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Escrito por ALLAN FEAR

CAPÍTULO 1

No meio da noite fria, sob a pálida luz do luar, o coveiro Nelson andava por entre as catacumbas em sua ronda antes da meia-noite.
            O homem de meia idade usava sobretudo preto e chapéu e trazia consigo uma lanterna. No canto da boca ele equilibrava um cigarro de palha, sua barba grisalha descia pelo queixo.
            Não tardou ele se deparar com algo anormal, que não apenas chamou sua atenção, mas o deixou embasbacado.
            De longe parecia que havia alguém deitado sobre a sepultura, porém ao se aproximar, Nelson constatou que se tratava do cadáver de uma mulher já em estado de decomposição.
            A defunta tinha as roupas rasgadas e o órgão sexual exposto. Havia marcas de mordidas famintas em sua face, ombros e seios.
            -Mas que tipo de doente mental faria algo assim? – Indagou o velho Nelson aturdido, deixando o cigarro cair dos lábios que ficaram congelados em um silencioso grito de espanto.
            -Quem neste mundo de merda violentaria um cadáver neste estado de decomposição?

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CAPÍTULO 2

O velho e rabugento Nelson Fontaldo teve o trabalho, naquela noite, de devolver o corpo da Madame Iris Velover de volta a sua cova. Ele não queria que ninguém soubesse daquele ocorrido, pensariam que ele não estaria fazendo seu trabalho direito, que já estava velho demais para tomar conta do cemitério Colina do Amanhecer. Hawthersville era uma cidade pequena, se aquilo vazasse para a mídia local sua carreira estaria arruinada.
            Mas o ataque aos túmulos continuou também na noite seguinte. O cadáver de outra mulher foi arrancado de sua sepultura, suas roupas também foram rasgadas e havia sinais de necrofilia.
            Ah! Mas o tarado não se contentava apenas em praticar o ato inescrupuloso de necrofilia, o doente mental também teve que morder a defunta e arrancar-lhe grandes pedaços de carne morta.
            Nelson estava furioso, o cemitério era grande e o profanador de túmulos agia na surdina.
            Laura Millertha era o nome de sua nova vítima, fora deixada de quatro sobre a cova de seu marido que ficava ao lado da sua.          
            -Quanta profanação, - Murmurou Nelson examinando a defunta arrombada que exalava um insuportável cheiro de carniça. –Eu vou te pegar seu desgraçado filho da puta, - Nelson apontou sua lanterna em todas as direções à procura do pervertido. – e quando o fizer te enterrarei na mesma vala que uma defunta apodrecida. Está me ouvindo seu demente?
***
            -Mas que buceta dos infernos! – Exclamou Nelson ao despertar na noite seguinte com um grande ruído vindo das trevas lá fora.
            Nelson levantou de sua cama aturdido, grogue de sono, espiou a hora no relógio em seu pulso e viu que eram três da manhã. Ele havia dormido demais e se esquecido da ronda.
            Nelson se armou com seu revolver calibre trinta e oito, pegou sua lanterna e sobretudo, colocou o chapéu na cabeça e saiu noite afora, na surdina, em busca do necrófilo.


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CAPÍTULO 3

Sob um céu sombrio, encoberto por nuvens cinzentas e opressoras, com o frio gélido lambendo sua face, Nelson andou por entre as sepulturas cheias de musgo e foi em direção ao ruído, similar a um gemido, mas abafado pelo vento que uivava como um lobo.
            Mantendo a lanterna apagada, Nelson foi perscrutando na escuridão da noite. Uma névoa fina e cinzenta se erguia das covas e subia até seus calcanhares.
            Ao se aproximar de um túmulo, o velho coveiro com a arma na mão, viu que esta sepultura estava profanada. A tampa estava quebrada.
            Então o coveiro jorrou sua luz para dentro da cova e viu que alguém se debatia lá dentro tentando sair.
            -Te peguei seu pervertido filho da puta! – Gritou Nelson ameaçadoramente jorrando a luz de sua lanterna dentro da cova.
            -Oh!- Exclamou Nelson surpreso com o que seus olhos viram dentro da sepultura. –Mas que diabos você está fazendo aí?

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CAPÍTULO 4

Nelson teve de piscar várias vezes para ter certeza do que estava vendo, pois dentro da cova havia uma jovem mulher desesperada para sair.
            -Oh! Vamos, pegue minhas mãos, eu te ajudo a sair. – Disse Nelson colocando o revolver e a lanterna no coldre e ajudando a moça. –Aposto que estava andando por aí para fumar um baseado e acabou caindo aí dentro, né?
            Nelson ajudou a moça a sair da cova, e ficou examinando a tampa arruinada.
            -As sepulturas desse lado são muito antigas, estão todas podres. – Disse Nelson sem olhar para a mulher, apesar de rabugento era meio tímido, por isso vivia sozinho naquele velho cemitério. –Você poderia ter gritado, deu sorte de eu escutar o barulho de quando você caiu, senão poderia passar a noite aí dentro.
            Mas então Nelson se arrepiou quando a mulher, gemendo baixinho, o abraçou e aproximou seus lábios do rosto dele.
            Nelson ficou calado, sem reação, ela estaria sendo boazinha com ele por tê-la salvado, era só isso ?
            Nelson sentiu aqueles lábios macios deslizarem por sua face, sentiu os dentes dela arranharem seu pescoço.
            -Espere moça! Eu estou de trabalho sabe? Eu... ARRRGGHHH!!! -
            O grito explodiu da boca de Nelson quando ele sentiu a bela moça arrancar um grande pedaço de carne de seu pescoço em uma mordida faminta.
            Nelson Cambaleou para trás com uma das mãos tentando estancar a hemorragia do pescoço e sacou a arma. Foi então que ele reparou minuciosamente na aparência da mulher, ela era lora, de cabelos anelados, usava vestido branco longo e tinha a pele muito pálida, mas seus lábios estavam roxos, os olhos eram brancos e havia algodão em suas narinas.
            -Não, isso não é possível! - Balbuciou Nelson cambaleando para trás, foi quando ele reparou no vestido rasgado e na grande marca de mordida no ombro da mulher. –Você é uma defunta! Está morta e foi enterrada na tarde de ontem, agora me lembro do seu rosto na foto ao lado do caixão. Mas como pode estar de pé?
            Gemendo, com os braços esticados para a frente a defunta veio cambaleando em direção a Nelson enquanto terminava de mastigar o pedaço suculento que arrancara dele.
            -Puta desgraçada!! – Berrou Nelson puxando o gatilho e atirando várias vezes na defunta. –Volte para sua maldita cova!!

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CAPÍTULO 5

Apenas quando um dos tiros atingiu o meio da testa da mulher morta que esta tombou sobre a terra molhada e não mais se mexeu.
            Nelson sentia a ferida no pescoço latejar de dor. O misto de dor e horror dilaceravam seus nervos.
            Enquanto o coveiro tentava entender toda aquela maldita merda, acima do sussurro do vento, ele ouviu aquele som medonho, de gemidos. O som apavorante vinha de diversos lugares, parecia sair das catacumbas.
            Naquela noite macabra, Nelson sentiu o sangue gelar em suas veias quando seus olhos cansados e apavorados fitaram os defuntos caminharem entre as sepulturas, gemendo e sussurrando a canção dos mortos.
            -Não! Não é possível! – Nelson ergueu sua arma e começou a atirar na silhueta dos mortos-vivos que cambaleavam em sua direção. –Morram novamente seus miseráveis!!
            Eram muitos zumbis, todos eram mulheres. Estavam nuas, tinham as roupas rasgadas com sinais de que haviam sido abusadas.
            As balas da arma de Nelson acabaram. Debilitado pela perda de sangue ele não conseguiu desviar daquela pequena horda de zumbis famintos, que o envolveram com seus braços apodrecidos e cravaram seus dentes em sua pele macia e suculenta.
            -Nãããããoooooooo!!! – O grito de Nelson explodiu na calada da noite.
            Mas enquanto era devorado vivo Nelson entendeu que o maldito necrófilo, de alguma forma bizarra, havia transmitido o vírus zumbi para os cadáveres das mulheres que ele havia estuprado, dando início ao apocalipse zumbi.
            Ah! Como Nelson queria poder avisar as autoridades policiais sobre essa terrível calamidade e salvar o mundo. Mas logo sua descoberta se apagou, assim como sua vida, quando um dos zumbis abocanhou seu crânio, provocando um ruído doentio, e em seguida começou a sorver seu cérebro em chupadas deliciosas como quando comemos macarrão Miojo.

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