Escrito
por ALLAN FEAR
CAPÍTULO
1
Era um dia cinzento e
frio com nuvens opressoras pairando baixas nos céus. A jovem Érica, como de
costume, estava levando seu cachorro, um Poodle branco, para passear no Bosque
de Satanás.
Ela
conhecia bem as histórias que eles contavam sobre aquele lugar, do suposto
ermitão assassino que vivia entre as árvores, os relatos de uivos tarde da
noite e as pessoas que ali entraram e nunca mais foram vistas.
Mas
Érica não acreditava em nada disso, ela pensava que eram apenas lendas para
assustar criancinhas.
Tudo
ocorria tranquilamente, quando de repente o cãozinho viu um esquilo correndo
entre as árvores e com um puxão forte fez a corrente se soltar da mão de Érica.
Érica
assustou e pôs-se a correr chamando por seu animalzinho de estimação de nome Spiker.
Mas
o cachorro não lhe deu atenção enquanto corria velozmente atrás do esquilo.
Érica
correu, sentindo a brisa morna e pegajosa soprar contra sua face. O perfume de
pinho enchia suas narinas. A bolsinha com seus pertences saltitava em suas
costas.
Por
fim Érica alcançou o cachorro, pegou a corrente e o puxou para perto de si,
repreendendo o animal, cuja língua pendia no canto da boca.
Então
a menina se deu conta que estava em uma parte sombria do bosque. Havia ido além
de onde estava acostumada.
A
menina se virou e começou a fazer o sinuoso caminho de volta por entre as
árvores cujas copas altas estendia suas sombras pela relva. Foi quando ela ouviu
um barulho e percebeu que não estava sozinha naquele sombrio bosque.
Érica
andou sorrateiramente em direção ao barulho esperando ver algum animal e um
grito de horror ficou engasgado em sua garganta ante uma visão assombrosa que
fez os pelos de sua nuca se arrepiarem.
CAPÍTULO
2
Érica ficou paralisada
de medo, olhando para um homem alto, magro, muito magro e calvo, que usava um
macacão negro. O estranho tinha uma grande cova aberta a seus pés e ali
depositava grandes sacos pretos amarrados com cordas.
Érica
estava tremendo de medo, pela silhueta dos sacos não poderia haver outra coisa
ali senão corpos humanos.
Os
pensamentos assustadores bombardeavam sua mente. Ela se lembrava das histórias
assustadoras sobre o bosque de Satanás. Os assassinos que arrastavam suas
vítimas por entre as árvores. As pessoas que entraram ali e nunca mais foram
vistas. Os corpos encontrados em covas rasas.
Ela crescera naquela cidade de Hawthersville, um lugar
cercado por lendas e maldições. Mas jamais havia se deparado com nada
assustador, não até aquele fatídico momento.
Érica
tinha de fugir. Tinha de sair do bosque. Ela se abaixou para pegar seu
cachorrinho que estava vidrado em uma aranha escondida em sua toca.
Quando
ela pegou o Poodle nos braços, o animal viu o homem além dos arbustos e latiu.
Então
uma voz furiosa, como um trovão, indagou quem estava ali. O sangue gelou nas
veias de Érica, ela sabia que havia chamado a atenção do maníaco que estava
enterrando os cadáveres nos sacos pretos.
CAPÍTULO 3
Desesperada
Érica começou a correr mata adentro, sem olhar para trás, segurando firmemente
o animalzinho que rugia nos seus braços.
Mas
então Érica gritou quando sentiu agarrarem-na por trás. Era o maníaco! Iria
matá-la e depois enterrá-la em uma daquelas covas.
Ela
deu um puxão e correu e pôde perceber então que não era o maníaco, e sim um
galho de arvore que enroscara na alça de sua bolsa. Com o puxão a bolsinha se rasgou
fazendo seus pertences caírem pelo chão.
Primeiro
Érica se certificou de que o maníaco não a estava seguindo. Depois pegou a
bolsinha rasgada, catou os pertences e deu o fora daquele lugar medonho.
Érica
voltou para casa às pressas, olhando constantemente para trás para se
certificar de que não estava sendo seguida.
Estava decidida a não mais levar Spiker para passear no bosque. Pelo
menos não no Bosque de Satanás que ficava no final de sua Rua.
Érica
pensou em chamar a polícia, mas estava com muito medo. Queria esquecer o que
viu e ficar o mais longe possível do bosque. Afinal, aquele homem estranho
poderia estar no fundo de um bosque sombrio apenas enterrando outra coisa em
sacos para cadáver, certo?
Pobre
Érica, ela não sabia que seu pesadelo estava apenas começando.
CAPÍTULO 4
No outro dia Érica acordou
cedo para ir ao colégio. Era uma manhã fria e de chuva fina. Após se arrumar e
deixar a casa ela andou pela calçada molhada, escapando das poças d’água. Tentava
em vão aquecer as mãos nos bolsos do suéter que usava. Entrou na estação
abarrotada de pessoas, passou pela catraca e desceu as escadas para pegar o
metrô.
Então
Érica ouviu a voz de um homem pedir desculpas por esbarrar em alguém e quando
se virou seus olhos se encheram de terror ao ver um homem alto e magro, com a
careca refletindo a luz do teto. Ela reconheceu o maníaco do Bosque
imediatamente.
Pasma
de medo, Érica percebeu que o homem tinha pressa pois que a tinha reconhecido
também e estava atrás dela.
Como
ele a tinha encontrado?
Ele
a teria seguido até sua casa? Ela poderia jurar que não.
Mas
então um arrepio percorreu suas costas enquanto ela tentava fugir, desviando
das pessoas, tentando se afastar do maníaco, o que ele queria fazer com ela?
Teria coragem de matá-la ali, na frente de todo mundo e enfiá-la em um de seus
sacos para cadáver e enterrá-la no Bosque de Satanás?
CAPÍTULO
5
Érica chegou na plataforma
a tempo de entrar no metrô quando este emitiu o apito de fechar as portas.
Quando
ela olhou para trás, as portas se fecharam e ela viu através do vidro que o
homem calvo estava se aproximando, seus olhos pequenos e escuros fuzilavam os
dela.
O
tipo estranho começou a mexer os lábios em uma ameaça silenciosa. O metrô
começou a andar, mas Érica conseguiu ler os lábios do homem que disse:
-Há um saco esperando por você!
CAPÍTULO
6
Érica estava nervosa e
apavorada enquanto se acotovelava com os demais passageiros no vagão lotado. O
maníaco sabia que ela o tinha visto e agora a estava perseguindo. Por que ele
faria isso se não houvesse pessoas naqueles sacos?
Será que ele as matava para depois ocultar seus cadáveres
no bosque ou quem sabe era seu trabalho, como um coveiro clandestino?
Ela não tinha respostas para essas perguntas, mas tinha
certeza que se não fosse cuidadosa acabaria morta e enterrada naquele bosque,
precisava tomar uma atitude, afinal o maníaco a tinha perseguido. Será que isso
era motivo para a polícia prendê-lo ou ele poderia alegar que apenas estava com
pressa para pegar o metrô?
Quase
vinte minutos depois Érica chegou na sua estação, desceu do metrô e correu para
as escadas rolantes quando um homem a segurou pelo braço, ela se virou e
começou a gritar ao encarar o maníaco.
CAPÍTULO
7
Mas então Érica se deu
conta de que não era aquele homem que ela viu no bosque. Ele usava terno preto
mais cedo quando tentou alcançá-la. Este era o segurança do metrô, um tipo
calvo e baixinho, que apenas a segurou para avisar que o chão estava molhado
devido a uma goteira. Poderia ser perigoso correr.
Érica
assentiu, sem graça, pois todos estavam olhando para ela.
Então
Érica se virou e foi para a escada rolante.
Seu rosto estava vermelho, envergonhada, mas aliviada de não ter sido o
maníaco.
Érica
estava apavorada. Não sabia se contava isso para seus amigos, se informava a
polícia, afinal as pessoas são sempre tão céticas. Não sabia o que pensar. Mas
precisava se decidir, antes que fosse tarde demais.
***
Naquela
noite Érica estava em sua casa, sozinha. Os pais ainda não haviam retornado do
trabalho. Era por volta das oito horas.
Ela
estava fazendo o dever de casa, ainda aflita com sua situação, pulando da
cadeira a cada latido que seu cachorro dava do andar de baixo da residência.
De
repente Érica ouviu a campainha tocar. Em seguida vieram os latidos agudos de Spiker,
o animal ficava solto pela casa. Ela havia marcado com sua amiga de ver um
filme após o jantar e como de costume Agnes estava meia hora adiantada.
Érica
desceu as escadas, mandou seu cachorro parar de latir e abriu a porta dizendo
que ainda faltava meia-hora para verem o filme.
Mas
ao fitar a pessoa que estava do outro lado da porta, a cor sumiu do rosto de Érica
enquanto um estridente grito de horror escapou de seus lábios. Diante dela
estava o maníaco usando um sobretudo preto e fitando-a com seus olhos frios.
CAPÍTULO 8
Ele a encontrara, e
agora estava ali, parado à sua frente. Érica tentou fechar a porta, mas ele a
segurou, mandando ela esperar com um rugido feroz.
O
homem entrou no hall da casa sob os protestos de latidos furiosos do cachorro.
Seus olhos frios fuzilavam os de Érica.
-Não
grite, - murmurou o homem encarando Érica. Ele estava tão perto, não havia para
onde fugir, ela estava completamente à sua mercê.
Érica
sentiu seu corpo ficar mole quando viu o homem meter a mão no bolso do
sobretudo.
Ele
iria pegar uma faca para matá-la ali mesmo?
Ela
queria gritar por socorro ou sair pela rua correndo em busca de ajuda, mas o
medo frio e cruel havia paralisado todo seu corpo e roubado sua voz enquanto
dilacerava seus nervos.
CAPÍTULO 9
O
homem tirou uma sacolinha do bolso do sobretudo molhado e entregou para Érica,
dizendo que havia achado sua identidade e alguns outros pertences no bosque no
outro dia.
Érica
lutou para erguer seus braços e pegou a sacolinha com suas mãos trêmulas.
Quando conseguiu respirar novamente, timidamente Érica indagou, sem pensar, o
que estava nos sacos para cadáver que ele havia enterrado no bosque?
O
homem riu. Um riso seco e amargo e disse que não eram corpos humanos se era
isso que ela tinha pensado. Era apenas lixo. Ele apontou para seu furgão azul estacionado
do outro lado da rua.
Érica
olhou e viu a marca de uma empresa de eletrônicos.
O
homem disse que usava o bosque para descartar seu lixo eletrônico, assim
escapava das taxas do governo para esse tipo de descarte. Sabia que era errado,
mas deu de ombros.
Érica
entendeu que ele estava cometendo um crime contra o meio ambiente, mas pelo
menos não assassinando pessoas e enterrando seus corpos. Isto é, se ele não
estivesse mentindo.
Érica
riu nervosamente. Então o homem mudou o semblante e olhou seriamente para ela.
O
homem disse que ela deveria guardar seu segredo, caso contrário o próximo saco
a ser enterrado estaria com um corpo humano dentro.
Ele
deu uma piscadela para ela, deu-lhe as costas e foi embora, deixando Érica mortificada,
com o medo gelando novamente o sangue em suas veias.
Ele estava brincando, não é? Não é?












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