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O VÍRUS MORTAL


https://www.youtube.com/watch?v=HrPLLnQyF4M&t=60s

Escrito por ALLAN FEAR



CAPÍTULO 1

O sol queimava em um céu azul límpido. Passava pouco do meio-dia, a correria no centro da cidade seguia estressante, transito engarrafado e motoristas apressados que não economizavam nas buzinas.
            -Cara, eu ferrei aquele bosta- dizia Rodrigo, um jovem de 21 anos, para seus dois colegas encostados na parede branca ao lado de uma agência bancária, de frente para a praça da São Devormu. –O filho da puta sempre chegava bêbado em casa e brigava com minha velha, mas neste fim de semana ele quis botar a mão nela.
            Seus dois colegas, um rapaz conhecido como Pedrosa, alto, de pele clara, mas bronzeada pelo sol, ouvia os relatos, enquanto segurava algumas correntinhas douradas e prateadas de metais vagabundos e oferecia a quem passava. Ao seu lado, uma garota, a quem todos chamavam de Lora, tragava um cigarro e brincava com o piercing na língua, prendendo-o entre os dentes.
            -Era domingo a noite, saca?– falou Rodrigo gesticulando, seu semblante estava meio distorcido num misto de raiva com frustração, mas salpicado de um certo assombro. –Eu estava jantando, aí ele já chegou reclamando e de repente ele pegou a minha velha pelo pescoço e ergueu o punho fechado, cara ele ia arregaçar a cara dela.
            -O sangue ferveu e eu puxei ele, caímos os dois, eu tava com a faca de serrinha que cortava o bife, aí eu furei ele até botar suas tripas pra fora. Foi que nem linguiça saindo da maquina no açougue, saca?
            -Pô Rodrigo, mandou bem- elogiou Lora, cumprimentando-o com seu melhor aperto de mão. –Mas e aí o que quê pegou depois?
            -A velha mandou eu dar no pé até a poeira baixar, aí pensei em passar uns dias com você prima. Você sabe, eu posso ajudar nos corre.
            -Tamo junto velho, - murmurou Pedrosa em sua voz áspera, fitando Rodrigo com aquele olhar de malandro e cumprimentando-o. –Família da Lora é sempre bem-vinda na nossa comunidade morou?
            Rodrigo agradeceu, exibindo seu sorriso torto, de dentes encavalados e encardidos.
            Mentir se tornara tão fácil, ele sabia fazer com emoção, às vezes até chegava a acreditar em suas mentiras. Ele queria ter matado o pai, queria mesmo, mas não era forte, ou mesmo corajoso o suficiente.
            Rodrigo tentava ser durão, sabia que precisava disso para sobreviver nas ruas desde que largou a escola e decidiu vadiar.
            Ele tentou mesmo deter o pai quando este estapeou sua mãe, mas o homem era mais forte e o ameaçou com uma peixeira. Rodrigo ainda sentia o pequeno furo que a faca lhe causara uns centímetros acima do umbigo. O pai lhe falara tanto, um belo sermão, e jurou que o abriria como um porco. Era difícil duvidar, pois estava com uma faca pressionada em sua barriga, penetrando em sua pele lentamente.

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CAPÍTULO 2

            A mãe implorou para que o pai o deixasse ir e Rodrigo ficou paralisado pelo medo, se borrando todo, sem reação.
            O homem pensou por um instante, com a faca na barriga de Rodrigo, e o libertou, cuspindo-lhe ameaças amargas, afinal era o único da casa que trabalhava e achava que a mulher e o filho eram suas propriedades.
            O pai o libertou e deu-lhe uma hora para juntar suas tralhas e dar o fora dali, do contrário quando voltasse para o barraco, o esfolaria vivo.
            Rodrigo sabia que o pai tinha uns homicídios nas costas, já estivera preso algumas vezes, e sabia bem que ele cumpria suas promessas. Era um homem frio, nervoso e explosivo.
            A mãe implorou para que Rodrigo fosse embora, tinha lágrimas nos olhos. Ela temia o marido, chorava e implorava, mas aceitava ser espancada, se submetia as suas fantasias sexuais doentias.
            Rodrigo juntou algumas tralhas e deixou o barraco onde morava, descendo o morro da Vila na calada da noite quente de verão.
            Rodrigo sabia que sua prima e os amigos dela vadiavam na rua, roubando, usando drogas e aprontando. Mas que escolha ele tinha? Pelo menos assim ele descolava uns trocados, pois os 30 reais que a mãe lhe dera não duraria muito.
            Pedrosa usava de suas artimanhas da rua, fingia conhecer alguns jovens que passavam e estendia a mão para cumprimentá-los, com o intuito de vender as correntinhas. Era um truque funcional, pois a pessoa olhava para Pedrosa e ficava tentando se lembrar de onde o conhecia, e isso era a deixa para fazer o cumprimento e já ir colocando a correntinha no pescoço da vítima, forçando-a a comprar.
            -Qual é a boa de hoje?- indagou Rodrigo, de braços cruzados em frente ao peito, sobre o blusão vermelho, tentando disfarçar suas preocupações.
            -O lance tá na moral – falou Lora chegando mais perto dele, -tamo nos esquemas de celular morou?
            -Vem com a gente,- chamou Pedrosa, colocou as correntes que segurava no próprio pescoço e seguiu, com seu gingado de malandro pela rua, atrás de um coletivo vermelho que parara em um ponto para pegar passageiros.
            -Observa- murmurou Pedrosa voltando-se para Rodrigo.
            Pedrosa parou próximo ao ônibus, olhando atentamente os passageiros sentados próximos à janela e viu uma moça loira, aparentando uns 25 anos, com um Smartphone na mão, digitando concentrada no teclado de um aplicativo de mensagens.
            Pedrosa preparou seu bote, olhando ao redor, se certificando de que não havia policiais por perto ou potenciais ameaças, esperou ouvir o ruído de ar quando o motorista fechou a porta do veículo e pisou com força no acelerador. Foi neste exato momento que, impulsionado pela adrenalina, Pedrosa deu seu bote, saltando e pegando o celular da jovem moça, agarrando-o com sua mão forte, puxando-o com força.
            A moça gritou de surpresa, chamando a atenção dos demais passageiros, enquanto Pedrosa pousou os pés no chão e começou a correr.
            Lora fez sinal com a cabeça para Rodrigo que estava aturdido e correram para o lado oposto de Pedrosa.
            Pedrosa ouviu gritarem: “pega ladrão” enquanto corria entre os carros, desviando deles. Cruzou uma esquina e viu um policial gordo atravessar a rua e vir em sua direção.


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CAPÍTULO 3

            Mas o policial não estava no mesmo pique que Pedrosa, os poucos passos que dera, já havia acabado com seu fôlego, seu rosto branco e gordo estava vermelho, minando suor.
            Pedrosa desapareceu de sua vista por entre os carros, dando trombadas em alguns pedestres e cinco minutos depois se encontrou com Lora e Rodrigo embaixo de um viaduto, na Hollow Street, onde havia muitos papelões sobre o chão.
            Pedrosa chegou e os conduziu por uma boca de lobo para os esgotos, escondida debaixo dos papelões. Desceram as escadas de ferro e Rodrigo viu que era ali o quartel general dos vagabundos de Hawthersville.
            O local era uma parte desativada dos esgotos, provavelmente uma obra inacabada, e não passava um canal por ali. Estava seco, muitas moradas de papelão se estendiam pelo perímetro. Tambores com chamas crepitando serviam de iluminação. Fogões de lenha feitos de tijolos se estendiam entre uma morada e outra. Um cheiro de urina com carne assada pairava no ar.
            Outros vagabundos conversavam e bebiam na extensão do esgoto. Uns riam e dançavam. Outros estavam caídos pelos cantos, provavelmente de porre.
            Pedrosa retirou da cintura e exibiu um grande aparelho celular de cor dourada.
            -O Edu vai pagar uma nota nesse aí!- exclamou Lora sorrindo e pegando o celular e examinando-o nas mãos. Depois ao devolveu ao amigo e acendeu outro cigarro, ofereceu um ao Rodrigo, mas este recusou.
            -Já que cê tá com a gente, a meta vai ser conseguir uns 10 aparelhos hoje pode crê?- indagou Pedrosa abraçando Rodrigo pelo pescoço, naquela conversa de manos.
            -Pode deixar comigo- assentiu Rodrigo, sentindo um arrepio gelado percorrer seu corpo. Não era muito bom em roubar, ele sabia que tinha que fazer o que fosse preciso para sobreviver, mas não levava muito jeito pra coisa.
            No ano passado, com uma turma com quem andava, disseram que era a vez dele, e tentou roubar o relógio de uma mulher na rua, quando ela saia de uma loja, era quase final de tarde. Chegou nela por trás, como seus colegas faziam, e foi metendo a mão em seu relógio, mas não conseguiu que ele se soltasse do seu braço e a mulher começou a gritar, era uma senhora já na casa dos 50.
            Desesperado pelos gritos da mulher, sentindo as pernas moles, tremendo como vara de bambu, ele começou a correr e, para seu espanto, um homem corpulento e alto, saiu de uma loja e veio atrás dele, cuspindo ameaças.
            Rodrigo nunca correra tanto na vida e só conseguiu escapar depois que quase foi atropelado por um carro, ganhar um dos becos do morro e subir em disparada.
            Depois disso foi muito zombado pela galera e decidiu não andar mais com eles. Jurou para si mesmo que não iria mais roubar as pessoas.
            Mas ali estava ele, sabia que se não ajudasse a roubar não o iriam aceita-lo no bando. Ele não tinha pra onde ir, não tinha mais parentes em Hawthersville e sabia que se ficasse sozinho pelas ruas seria estuprado ou mesmo morto.
            Que escolha ele tinha ?
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CAPÍTULO 4

Sua tia Rosaura, mãe da Lora, preparou para eles uma carne bovina com pães dormido. Ele comeu avidamente. A mulher era uma viciada em crack, morava ali, debaixo do viaduto da Hollow Street. Era magra e os traços de parentesco com Lora já haviam desaparecido.
***
            Após a refeição saíram os três para a rua. O dia seguia quente, a temperatura chegando aos 37 graus.
            - Vamos para o centro- disse Pedrosa, deu num longo trago no Derby e continuou –quero ver você agir mano, sempre vamos pra lá nesse horário. Lá é sossegado e os tiras não aprecem, é dar o pulão e correr pra casa.
            -Não tem erro primo, - começou Lora, abraçando Rodrigo pelo pescoço, -você dá o bote e corre, até a pessoa se dar conta do que tá acontecendo cê já se mandou.
            -Pode Crê- assentiu Rodrigo, nervoso, apreensivo.
            -Aqui nos damos o bote nos balai verde já é?- indagou Pedrosa.
            -Por que os verdes?
            -Se liga brow, eu já matutei o lance todo, os move não abrem a janela, e os verde que passam aqui não tem ar condicionado, aí é manha dar o bote porque sempre tem um com a janela aberta, distraído no celular.
            -Saquei
            -É só dar o bote e vazar, é super de boa- falou Lora dando no primo um soco no ombro de brincadeira.
            Os jovens ficaram próximos a lanchonete, Pedrosa ofertando suas correntinhas vagabundas, então fez sinal para Rodrigo agir quando viu o ônibus da linha verde parou no ponto.
            Rodrigo apreensivo, nervoso, sentindo o misto de medo com adrenalina invadir seu corpo, lutando contra as pernas que tremiam, olhou, da calçada, para as janelas abertas do ônibus, e lá estavam três potenciais vítimas sentadas nas poltronas com as janelas abertas, cada uma com um smartphone nas mãos. Ele poderia escolher de quem roubar.
            A primeiravítima era uma mulher, aparentava uns 45 anos, estava sentada próxima a roleta do cobrador. Era uma mulher gorda, segurava o telefone com a mão direita e falava através do gravador de voz.
            A segunda vítima era um rapaz jovem, de uns 20 anos, estava sentado na cadeira mais alta, que ficava sobre as rodas traseiras do ônibus. Segurava o telefone com a mão esquerda e parecia ler algum artigo.
            A terceira vítima era uma adolescente, estava sentada na última cadeira, depois da porta traseira, e segurava um grande telefone de cor branca com o logo de uma maçã meio mordida, digitando freneticamente.
            Rodrigo sabia que tinha pouco tempo, mas precisava vencer o nervosismo, pois apenas cinco pessoas estavam embarcando no ônibus e outras duas descendo.
            Precisava ser rápido, e diante da situação, em sua mente, a terceira vítima parecia a melhor opção, pois uma adolescente não teria força para segurar o telefone quando ele o puxasse, e como ela estava na parte de trás do veículo, seria mais ágil pegar e já se distanciar rapidamente do veículo.
            Era hora de agir, o último passageiro já havia embarcado no ônibus, Rodrigo deu um pique até o veículo, ouviu o ruído de ar quando o motorista fechou a porta, chegou perto e já ia dar o bote quando a menina parou de digitar e olhou para ele, com um ar interrogativo estampado no rosto pálido e delicado.
            Rodrigo sentiu a respiração presa na garganta, o ônibus começou a acelerar, e sem pensar, agindo apenas por impulso, ele usou a mão esquerda para apoiar na janela e saltou, enfiando sua mão dentro do veículo e puxou com força o telefone.
            A menina deu um grito estridente, agudo, enquanto ele pousava os pés no asfalto e se preparava para correr, mas o grande telefone caiu de sua mão, se espatifando no chão.
            Rodrigo pensou em pegar o aparelho assim mesmo, mas ouviu o som das rodas do ônibus derraparem e o veículo parar e abrir as portas.
            O coro “pega Ladrão” explodia de dentro do ônibus, enquanto Rodrigo corria como um louco. Corria para longe dali, corria enquanto a palavra de seu pai lhe retumbava na mente: “Fracassado”. A palavra que ele usava para defini-lo desde sua infância. “Fracassado”.“Fracassado”.“Fracassado”.


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CAPÍTULO 5

            Rodrigo estava ofegante quando parou debaixo do viaduto da Hollow Street. O suor lhe minava da testa.
            -Que merda cê fez lá cara?- indagou Pedrosa saindo das sombras, uma carranca estampada na face cinzenta. –cê ferrou tudo seu cuzão!!
            -Me desculpem- murmurou Rodrigo cabisbaixo, com uma mão apoiando o corpo numa das vigas do viaduto, tentando recuperar o fôlego. –A mina se virou e me encarou, daí tentei pegar o telefone, mas ele escorregou da minha mão e...
            -Esquenta não primo- começou Lora, se aproximando dele, acendeu um cigarro. –A gente volta lá e consegue meter a fita noutro otário.
***
Passava pouco das 16 horas. O sol começava a mudar de cor, lançando seus raios avermelhados pelas ruas e prédios. Pedrosa e seus amigos estavam de volta na praça São Devormu, observando o movimento.
            As pessoas passavam apressadas em seus carros ou a pé enquanto outras, angustiadas, esperavam pelos ônibus nos pontos.
            A turma sondava os pontos, quando Pedrosa olhou para uma das paradas de ônibus do outro lado da rua e viu algo que lhe causou um arrepio nas costas.
            No ponto de ônibus havia quatro pessoas, eram elas: um cadeirante já idoso com um jornal dobrado repousando sobre seu colo, dois homens altos, magros vestindo ternos pretos, conversando animadamente e uma mulher estranhamente magra e de pele muito clara, aparentava ter uns 40 anos. O que chamou a atenção do marginal foi o grande celular preto que ela segurava com um desenho de uma maçã mordida na parte de trás.
            Pedrosa sabia que aquele celular valeria uma fortuna. Se não fosse pelos dois homens, com certeza teria o surrupiado da pobre mulher ali mesmo no ponto, mas seria arriscado. Valia a pena esperar ela entrar no ônibus e quem sabe tivesse sorte de efetuar o furto pela janela como era de costume.
            Entre um cigarro e outro, inquieto, Pedrosa ficou esperando. Mais adiante Lora e Rodrigo o observavam, já haviam entendido o que ele planejava fazer.
            Não levou cinco minutos para que um ônibus vermelho aparecesse e a mulher erguer o dedo em sinal para que parasse.
            O ônibus parou no ponto, a mulher embarcou, seguida dos dois homens então o cobrador acionou o elevador do veículo e ajudou o cadeirante a embarcar também.
            Pedrosa viu a mulher magra, de cabelos pretos e ralos passar o cartão e rodar a catraca, em seguida se sentou numa cadeira ao lado da janela e retornou a digitar no telefone.
            Pedrosa não viu mais nada, como se tudo estivesse borrado, a não ser a mulher com o telefone na mão, ao lado da janela totalmente aberta, esperando por seu bote.
            Como um felino, Pedrosa andou sorrateiramente em direção ao ônibus, pronto para dar o seu melhor bote.

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CAPÍTULO 6

            Quando ouviu as portas do ônibus se fecharem e o ronco do motor que fez o ônibus começar a andar, Pedrosa deu o bote, pulando na janela e enfiando sua mão no interior do veículo em busca do celular.
            Mas para seu espanto, a mulher, que parecia distraída numa conversa, afastou seu corpo, colando-se ao encosto do banco, fazendo a mão de pedrosa passar direto. Mas quando foi puxar seu braço, frustrado pela astúcia da mulher, Pedrosa sentiu mãos fortes o agarrarem com força.
            -Hey!!- gritou Pedrosa surpreso, -Mas que merda é essa?
            O ônibus acelerava, ganhando velocidade, fazendo pedrosa correr para acompanhar o veículo enquanto se debatia, tentando soltar seu braço.
            -Me larga seus merdas!- xingou Pedrosa ao conseguir ver dois homens abaixados junto aos bancos, ele os reconheceu, eram os dois que estavam no ponto, vestindo ternos pretos. –O que vocês querem seus viados?
            Então Pedrosa sentiu uma fincada no braço, exatamente como uma agulhada, em seguida uma pressão, estavam injetando algo em seu braço. Ele berrou a plenos pulmões e rapidamente o soltaram, fazendo ele cambalear no asfalto para em seguida cair sobre o solo duro e quente.
            Lora e Rodrigo o acudiram e o ajudaram a sair da rua. Pedrosa havia ralado os cotovelos e o joelho direito na queda.
            -Mas que porra foi aquela?- Indagou Lora, estudando o rosto de Pedrosa. –Por que aqueles caras te agarraram?
            -Eles me seguraram e me espetaram com uma agulha- vociferou Pedrosa, estava furioso. Examinava o braço direito, onde no antebraço havia um pequeno furinho de onde escorria uma gota de sangue. –Tá vendo, olha a picada da agulha aqui! Essa merda tá ardendo pra cassete.
            Rodrigo estava olhando, incrédulo, sem reação.
            -Por que eles fizeram isso?- indagou Rodrigo num fio de voz.
            -E eu é que vou saber? Esses filhos da puta do caralho.
            -Deve ser alguém que teve o celular roubado e agora tá se vingando.- falou Lora, pensativa. –Mas foi estranho, parece até que estavam armando pra gente.
            -Vamos pra outro pedaço,- murmurou Pedrosa andando, procurando seu maço de cigarros nos bolsos da bermuda. –Se eu pegar aqueles filhos da puta vou fazê-los engolir aquela seringa com agulha e tudo.
***
            Pedrosa e seus amigos continuaram a rondar as ruas da cidade a procura de novas vítimas, mas ele não se sentia muito bem, grossas olheiras começavam a se formar sob seus olhos, sua cabeça latejava de dor e seu corpo ardia em febre, estranhos calafrios se espalhavam por sua nuca. Seu braço direito parecia pesado, dormente.
            -Cara você não parece nada bem- disse Rodrigo, encarando o amigo. –Vamos pro hospital, pra saber o que tinha naquela seringa e...
            -Seu bosta- rosnou Pedrosa pegando Rodrigo pela gola do blusão. –Você acha que os médicos estão se lixando pra moradores de rua? Se eu for lá é bem capaz de chamarem a polícia pra mim e falar que eu tentei roubá-los.
            -Aqui nas ruas uns cuidam dos outros- falou Lora passando um braço em torno do ombro de Pedrosa, ajudando-o a caminhar. –Vamos voltar pro nosso lar. Lá você toma uns comprimidos pra febre baixar e descansa um pouco.
            Seguiram em silêncio, Pedrosa estava ofegante, com o suor minando de seu corpo. Os olhos quase fechados, avermelhados, a pele cada vez mais pálida. O local da picada no braço inchando como um furúnculo.
            O sol estava se pondo, já passava pouco das 18 horas quando chegaram na Hollow Street e entraram para o subterrâneo do viaduto.
            Lora deu alguns comprimidos para Pedrosa, alguns copos com água e uma sopa. Deixou-o deitado e colocou compressas de pano úmido em sua testa na esperança de baixar sua temperatura. Depois jantaram ovos fritos com tomate e beberam um pouco de rum barato sob a luz das chamas que queimavam nos tambores.
            Rodrigo ficou surpreso com a quantidade de moradores que habitavam aquele espaço. Eram por volta de algumas dúzias, dentre eles homens, mulheres e crianças. Havia também alguns cães vira latas.
            Depois da janta, todos começaram a se aninhar em seus barracos de papelão e edredom para dormir. Rodrigo ficou num barraco amplo com Lora e Pedrosa. Era simples, papelões e edredom forravam o chão e a coberta era um tecido xadrez, igual aos usados em redes de balanço.
            Desde que jantara a sopa que Lora lhe dera na boca, Pedrosa não falou mais, tentava dormir, enquanto o corpo tremia. Lora dissera que ele iria melhorar, os remédios o deixariam com muito sono e quando acordasse estaria melhor.
            Mas Rodrigo não sabia se poderia acreditar em sua amiga. Pedrosa estava muito mal. O braço direito estava ficando roxo e tremia bastante.  O local da picada da agulha já estava inflamado, inchado do tamanho de um pêssego.
            Por fim todos já estavam dormindo, exceto Rodrigo, que se sentia inquieto com a respiração ruidosa de pedrosa e aquele cheiro de carniça que começou de repente. De inicio ele pensou que algum sem teto estivesse defecando por perto.
            Lora estava deitada em uma extremidade do barracão e dormia profundamente. No meio estava Pedrosa, deitado de barriga para cima e do seu lado direito estava Rodrigo.
            Ainda havia um tambor com fogo lá fora, fazendo sua luz entrar por algumas frestas no papelão que servia de parede do barracão, deixando o local numa penumbra. Rodrigo se levantou, pegou uma garrafa de água numa prateleira improvisada de madeira e deu duas longas tragadas, ele estava arrasado com sua situação, expulso de casa, ter de roubar para sobreviver correndo risco de ser morto ou preso.
            Rodrigo guardou a garrafa na prateleira e se aproximou de pedrosa, tapando o nariz com a gola da blusa. O fedor estava mais forte e parecia vir do moribundo.
            Rodrigo notou que o braço de Pedrosa estava cheio de bolhas que iam inchando, se tornando cada vez maiores. O braço estava cada vez mais roxo. Parecia tão grande quanto sua coxa.
            Algo estava errado. Isso Rodrigo sabia. Mas o que havia sido injetado no braço de pedrosa? O que iria acontecer com ele? Será que ele sobreviveria àquela noite?

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CAPÍTULO 7


            -Lora- chamou Rodrigo, estudando as bolhas no braço de Pedrosa que cresciam, atingindo o tamanho de laranjas. –Lora, acorda! Tem algo errado acontecendo com o braço do Pedrosa.
            Ela acordou sonolenta, piscando e cambaleou de joelhos até o amigo.
            -Porra- grunhiu ela tapando o nariz e a boca com a palma da mão, -Que carniça. Esse fedor...
            -Tá vindo do braço, olha- falou Rodrigo apontando para o braço inchado, de cor roxa cujos caroços não paravam de crescer. –Parece que vão...
            “Bruurffff” Foi como o som de um peido nojento quando os caroços começaram a estourar, liberando uma gosma malcheirosa e antes que pudessem protestar, os olhos de Pedrosa se abriram, olhos vermelhos cheios de sangue, e de sua boca um urro animalesco explodiu no pequeno barracão.
            Enlouquecido de dor, de desespero, com uma dose absurda de adrenalina pulsando em seu peito, Pedrosa, aos berros ensandecidos, levantou suas mãos e agarrou seus amigos, puxando-os.
            Sua mão direita agarrou no rosto de Rodrigo, enterrando dois dedos em sua boca e apertando de forma sobre humana, enquanto a mão esquerda agarrou o pescoço de Lora, estrangulando-a, esmagando sua traqueia.
            Os jovens tentaram se libertar, gritando, sufocados pela carniça putrefata que lhes penetrava pelas narinas.
            Mas a força ensandecida da loucura de Pedrosa era por demais absurda e deslocou o maxilar de Rodrigo, quebrando-o em seguida.
            Sua mão esquerda torceu o pescoço de Lora como se torce o pescoço de uma galinha.
            Os outros sem teto arrancaram os papelões do barracão para ver do que se tratava toda aquela gritaria e se depararam com os corpos caídos de Lora e Rodrigo, enquanto Pedrosa, agora com uma aparência inumana, bestial, não apenas com o braço direito inchado, mas todo o corpo, que agora ganhara uma cor roxa, se erguia enlouquecido pronto para atacar e destruir tudo a sua volta, berrando ferozmente.

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CAPÍTULO 8

            Os mendigos, os quatro que haviam acordado, estavam assustados, tentando entender se aquele horror era real ou se fazia parte de seus delírios, tentaram contê-lo.
            Mas Pedrosa, ou aquela coisa asquerosa em que se transformara, os atacou de forma animal, mordendo e dilacerando-os enquanto os furúnculos continuavam a crescer e estourar por todo o seu corpo, liberando uma estranha gosma que ao atingir outras pessoas queimava lhes a pele, como ácido, derretendo até os ossos.
***
            Parado, nas sombras da Hollow Street, já por volta das 4 da manhã, havia um Volvo preto. O Motorista, um rapaz de uns 30 anos, com cabeça raspada e vestindo roupas sociais escuras, olhava para o Rolex de ouro em seu pulso. Estava calmo e sereno. Mascava tranquilamente um chiclete.
            Passados mais cinco minutos ele abriu a porta do Volvo e saiu do veículo carregando uma lanterna. Olhou em volta, a Rua estava calma e deserta, uma brisa fresca soprava do norte.
            O homem foi em direção ao esgoto desativado que ficava embaixo do viaduto. Passou pelos papelões no chão, ligou a lanterna e sob sua luz brilhante achou a entrada secreta dos sem teto.
            Tirou uma máscara especial que pendia sobre o peito e a colocou sobre a face. Ajeitou suas luvas pretas de couro nas mãos e começou a descer as escadas de ferro apoiando os pés e uma das mãos enquanto a outra segurava a lanterna.
            O rapaz chegou ao fundo do esgoto, escuro, silencioso, malcheiroso e contemplou uma cena macabra, onde dezenas de corpos em putrefação se espalhavam pelo perímetro. Todos estavam inchados, com a pele completamente roxa, cheios de perebas e buracos por todo o corpo.
            Ele tirou o celular do bolso e começou a fotografar os corpos, iluminando-os atentamente com a lanterna, dali mesmo, parado próximo as escadas de ferro. Tirou ao menos uma dúzia de fotos, depois retornou as escadas, apesar da máscara, o odor de carniça era demasiadamente insuportável.
            O homem camuflou a entrada do esgoto novamente e voltou para seu carro. Deu a partida e acelerou pela Rua enquanto fazia uma ligação.
            -Como foi?- indagou uma voz feminina do outro lado da linha após o segundo toque.
            -Um sucesso. Exatamente como se dáquando uma barata ingere o veneno e volta para o ninho onde morre e mata todas as outras com ela.
            -Muito bom- disse a mulher, expressando excitação. –Então o Projeto K-9 é um sucesso! Finalmente criamos um vírus capaz de eliminar essa escoria pela raiz. Hawthesville será novamente uma cidade segura.
            -Sim senhora. Pelo que pude ver o individuo infectado se torna agressivo e adquire uma força sobre humana e mata qualquer um à sua volta. E à medida que o vírus entra no estágio três o individuo infectado morre. Como o contágio se dá pelo contato com o infectado ou pela inalação dos gases que seu corpo libera quando os furúnculos crescem e estouram, a eliminação da espécie se dá de forma bem rápida.
            -Maravilhoso!! Você foi ótimo hoje, o plano foi bem simples e rápido, um sucesso total. Eu quero o relatório completo com as fotos amanhã até as 11 horas na minha mesa.
            O rapaz desligou a chamada. O carro ia a 70 quilômetros pela avenida deserta. Diminuiu para passar em um sinal vermelho, observando o cruzamento, quando teve de frear bruscamente ao ver uma garota atravessar na frente do carro e cair no meio da rua.
            -Você está Bem?- indagou o rapaz saindo do carro e indo verificar a jovem. Quando a viu, percebeu, pela forma maltrapilha como se vestia, que era uma mendiga.
            -Perdeu otário- falou uma voz esganiçada em seu ouvido, ele se virou e viu um rapaz alto, vestindo uns trapos, apontar-lhe uma faca no pescoço. –Me dá o Rolex ou te furo seu merda!
            -Pode levar- disse o homem entregando o relógio, enquanto olhava nos olhos do ladrão, como fazem os encantadores de serpentes. –É todo seu.
            O malandro pegou o relógio e ao ver outro carro se aproximando, saiu em disparada pela rua com sua amiga, até desaparecer numa encruzilhada.
            -Acham que metem medo, que são os donos da rua- murmurou o homem voltando para seu carro e acelerando-o. –Mas não passam de baratas prontas para serem eliminadas. Graças ao sucesso do projeto K-9 Hawthersville será limpa dessa escória em poucas semanas. 
                                    
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