https://www.youtube.com/watch?v=Ft_SXXZid34

Escrito por ALLAN FEAR

CAPÍTULO 1

O elegante Sr. Matheus fez sua caminhada diária até se sentar no único banco vago de madeira da praça. Desdobrou o jornal que carregava embaixo do braço e murmurou alguma coisa em cumprimento ao velhote ao seu lado.
            O Sr. Matheus gostava de aproveitar os minutos que lhe restavam do horário de almoço, após a refeição, para se sentar num banco da praça e ler as notícias. Era seu ritual habitual de segunda a sexta.
            O dia era cinzento e o vento frio do início de inverno soprava as folhas mortas, obrigando-o a segurar o jornal com um pouco mais de força.
            A praça estava movimentada, algumas pessoas transitavam, outras estavam sentadas nos velhos bancos e mais algumas se amontoavam em um ponto de ônibus. A avenida estava com alto fluxo de veículos, como sempre.
            Ao redor do homem gordo e calvo sentado ao lado do Sr. Matheus, reuniam-se vários pombos, pois este os alimentava com milho.
            O Sr. Matheus tentava se concentrar nas notícias do jornal que falavam sobre a crise financeira, mas ele sentia repulsa por aquelas aves. Lembrava-se bem do quanto aquelas criaturas infernizavam sua vida, sempre cagando em sua cabeça ou invadindo seu apartamento.
            Ah! Como o Sr. Matheus desejava se levantar e sair pisando em um por um daqueles pombos e ter o prazer em seguida de limpar suas vísceras e penas da sola de seus sapatos.
            -Com licença senhor, - o Sr. Matheus foi interrompido de seus pensamentos sórdidos pelo velho gordo que segurava um saquinho de milho. -Poderia me fazer a gentileza de terminar de alimentar esses graciosos pombos por mim? É que me deu vontade de dar uma cagada, sabe? Na minha idade isso não pode esperar.
            -Mas eu... – murmurou o Sr. Matheus, porém o velho gordo lhe entregou o saquinho de milho e saiu às pressas.
            Os pombos se apressaram a cercar o Sr. Matheus, ansiosos por mais alimento, uma vez que já haviam limpado todos os carocinhos de milho do chão.
            -Eu os alimentaria com muito gosto se ao invés de milho eu tivesse chumbinho. – murmurou o Sr. Matheus amargamente, olhando com ódio para aqueles fofos pombinhos que eram em torno de 7 ou 9.
            Com um sorriso no rosto jovial bem barbeado, o homem estava na casa dos 45, embora aparentava ter menos devido ao seu cabelo muito preto e sua pele muito bem cuidada. Levantou-se e jogou o saquinho de milho dentro de uma lixeira anexada a um poste. Em seguida voltou tranquilamente e se sentou no banco para voltar à sua leitura, ignorando os pombos ainda famintos. 

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CAPÍTULO 2

            Um sorriso de escárnio brilhou nos lábios finos do Sr. Matheus quando viu os pombos começarem a ir embora.
            Não passou muito tempo, apenas algumas passadas das páginas de jornal, quando o Sr. Matheus sentiu uma das aves pousar em seu ombro esquerdo.
            O homem se assustou, mas viu que a ave parecia calma. Ele queria socar o bicho para que saísse de cima dele, mas era um homem elegante, de classe, não poderia deixar saberem que ele era violento.
            O Sr. Matheus dobrou cuidadosamente o jornal sobre o colo e ergueu a mão direita para o pombo, que se empoleirou em seu dedo indicador tal como fazem as aves adestradas.
            -Uau! Olha que coisa mais fofa! – falou uma jovem de cabelo roxo com mochila nas costas sobre um Skate. -Que pombo mais dócil! Deixa eu tirar uma foto moço?  
            -Ãh? Bem eu... er... – enquanto o Sr Matheus se atrapalhava com as palavras, a jovem desceu do Skate e retirou um grande Smartphone do bolso e começou a tirar fotos daquela cena inusitada.
            -Parece que ele quer te dar um beijo moço. Que lindo, aproxima seu rosto para eu registrar esse momento!         - falou a jovem, encantada com o pombo branco inclinando a cabeça em direção ao rosto do homem.
            O Sr. Matheus, meio sem jeito, aproximou o rosto perto da ave e sentiu aquele fedor de pombos que ele tanto odiava. Seu almoço revirou no estômago, mas ele tentou manter as aparências, pensando se teria uma chance de quebrar o pescoço do bicho sem que ninguém visse e o jogasse na lata de lixo quando aquela sessão de fotos terminasse.

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CAPÍTULO 3

            Muitos curiosos estavam parando para ver aquela cena, o pombo aproximou o bico e pareceu beijar o nariz do Sr. Matheus. Todos estavam encantados com o quanto aquela ave parecia amá-lo.
            Mas então, rápido como o bote de uma cascavel, o pombo atacou, enfiando seu bico no olho esquerdo do Sr. Matheus e puxando ferozmente seu globo ocular numa bicada certeira.
            -Aaaaahhhhh!!! – o berro de dor explodiu da boca do homem quando a ave alçou voo, levando no bico aquele globo ocular. Um lamento de horror ecoou na praça, todos estavam chocados.
            O Sr. Matheus colocou a palma da mão aberta sobre sua órbita vazia, sentindo seu sangue quente fluir entre os dedos.
O Sr. Matheus gritava e berrava, ficou de pé, gemendo, orando para que aquela dor lancinante parasse. As pessoas à sua volta estavam apavoradas, umas tentavam chamar uma ambulância, outras não suportavam olhar para ele. O pânico era geral.
Mas para seu completo horror, o Sr. Matheus viu uma revoada de pombos se aproximando dele, famintos, loucos para devorar o olho que ainda lhe restava.
                   

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