Por fim dois homens fecharam o caixão que seria conduzido para o cemitério.
-Um momento, - falou Vlademir com a voz embargada pela adrenalina que invadia seu corpo. -Conforme o Sr. Hawther solicitou, preciso tirar algumas fotos do caixão fechado também.
Sendo assim os dois homens assentiram e deixaram o aposento, foi neste momento que Vlademir abriu parte da tampa do caixão e com a outra mão, cuidadosamente retirou o colar do pescoço da jovem e o escondeu no fundo de sua maleta. Em seguida, forçando as mãos a segurarem a máquina fotográfica sem tremer, tirou algumas fotos do caixão fechado.
-Prontinhos senhores! – disse Vlademir, nervoso pelo ato desmedido, pensando em quanto poderia faturar com aquele colar. Afinal ela seria enterrada, ninguém nunca descobriria seu crime.

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CAPÍTULO 3

Pouco depois Vlademir descia da van alugada para levar os parentes ao cemitério e acompanhava aquele cortejo fúnebre. 
A garoa fina e gélida continuava a cair mansamente do céu fechado, encoberto de nuvens escuras. Uma névoa fina espessa flutuava baixa entre as sepulturas.
A cerimônia de enterro foi rápida, um homem velho, de roupas negras falou algumas palavras em memória da falecida enquanto Vlademir seguia registrando tudo em fotos, nervoso, com medo de quererem abrir o caixão e perceberem que o valioso colar já jovem desaparecera.
***
Após o enterro de Abigail Hawther, Vlademir foi para uma das lojas de fotografia revelar as fotos. No final da tarde ele retornou para a mansão com as fotos reveladas e recebeu seu cheque.
 Vlademir pegou seu carro, um Taurus preto e conduziu de volta para sua casa, recusando a hospitalidade da Sra. Hawther de passar a noite na mansão. Ele queria dar o fora dali o quanto antes com seu colar roubado.
Escureceu rápido e uma chuva fina começou a cair. O veículo seguia pela rota 666 para fora da cidade quando Vlademir sentiu um intenso arrepio formigar em sua nuca e ouviu uma voz estranha, como um sussurro fantasmal dizer-lhe ao pé do ouvido:
-Você precisa devolver o que me pertence.


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CAPÍTULO 4

Vlademir gritou e pisou violentamente no freio, fazendo o veículo derrapar por aquela estrada deserta até bater violentamente contra uma árvore.
Após se recuperar da batida, ele retirou o cinto de segurança, checou se havia se ferido, mas por sorte estava bem. Porém quando olhou para trás, viu aquela aparição fantasmagórica que fez gelar até seus ossos.
Sentada no banco de trás estava o fantasma pálido e sombrio de Abigail Hawther, fitando-o com aqueles olhos sem vida, aqueles olhos frios e acusadores.
-Devolva o colar ou você estará condenado... – A voz sussurrante do fantasma era semelhante ao farfalhar de folhas mortas sendo arrastadas pelo vento.    
De repente, a aparição desapareceu diante dos olhos aterrorizados de Vlademir. Mas aquela sensação de aflição, de angústia trazida por aquele momento de horror, de susto, permaneceu, e ele soube que teria de se livrar daquele talismã. Não, na verdade ele precisava devolvê-lo ao cadáver de Abigail que estava enterrado à sete palmos de terra.
De um momento para outro seu mundo pareceu desabar. Seu carro arruinado e uma visão macabra de uma garota morta assolavam seu espírito.          

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CAPÍTULO 5

Passava pouco das nove horas, todos na cidade já estavam recolhidos em suas casas. As ruas frias e molhadas estavam desertas. A chuva continuava a cair mansa e constante.
O coração de Vlademir estava aflito, ele tentava se acalmar, lutando para se convencer de que o fantasma de Abigail não havia lhe aparecido, era apenas coisa de sua cabeça, mas isso não era possível. A todo instante ele via vultos enquanto fazia sua caminhada, sentindo suas pernas fraquejarem.
Vlademir queria apenas devolver o colar à menina morta e sair de Mordor valley sem olhar para trás.
Misturado aquela aflição angustiante, um arrependimento pesava em seu peito, dando-o a sensação de estar doente.
Na noite silenciosa Vlademir por fim encontrou cemitério, pulou o muro e andou entre as sepulturas molhadas envoltas naquela névoa fria. Ele podia sentir o colar gelado no bolso de sua calça social. Lâmpas em postes de metal jorravam sua luz pálida, amarela sobre as covas e lápides. A sensação era angustiante de se estar em um cemitério, sozinho durante a noite.
Primeiro Vlademir procurou por uma pá, após encontrar, andou por cerca de cinco minutos até encontrar o túmulo de Abigail e começou a cavar. A temperatura era fria e as gotas de chuva alfinetavam sua testa.
Logo o túmulo de Abigail estava profanado. Ele jogou a par ao lado do montante de terra e retirou a tampa do caixão.
Quando olhou para a defunta, um arrepio gelado desceu por suas costas e o fez cambalear para trás. Abigail estava de olhos abertos e uma expressão de fúria havia moldados suas feições.
-Eu só vim devolver o colar, por favor me perdoe...- Murmurou Vlademir, o pobre rapaz estava aterrorizado. Ele retirou a joia do bolso da calça molhada e o ergueu acima do caixão no fundo da cova.    
Mas então Vlademir parou ao sentir uma presença às suas costas.

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CAPÍTULO 6
           
-Não se mexa. – Uma voz furiosa explodiu nas costas de Vlademir. O timbre era masculino. Ele olhou com o canto dos olhos e viu a figura se movimentar, colocando-se em sua frente.
-Seu verme repulsivo. – Falou o homem de meia idade, magro, usando barba espessa e chapéu pontudo, apontando-lhe uma carabina. Vlademir o reconheceu, o tinha visto no funeral, era o coveiro. -Invadindo o cemitério, profanando um túmulo e... Roubando os mortos?
-É um engano, eu...- Vlademir se atrapalhou com as palavras, sua voz saiu embargada pelo medo. -Eu sou o fotógrafo que estava aqui mais cedo, você deve ter me visto, estava fotografando o funeral da filha da Sra. Hawther...
-O quê? – de repente a expressão de espanto tomou conta da do rosto do coveiro, a raiva dando lugar a surpresa. -Você ousou profanar um túmulo da família Hawther?
-Sim! As foi apenas para... – Vlademir tentou se justificar enquanto pensava em uma boa desculpa, mas ali, pisando nas bordas de um caixão, sendo assombrado pelo fantasma da menina morta e com uma carabina apontada em sua direção, sua mente estava a mil, incapaz de pensar em algo que fizesse sentido.
-O passado desta família é sombrio, eles mexem com magia negra e o mal paira sobre cada um deles como uma densa nuvem de maldade. – Falou o coveiro, a raiva voltando a mudar suas feições e o ódio ardendo em seus olhos. -Você cometeu um erro terrível, precisa pagar por isso ou trará a maldição para todos nós.
-Hey, espere! O que vai fazer? – Gritou Vlademir, tentou sair do túmulo para tomar a arma do coveiro quando este puxou o gatilho.

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CAPÍTULO 7

Vlademir sentiu a dor aguda, intensa e quando olhou para seu peito, viu sangue, muito sangue fluindo e escorrendo. Então sua visão começou a ficar turva e a escuridão fria e profunda o engoliu.
Depois de implorar perdão diante dos inúmeros túmulos pertencentes à membros da família Hawther, o coveiro retirou o colar de diamantes salpicado de sangue das mãos de Vlademir e o colocou cuidadosamente no pescoço de Abigail, em seguida passou a palma da mão direita sobre a face dela e fechou seus olhos.
Era hora de cobrir seu caixão pela segunda vez naquele triste dia e deixar que ela dormisse o sono eterno.
-Eu jurei sempre proteger vossos túmulos e assim o farei, para que nos deixe viver em paz neste vale de sombras. – Falou o coveiro após cobrir o túmulo de Abigail.
-Enquanto a você seu pedaço de lixo, - disse o coveiro voltando-se para Vlademir, cujo corpo sem vida estava ensanguentado no chão em uma poça de lama e sangue. -Teremos um enterro para amanhã cedo, depositarei seu corpo no solo falso da cova que receberá o caixão, jamais te acharão.
    
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