Escrito
por ALLAN FEAR
CAPÍTULO
1
O Impala 77 acelerava
pela estrada deserta envolta em uma névoa azulada e fantasmagórica. Passava
poucos minutos das cinco horas da tarde, mas as nuvens opressoras que cobriam o
céu transformaram o dia em noite.
Ao volante surrado do veículo preto Kinsly Morvdson
pisava fundo no acelerador, ele estava ansioso para chegar na festa infantil
para a qual ele havia sido contratado através de um anúncio na Internet.
Kinsly já estava vestido sua fantasia de palhaço, tinha a
face pintada com muita maquiagem colorida e um sorriso de escárnio em seu rosto
rechonchudo.
Kinsly e seu Impala 77, sempre viajando para onde fosse
chamado. O destino dessa vez era a desconhecida cidade de Hawthersville, uma
mulher chamada Jaqueciane havia mandado um e-mail três dias atrás solicitando
os serviços de Kinsly para a festa de 10 anos de seu filho Jacob na Hollow Street
número 13.
Por baixo do sorriso no rosto de Kinsly pintado com um
extravagante batom vermelho, seus lábios se abriam em um sorriso perverso e
frio como seus olhos azuis. Jaqueciane não sabia os planos horríveis que ele
tinha para seus filhos.
O trabalho de Kinsly era fazer as crianças sorrirem e
gritarem, mas matar era o que ele sabia fazer de melhor.
CAPÍTULO
2
O Impala 77 cantou pneu
em uma curva sinuosa ladeada por um precipício e Kinsly teve que usar de muita
agilidade para não capotar o carro. Ele já estava furioso por ainda não ter
chegado em Hawthersville. A maldita cidade era muito mais longe do que a mulher
havia informando no e-mail.
Mas não importava. Kinsly continuaria acelerando, fazendo
os faróis de seu veículo rasgarem a escuridão gélida daquela estrada deserta.
Kinsly sentia à guisa do sadismo correndo junto com o
sangue em suas veias, ele queria ver os rostinhos jovens e inocente de suas
novas vítimas. Ele podia ouvir o tilintar de suas facas na bolsa no banco de
trás, ansiosas para cortar mais carne.
Logo uma chuva fina começou a cair. Mais à frente, quase oculta
pela névoa espessa, Kinsly viu a placa verde que dizia: Bem-vindo à Hawthersville em grandes letras brancas, mas havia algo
pinchado com tinta vermelha sobre os dizeres.
Kinsly diminuiu a velocidade e conseguiu ler as grandes
letras vermelhas que escorriam como sangue, dizia: Não vá para Hawthersville, o mal habita esse lugar.
Kinsly sorriu ainda mais, ele adorava cidades com
histórias macabras. Com certeza alguém malvado já havia passado por lá e
deixado marcas dolorosas.
Agora era a vez de Kinsly também chocar os moradores de
Hawthersville com sua psicopatia voraz e carniceira.
CAPÍTULO
3
Por fim o Impala 77
ganhara a Hallow Street, andando devagar enquanto Kinsly checava os números das
velhas casas.
Lá estava a casa de Jaqueciane, o número 13, bem ao lado
de um cemitério. Era uma casa de aspecto rústico, de dois andares e com a
frente gramada.
Kinsly parou o carro na entrada da casa e desceu do
veículo sentindo uma lufada de ar gélido soprar em seu rosto. Sob a luz
amarelada de um poste suas vestes coloridas brilhavam.
A chuva caía mansa e contínua. Ele andou até a porta da
casa e apertou a campainha.
Não demorou e um rapazinho agasalhado e com chapeuzinho
de festa abriu a porta. Kinsly reparou que ele usava uma máscara de palhaço
feita de papel.
Sem dizer nada o menino pegou Kinsly pela mão e o
conduziu pela casa onde uma música divertida tocava. O aposento estava quente e
com um forte cheiro de perfume, do tipo usado para esconder a limpeza porca.
Enquanto era conduzido Kinsly apertava firmemente aquela
mãozinha pequenina e fria do menino. Pensamentos sinistros passavam por sua
cabeça, seu coração disparava dentro do peito, ele adorava aquele momento que
precedia a hora de matar.
Kinsly examinava o local, procurando pela senhora
Jaqueciane ou qualquer adulto, mas a casa parecia vazia exceto pela balbúrdia
mais à frente.
O garotinho conduziu Kinsly até um grande cômodo da casa
e fechou a porta. Lá estava cheio de crianças, elas pulavam, brincavam com os
balões e jogavam docinhos umas nas outras. Ele reparou que todas as crianças
usavam máscaras diversas, de personagens como unicórnios, fadas, palhaços e
super-heróis, eram no total cinco meninas e sete meninos, todos aparentando ter
entre dez e oito anos.
Tudo era uma festa. Haviam várias cadeiras de plástico e
um palanque com caixas de som e uma grande mesa em frente com bolo, copos de
plástico descartáveis e muitos comes e bebes.
Kinsly assumiu seu lugar no palanque, o anfitrião que
deveria ser Jacob, o aniversariante, abaixou o volume da música e todos se
sentaram e voltaram seus olhares para o centro do palanque.
Era hora do show.
CAPÍTULO
4
Kinsly olhou um por um
daqueles rostinhos inocentes escondidos por máscaras de papel e começou
contando algumas piadas totalmente inapropriadas para crianças:
“Diga-me
Manoel, tua mulher faz sexo com você por amor ou por interesse?
– Olha Joaquim eu acho que é por amor…
– Como é que você sabe?
– Porque ela não demonstra nenhum interesse!!!”
– Olha Joaquim eu acho que é por amor…
– Como é que você sabe?
– Porque ela não demonstra nenhum interesse!!!”
Sorrisos incontidos
saíram da boca de algumas crianças, outras apenas desviaram o olhar do
palhaço. Kinsly sabia que eles estariam
chocados, afinal adultos sempre escondem as melhores piadas das crianças.
“O sujeito,
decepcionado, se lamenta com os amigos
– Vocês não vão
acreditar! Minha mulher agora está cobrando para fazer sexo comigo! Outro dia
ela cobrou 100 reais!
– E você ainda
reclama? Pra nós ela está cobrando 200!”
As crianças não
aguentaram e começam a rir e agitar a cabeça. Kinsly sorri, satisfeito por
estar jogando aquelas piadas sujas para aquelas mentes inocentes,
corrompendo-as.
“Na
hora do sexo um ajuda o outro a ficar pelado.
Depois do sexo cada um se veste sozinho.
Moral da história: Ninguém te ajuda quando você tá fodido!”
Depois do sexo cada um se veste sozinho.
Moral da história: Ninguém te ajuda quando você tá fodido!”
Kinsly continuou com
suas piadas sujas, depois retirou uma pomba branca de uma gaiola em sua bolsa e
mandou que todos prestassem atenção naquela mágica.
Ele colocou um lenço branco sobrea a cabeça da ave segura
em sua mão, louca para sair, lançou um olhar de suspense para sua plateia
jovem, ficando desapontado por não poder ver a expressão naqueles rostinhos
inocentes.
Então ele retirou o lenço da cabeça da ave e todos
ficaram confuso, pois nada havia acontecido, o animal continuava lutando para
sair, batendo suas asas. Então Kinsly
ergueu a pomba segura por sua mão esquerda para que todos pudessem vê-la,
depois levou-a perto de sua face e abocanhou a cabeça do bicho numa mordida
faminta, fazendo seu sangue vermelho-brilhante esguichar.
CAPÍTULO
5
Kinsly cuspiu a cabeça
do bicho próximo das cadeiras onde as crianças se sentavam e esperou ouvir seus
gritos de terror. Mas isso não aconteceu.
Kinsly as encarou, uma a uma, elas não esboçaram reação.
-Aposto que aqui nesta cidade de merda vocês já estão
acostumados a fazer isso, né seus merdinhas? – Resmungou Kinsly aborrecido,
jogou o cadáver da pomba no chão e disse: -Já chega! É hora de todos vocês
tirarem suas máscaras, eu vou escolher dois de vocês para uma grande surpresa.
As crianças continuaram paradas, olhando para Kinlsy,
como se esperassem mais piadas.
-Vamos, eu não tenho a noite toda, tirem essas máscaras e
me deixem ver seus rostos de merda! – Gritou o palhaço começando a perder a
paciência.
As crianças começaram a obedecer, ficando de pé e
removendo suas máscaras.
Era a hora que Kinsly mais gostava, onde ele escolhia
suas vítimas sob a mentira de irem até seu carro para pegarem o presente. Era a
hora em que ele sequestraria duas crianças na surdina e as levariam em seu porta
malas para nunca mais serem vistas. Elas seriam partes de seus jogos doentios de
horror.
Kinsly sorria enquanto descia do palanque para examinar
aqueles rostinhos inocentes de suas futuras vítimas.
Kinsly sempre gostava de levar o anfitrião, e dessa vez ele
poderia sequestrar um casal para seus jogos mortais.
CAPÍTULO
6
-Mas que merda? –
Praguejou Kinsly ao estudar os rostos das crianças. Elas eram pálidas, com
olheiras profundas e um ar doentio. –Vocês estão doentes? Seus pais nunca
levaram vocês para tomar sol?
-Hahaha... – Gargalhou Kinsly, - Foi uma piada seus
bostinhas, afinal nessa cidade de merda aposto que nunca tem sol, esse vale é
um puta de um buraco. Mas deixa eu escolher quem vai ganhar uma grande surpresa
que está no porta-malas de meu carro.
Kinsly não achou estranho as crianças se aglomerando à
sua volta. Ele estava estudando seus rostos pálidos a procura de suas vítimas
quando as viu abrirem as bocas e exalarem um rugido medonho, como o guincho de
um animal faminto.
-Mas que merda é essa? – Indagou o palhaço assustado
quando dezenas de braços o agarraram e o puxaram para o chão. –Me larguem seus
filhos da puta!
-Aaaaaaahhhhhhhhh!!! – Os gritos de horror e dor
explodiram da garganta de Kinsly quando ele sentiu as dentadas, a primeira foi
em sua orelha, a segunda em sua bochecha e em segundos ele estava sendo
devorado por aquelas crianças famintas que rosnavam como animais a medida que
seus dentes trituravam grandes pedaços de carne e vísceras.
O banquete naquela noite sombria estava servido.
A porta do aposento foi aberta e duas mulheres bem
vestidas surgiram, ficando paradas no umbral. Elas usavam lenços no nariz para
amenizar o fedor que começava a encher o aposento misturado com fortes
essências florais.
-É tão bom ver nossas crianças se alimentando. – Comentou
Jaqueciane, uma morena alta e elegante. –Quando vivo, Jacob adorava palhaços e
vejo que mesmo após voltar dos mortos seu gosto ainda não mudou.
-Eles parecem pequenos animais famintos. – Comentou a
amiga, uma lágrima rolou por seu olho direito. –É uma pena que jamais irão
crescer, serão zumbizinhos para sempre.
-Mas eles estarão seguros em Hawthersville, - Disse
Jaqueciane. –e sempre poderemos conseguir esses tipos estranhos para servir de
alimento, aposto que ninguém dará pela falta dele.
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