Escrito
por ALLAN FEAR
CAPÍTULO
1
A lua pálida como uma
caveira espiou dentre as nuvens cinzentas e opressoras daquela noite fria, sua
luz fantasmagórica caiu sobre Magda no momento em que ela desceu do táxi à
porta de sua casa.
Magda procurou as chaves do portão
em sua bolsa. O vento frio que soprava agitava seus negros cabelos por baixo do
chapéu pontudo de bruxa. Ela usava um longo vestido preto e apenas sua pele
clara como neve dava contraste com suas vestes.
Magda adentrou sua casa e sentiu o
calor acolhedor do aposento perfumado com rosas e incenso.
Ela chamou por Set, seu gato preto.
Estava com saudades do felino pois que estivera fora por dois dias devido a
convenção de Bruxas da sociedade secreta a qual fazia parte.
Magda era bruxa, tinha seus 33 anos,
solteira e morava apenas com seu gato. Era uma mulher excêntrica, reservada e
praticante das artes mágicas.
Após deixar sua bolsa sobre o sofá
da sala, acender as luzes e ir em busca do felino ela o encontrou caído imóvel
sobre o piso de linóleo da cozinha.
Magda o chamou, mas não houve
resposta. Ela sentiu um aperto no coração e uma aflição sombria recair sobre
sua alma a medida que se abaixava para examinar o animal.
Então Magda se deu conta de que Set
estava Morto!
CAPÍTULO
2
Lágrimas rolaram pela
face de Magda enquanto segurava o cadáver de Set em seu colo. Set era um gato
jovem, saudável e comportado, como poderia ter morrido assim tão
repentinamente?
Magda levou o cadáver do animal para
seu cômodo secreto onde realizava os rituais de feitiçaria, deitou o gato sobre
o altar, acendeu o caldeirão, incenso de mirra e algumas velas pretas e
vermelhas, foi até uma prateleira de livros e grimórios antigos, retirou um
grande e pesado manuscrito e voltou para o altar.
Magda abriu o livro e começou a
pronunciar dialetos antigos. Invocando forças sobrenaturais antigas e
primitivas.
Magda sentia raiva, tristeza e
dúvidas se amontoando sobre sua mente, impulsionando suas forças a convocar
seres de outros reinos para que se manifestassem diante de ti.
Então ela retirou alguns pelos do
gato preto e os jogou dentro das chamas do caldeirão cujas labaredas subiam
alto, quase lambendo o teto.
Então em meio a fumaça e fogo ela
viu surgir uma face inumana e fantasmal cujo rugido seria capaz de aterrorizar
aqueles que não estivessem habituados as forças ocultas.
A
criatura do além se manifestou, exalando um perfume sombrio que lembrava o
cheiro da morte e indagou:
-O
que desejas minha nobre serva?
CAPÍTULO 3
-Salve, meu senhor! -
Disse Magda com total reverência, curvando-se ante ao ser antigo. -Invoco-te de
vossa morada para que ajude-me neste momento de aflição. Mostre-me o que causou
a morte do meu querido gato, permita que eu veja através de seus olhos.
-Que
assim seja! - Assentiu o ser de outro mundo e começou a pronunciar dialetos
desconhecidos pelos humanos enquanto que de suas mãos inumanas de grandes unhas
vermelhas, uma energia esfumaçada começou a jorrar e inundar o aposento com
vossa névoa sombria.
Magda
sentiu a fumaça fria arrepiar sua pele, sentiu também a energia pesada, densa,
que chegava a causar incômodos em sua nuca. Então sua visão começou a ficar
turva e ela mergulhou em uma escuridão funesta.
Por
fim, como em um sonho lúcido, Magda estava lá, dando-se conta de que andava
sobre o telhado das casas, enxergando o céu encoberto por nuvens escuras. Não
era seu corpo, ela estava no corpo de seu gato, podia ver suas patinhas negras
pisando sobre as telhas.
Magda
estava prestes a descobrir como seu gato morreu.
CAPÍTULO 4
Magda era incapaz de
controlar os movimentos do felino, apenas podia observar seus passos em
primeira pessoa.
O
gato andava pelos telhados, saltou por muros e de repente algo chamou sua
atenção. O felino ouviu uma voz feminina o chamando:
-Psi,
psi, psi, aqui gatinho, venha cá!
O
animal foi atraído não apenas pelo som simpático da voz, mas também pelo cheiro
de carne que pairava no ar.
Magda
viu o gato saltar do muro para o quintal dos fundos de uma casa e viu, pelos
olhos do animal, o semblante feliz da mulher que lhe oferecia uma vasilha com
vários pedaços de carne.
-Vamos,
coma gatinho. - Disse a mulher. Quando os olhos de Set a fitaram Magda pôde ver
bem sua fisionomia. Era uma mulher de uns 40 anos, loura, de olhos verdes bem
vívidos e tinha uns quilinhos a mais.
Parecia bem simpática e agradável. Magda a conhecia apenas vista.
O
gato começou a devorar a carne avidamente enquanto a mulher lhe observava com
um sorriso no rosto.
Após
o almoço ela acariciou o animal e o enxotou de seu quintal. Set obedeceu e
voltou para sua casa ansioso por sorver muitas goladas de água.
Os
olhos de Magda se encheram de lágrimas e ela não conseguiu continuar naquele
estado de transe ao ver o animal se contorcer e adentrar a casa em seu
desespero quando o veneno contido na carne começou a fazer efeito.
Os
olhos sombrios de um branco sem vida do ser infernal que se manifestava nas
chamas fitaram Magda em seu pranto e ele disse com sua voz gutural de um timbre
inumano:
-Lamento
muito por vossa perda minha menina. Dizem que nós somos o mal, mas em verdade somos
apenas a sentença que condena os malvados.
-Infeliz
desgraçada, por que ela tinha que fazer isso com Set? - Indagou Magda erguendo
a cabeça e fitando o diabo à sua frente. -Eu desejo me vingar, quero que me
ensine um feitiço terrível para que eu lance nesta mulher maldita!!
Os
lábios do espírito se abriram em um sorriso cruel cheio de malevolência.
CAPÍTULO 5
Após o ritual, Magda
caminhou para a rua detrás de sua casa em direção a residência da mulher que
ela viu envenenar Set.
No
céu sombrio a lua havia se escondido atrás das nuvens escuras. Uma chuva fina
caía e alfinetava o rosto pálido de Magda, borrando levemente sua maquiagem. Em
suas mãos ela segurava um saquinho contendo um pó vermelho que na verdade era
um feitiço negro que ela fizera orientada pelo espírito.
Magda
chegou ao portão da mulher e bateu campainha. Insistiu novamente até que, por
fim, a mulher, já de Hobby por cima do pijama, atendeu.
-Olá,
posso ajudá-la? - Indagou a mulher exibindo um sorriso falso. Magda a estudou,
parecia uma pessoa comum, de semblante calmo, mas sabia que toda aquela
simpatia não passava de uma máscara para ocultar um monstro assassino de
animais.
-Gostaria
de saber por que você deu carne com veneno para meu gato? - Indagou Magda, seus
olhos frios fuzilavam os olhos da outra.
-Ãh?!
- Espantou-se a mulher fazendo-se de desentendida. -Não sei do que está falando
moça, eu amo os gatos. Agora se me dá licença, eu deixei panelas no fogo e…
A
mulher tentou fechar o portão, mas Magda a impediu estendendo sua mão e com a
outra ergueu o saquinho, abriu a palma da mão e soprou forte o pozinho vermelho
no rosto da mulher.
CAPÍTULO 6
-Sua louca, o que
pensa que está fazendo? - Berrou a mulher cambaleando com as mãos no rosto,
tossindo e espirrando quintal adentro. -Eu matei seu gato estúpido e assim que
tirar essa merda da cara eu vou te matar também sua bruxa!!
Os
olhos frios de Magda ficaram observando a mulher ziguezaguear pelo gramado em
frente da casa como uma barata tonta. Sua voz não mais saía e uma convulsão
terrível deu início.
Apesar
de sua dor, os lábios de Magda desenharam um sorriso frio em sua face pálida
quando viu a mulher começar a mutação. Seus cabelos, unhas, dentes e chumaços
de pele começaram a cair à medida que ela começava a se transformar em uma
criatura horrenda.
CAPÍTULO 7
Por fim não havia
mais um ser humano ali à frente de Magda, havia apenas uma poça de roupas,
peles, cabelo e uma gosma nojenta aos pés de uma autentica ratazana de cerca de
um metro de altura.
Magda
Abriu a boca e assoviou, para em seguida pronunciar algumas palavras mágicas.
-Oh! - Balbuciou a ratazana que antes
havia sido um ser humano em sua nova voz estranha, quase inteligível. -O que você fez comigo sua bruxa maldita?
Então
os miados surgiram e a ratazana desprezível ergueu sua cabeça e cambaleou para
trás.
-Vejam,
gatinhos! Que belo prato suculento! - Disse Magda apontando para a
monstruosidade à sua frente. -Ataquem e devorem-na, eu garanto que não está
envenenada!
Dezenas
de gatos haviam surgido nos muros, em cima dos telhados e sob o comando de
Magda todos pularam no quintal gramado e cercaram a grande ratazana. Os felinos
miavam e sibilavam para sua refeição.
Mais
e mais gatos foram surgindo quando Magda deu as costas para a ratazana e
começou a deixar o quintal.
Os
gatos famintos começaram seu ataque voraz, mordendo e arranhando aquele rato
enorme incapaz de se defender de tantos felinos.
O
rugido animalesco de horror e dor explodiu na calada da noite juntamente com
centenas de miados estridentes.
Lágrimas
rolavam pela face pálida de Magda enquanto ela retornava para sua casa sentindo
a chuva fria e a brisa perfumada de dama da noite vir de encontro a seu corpo.
Sua vingança estava concluída.
Magda
sabia que aquele ato de vingança jamais traria seu gato de volta ou muito menos
amenizaria seu sofrimento, mas ao menos impediria que novos felinos fossem
cruelmente mortos por aquele ser humano desprezível que no fim das contas
acabou se tornando comida de gatos.














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