https://www.youtube.com/watch?v=zKehXhYFdMY 
Escrito por ALLAN FEAR


CAPÍTULO 1

Marisa dirigia seu carro apressada pelas ruas sombrias daquele início de noite. Odiava o trajeto do trabalho até sua casa, os 3,6 quilômetros pareciam 30. Ela estava nervosa, irritada, a mente a mil, precisava ver Jorge, seu marido, o quanto antes.
            Parou o Ford-Ka vermelho na garagem de sua casa e subiu apressada as escadas, tirou um envelope pardo da bolsa e o segurou firmemente na mão, mas parou quando viu a porta da residência entreaberta e notou que havia sinais de arrombamento.   
            -Jorge!?- gritou Marisa desesperada, adentrando a casa, sem pensar, deixando o envelope e a bolsa caírem sobre o carpete da sala.   Então ouviu um gemido bem fraquinho vindo da cozinha e, chegando lá, se deparou com uma cena de horror que gelou o sangue em suas veias:
Caído, sobre o linóleo da cozinha, jazia seu marido Jorge, de costas no chão, com as mãos ao redor de uma grande faca de cozinha que estava espetada em sua barriga, fazendo seu sangue vermelho-brilhante fluir pelo corte, formando uma poça sob seu corpo, tingindo toda sua roupa, short e camiseta.

https://noitesdehalloween.wixsite.com/allanfear/sacrificios


CAPÍTULO 2

            Marisa era enfermeira em uma clínica no centro de São Paulo, mas teve que tentar manter a calma diante daquela situação e correu para socorrer o marido, que exalava seus últimos suspiros.
            Pobre Marisa, ela soube assim que viu o tanto que a faca havia rasgado e dilacerado o abdome de Jorge que nada mais poderia ser feito para salvá-lo. Ele agonizou em seus braços, sussurrando que havia confrontado um delinquente que invadira a casa.
            Marisa chorava com o cadáver do marido no colo, toda aquela raiva que sentia agora dera lugar a uma tristeza depressiva que lhe corroía a alma.
            -Daniela, eu preciso de você agora! – falou Marisa, após pegar seu celular e ter discado para sua amiga, sua voz estava rouca, não era mais que um murmúrio. -Cheguei em casa e encontrei meu marido... ele está morto! Algum delinquente filho da puta o destrinchou feito um porco. Preciso que venha para cá e me ajude com ele!!
            -E-Estou a caminho...- foi tudo que Marisa ouviu de sua amiga. Sabia que poderia contar com ela, e aquele era um momento delicado e difícil.
            Daniela chegou meia hora depois e se deparou com aquela cena macabra, da esposa desolada com o marido estripado no colo sobre uma grande poça de sangue coagulado.
            -Você verificou se o bandido ainda está na casa? – Indagou Daniela sentindo um súbito arrepio descer por sua espinha.


https://noitesdehalloween.wixsite.com/allanfear/sacrificios


CAPÍTULO 3

            -Acha que ele ficaria aqui depois de ferrar com meu marido assim? Que se fodas, ele já deve estar longe, como os vizinhos mais próximos estão bem distantes com certeza não ouviram Jorge gritar antes de morrer. Mas vamos ao que interessa! -Falou Marisa, saindo daquele transe em que estava, e deixou o cadáver no chão. -Vamos preparar o leito para Jorge no quarto de hóspedes.
            -Você sabe que isso ainda é instável, não é? – indagou Daniela erguendo uma maleta branca. -Até então só ressuscitei minha gata e um canário, e pelo que tenho visto pode haver efeitos colaterais bem desagradáveis, sabe tipo um...
            -E eu tenho outra escolha? – Indagou Marisa porcamente arrancando a maleta da mão da amiga. -Logo meu marido começará a apodrecer, é minha única chance. Vamos! Eu tenho que arriscar.

https://www.amazon.com.br/As-Taras-Bruna-Allan-Fear-ebook/dp/B07P7QT7MG/ref=sr_1_7?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&keywords=allan+fear&qid=1578953244&s=digital-text&sr=1-7


CAPÍTULO 4


            Daniela era cientista, trabalhou em grandes centros de pesquisa e desenvolvimento de saúde nos Estados Unidos, mas fora expulsa depois que descobriram que ela fazia experimentos clandestinos, altamente bizarros, com animais. Então ela voltou para o Brasil, seu país de origem, e vivia de artesanato, sua licença havia sido caçada, mas nada impediu que ela continuasse realizando testes ocultos em seu laboratório clandestino no porão de sua casa.
            Marisa, sua melhor amiga desde a faculdade, passou, desde que ela retornara ao Brasil, a roubar vacinas, vírus e certos medicamentos para suas pesquisas, que há pouco mais de seis meses deram resultados e ela pôde devolver a vida a dois animais que criava em seu laboratório.
            O sonho de Daniela era achar a cura para a morte e finalmente ela poderia testar seu vírus em um cadáver recém falecido, mesmo que este ainda não estivesse pronto.
            Marisa preparou o quarto e arrastaram o cadáver de Jorge até depositá-lo sobre o leito, a hemorragia já havia sido estancada. Jorge era um homem alto, de pele clara, começando a ficar calvo e com um a barriga protuberante. 
            -Vamos começar o processo de ressurreição- falou Daniela, um brilho de emoção faiscava em seus olhos azuis por baixo de óculos de grau, era uma mulher baixinha e sardenta. -Se tudo der certo em uma semana ele voltará a vida!
            Marisa nada falou, apenas um brilho de esperança iluminava seus olhos cansados e avermelhados. Era uma mulher de estatura média, cabelo loiro e corpo sarado, de busto grande, o tipo que quando desfilava nas ruas com uma calça colada todos os homens olhavam.
            Jorge foi entubado, tinha a barriga costurada e a pele limpa de todo aquele sangue, estava ligado a uma série de aparelhos que Marisa havia trago do hospital, passava pouco da meia-noite quando Daniela aplicou o vírus sintético que ela havia desenvolvido na veia do defunto.



https://noitesdehalloween.wixsite.com/allanfear/hawther-em-quadrinhos


CAPÍTULO 5
Os dias se arrastaram, Marisa não deu queixa do assassinato de seu marido e contratou um serviçal para consertar a porta arrombada e mentiu para os amigos, dizendo que Jorge havia viajado para casa de um parente muito doente.
            Daniela sempre vinha de manhã e à noite para aplicar os coquetéis de soros e vírus em Jorge, e foi assim, aos poucos, que ele começou a produzir estímulos nervosos, e ao final do sétimo dia Jorge finalmente abriu os olhos, ainda muito débil, confuso, e começou a se mexer, esboçando reações.
            -Finalmente!!- disse Daniela, estava muito feliz, radiante, abraçou Marisa e comemoraram aquele feito após examinar o corpo de Jorge. -Agora é alimentá-lo e dar os cuidados necessários para que aos poucos, sua personalidade possa sobrepor este estado de zumbi e voltar a ser pelo menos 70% do que era antes.


https://noitesdehalloween.wixsite.com/allanfear/sacrificios


CAPÍTULO 6

            Marisa passou a tratar de seu marido zumbi, mantendo-o preso a cama por grossas cordas, por precaução, como orientara Daniele, que saiu do país determinada a reaver seu diploma, afinal, agora ela poderia ressuscitar os mortos e havia um contato no exterior que lhe daria essa chance caso tivesse como comprovar suas teses.
Dentro de quase 30 dias Jorge finalmente compreendia as coisas, sabia quem ele era, conseguia pegar os alimentos e comer sozinho, andava pela casa, ia ao banheiro, assistia seus programas favoritos na TV.
-Estou feliz meu amor- Falou Jorge naquela noite quando tentou fazer amor com Marisa, pela primeira vez ela viu ele ter uma ereção depois que voltara dos mortos. -quero fazer amor com você como nos velhos tempos, estou vivo novamente e...
-Antes disso meu bem, precisamos ter uma conversa!- Marisa se afastou do beijo do marido, deixando-o sozinho na cama. -Voltarei em um instante.
Marisa voltou com um envelope pardo nas mãos e o jogou sobre a cama, ordenando que ele o abrisse.
-Mas que gracinha meu amor, um presente pra mim? – indagou Jorge, com aquele jeito malandro e galanteador de sempre.
Marisa o fuzilava com seus olhos compenetrados e frios. Ela sorriu maldosamente quando Jorge abriu o envelope e retirou várias fotografias, que fizeram seu rosto ganhar uma expressão de espanto e terror.


https://noitesdehalloween.wixsite.com/allanfear/sacrificios


CAPÍTULO 7

-Mas... mas...- engasgou ele incapaz de articular uma frase, enquanto olhava para fotos dele, beijando e transando com outra mulher em seu quarto.
-Eu contratei um detetive particular, que espalhou câmeras em nosso quarto, enquanto eu trabalhava para te sustentar, para te manter na boa vida, você me traía com essa piranha, não é? – A voz fria de Marisa era cheia de ódio, seus olhos faiscavam um brilho de rancor e loucura ensandecida.
-Mas meu amor, isso foi antes, eu mudei, eu juro! Eu jamais...- começou Jorge, usando seu charme para amaciar o coração de sua esposa. -você sabe que eu te amo, e você não pode nem viver sem mim, você me trouxe dos mortos, fez um milagre! Vem cá, vem meu amorzinho...
-Você jura que jamais vai me trair novamente? Jura, paixão da minha vida? – indagou Marisa deixando sua voz ficar dengosa.
-Claro que juro paixão...- Jorge começou a beijá-la, -agora seja boazinha com o papai aqui... Afinal meu membro também acabou de ressuscitar dos mortos e está louco para te comer...
            Marisa se deixou envolver, sentindo os beijos molhados de seu marido em seu corpo, suas mãos, um tanto quanto frias, percorrendo suas curvas suaves e fendas molhadas.
            Jorge não viu o brilho diabólico que faiscava nos olhos de felina de sua esposa, ele não percebeu que ela retirou uma navalha de sua cintura e o colocou entre os lábios, para em seguida rasgar a garganta dele.
            -AAAARRRGGGHGHH!!- Gritou Jorge ao sentir a garganta ser rasgada profundamente, levando as mãos para tentar estancar os jatos de sangue que esguichavam no aposento.

https://noitesdehalloween.wixsite.com/allanfear/hawther-em-quadrinhos


CAPÍTULO 8

            -Depois de tudo que eu fiz por você, seu porco imundo, você me trai em minha própria casa? Achou mesmo que eu deixaria você morrer pelas mãos de outro? – Marisa gritava, usando a navalha para rasgar a pele de Jorge, dilacerando seu rosto jovial, deixando seu nariz dependurado. -Eu te trouxe do inferno para saciar minha vingança, porque você só pode morrer quando eu disser que pode! E agora você morrerá por minhas mãos, da forma que eu desejar, seu porco imundo!!
O corpo de Jorge tombou sobre a cama, novamente encharcado em seu próprio sangue. Estava definitivamente morto, Marisa fez questão de checar as pulsações. Sentia-se bem, sua vingança havia sido finalmente saciada.
Marisa pegou uma toalha no closet e sentou-se em frente do espelho da penteadeira para limpar o sangue do marido que havia espirrado em seu rosto. Estava feliz, fazê-lo pagar por aquela traição havia retirado um grande peso de suas costas. Foi uma grande terapia colocar todas as suas frustrações e raiva para fora em cada navalhada.
-Hum?! -Marisa olhou para trás ao ouvir um gemido estranho e ficou mortificada ao ver seu marido de pé, fitando-a com aqueles olhos mortos e uma palidez cadavérica que, rapidamente, havia se apossado de toda sua pele.
Marisa pegou o estilete sobre a penteadeira e tentou atacar seu marido, mas soube que ali não mais estava um ser humano e sim um zumbi faminto, sem nenhum traço de humanidade, pronto para devorar sua doce e suculenta carne.
Pobre Marisa, Daniela havia dito que poderia haver efeitos colaterais naquele processo de ressurreição, mas ela, cegada por sua sede de vingança, jamais imaginou que estaria dando o pontapé inicial de um verdadeiro apocalipse zumbi bem no centro de São Paulo.             
             
https://noitesdehalloween.wixsite.com/allanfear/o-sabor-do-medo

https://www.youtube.com/watch?v=X8WVycpqC1c