Escrito
por ALLAN FEAR
CAPÍTULO
1
Ela sentiu comichões na
cabeça e um suor frio escorrer por seu pescoço. Mas ela tentou ignorar, queria
voltar a dormir, estava ainda com muito sono.
3:22 marcava o rádio relógio sobre a raque do outro lado
do quarto. Ela abriu os olhos, enxergando apenas os números
vermelhos-brilhantes do relógio, o resto era apenas trevas e nada mais.
Estava frio, ela puxou a coberta até o pescoço para se
aquecer, fechou os olhos e tentou deixar o sono a envolver, mas aquele incômodo
na cabeça, como se dezenas de insetos estivessem fazendo uma ciranda em seu
cabelo a incomodou.
Ela levou a mão e coçou, mas sufocou um grito de nojo e
pavor quando sentiu seus dedos tocando algo mole, pegajoso e úmido. Ela arrancou
um pedaço daquilo e aproximou-o de seu nariz. O cheiro nojento fez seu estômago
embrulhar.
Ela tateou a outra mão até encontrar e puxar a cordinha
do abajur, mas quando a lâmpada não acendeu, lembrou-se de que tinha queimado e
ela ainda não havia trocado.
Ela precisava ver o que estava acontecendo em sua cabeça,
puxou a coberta para um lado, sentindo o ar frio gelar até seus ossos e saiu da
cama.
Ela sentiu o corpo oscilar na escuridão e lembrou-se dos
drinks que tomara mais cedo. Ela havia exagerado.
Ela cambaleou até o banheiro, praticamente se
equilibrando na parede do corredor além da porta do quarto. Lá fora uma coruja
piava sua canção fúnebre.
Ela
adentrou o banheiro, clicou no interruptor e foi inundada pela pálida luz
branca que a fez piscar várias vezes antes de encarar seu reflexo no vidro do
espelho trincado.
Sua boca escancarou diante da visão macabra. O horror se
apossou dela.
Sua face estava vermelha, coberta de sangue e de sua
cabeça, pedaços de cérebro caíam como grandes pedaços de caspa sobre seu corpo
nu.
CAPÍTULO
2
Como aquilo havia ocorrido? Como ela poderia estar viva
com seu cérebro pulando para fora da cabeça feito macarrão miojo em água
fervendo?
Seu cabelo preto estava ensopado de sangue espesso, meio
coagulado. Ela tocou o topo da cabeça, não sentia dor, apenas aquela comichão
desagradável.
Mais pedaços de cérebro caíram, saltitando na pia. Num
ato de desespero ela começou a tirar mais e mais e lavou o rosto com água fria.
Tinha que ser um pesadelo, não havia outra explicação
para aquele horror.
Ela não encontrou nenhum buraco na cabeça, mas se sentia
zonza, confusa pelo álcool que bagunçava sua mente, impedindo-a de pensar com
clareza.
Ela cuspiu em seu reflexo horrível no espelho quando viu
um sorriso insano, diabólico no cristal trincado, como se estivesse coberto de
teia de aranha.
Exausta, ela decidiu voltar para a cama, talvez toda
aquela loucura não passasse de alucinação.
Ela usara êxtase com os drinks? Quem sabe coca? Ela não
conseguia se lembrar, apenas sabia que havia exagerado muito além da conta.
Ela apagou a luz que fazia suas pupilas doerem e voltou para
a cama, ansiosa pelo calor da coberta, deitou-se de costas no colchão e sentiu
algo frio e molhado em sua pele.
Irritada ela levantou-se e cambaleou até a porta do
quarto e clicou no interruptor de luz, preocupada se aquilo na cama era mais
sangue ou apenas urina.
CAPÍTULO
3
Novamente ela piscou
várias vezes por causa da claridade quando a luz jorrou expulsando as trevas do
aposento. Quando seus olhos se acostumaram à luz e ela olhou para a cama,
começou a rir.
As lembranças voltaram. Ela odiava aquele efeito de
amnésia que o álcool causava, mas agora estava tudo esclarecido.
Sobre a cama estava o cadáver de um homem com a cabeça
estourada, deitado em uma grande poça de sangue coagulado.
Então um flash passou pela cabeça dela, tão rápido quanto
uma flecha no ar, nele ela se viu fodendo com aquele cara desconhecido, ela
deitada em decúbito dorsal e ele sobre ela, num ritmo furioso. Foi quando ela
pegou a arma dele que estava no coldre ao lado da cama, colocou o cano sob seu
queixo e puxou o gatilho, fazendo o tampo de sua cabeça explodir.
Ela continuou a transa com o cadáver, chegando a um
orgasmo louco a medida que pedaços de cérebro e borrifos de sangue caíam sobre
ela.
Ela era uma assassina. Sentia prazer em matar, viver no
fio da navalha, trepar com desconhecidos, decidindo se os matava ou não,
entregando-se ao álcool e deixando que o momento decidisse o rumo de seus atos.
Dançando conforme a música.
Bocejando ela saiu dos devaneios, sentindo uma pontada de
tesão ante as lembranças daquela foda. Mas ela precisava dormir, então apagou a
luz e se aninhou nos braços frios de seu amante sem vida, puxou a coberta até o
pescoço e mergulhou fundo no mundo de sonhos insanos, que para muitos seriam
pesadelos.
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