Escrito
por ALLAN FEAR
CAPÍTULO
1
Você já deve ter ouvido
alguma lenda assustadora sobre lobisomens, não é mesmo? Homens que em noite de
lua cheia sofrem uma transformação e se tornam criaturas assassinas, metade
homem metade lobo. Dizem que esse fenômeno na verdade é uma doença macabra,
incurável, chamada de licantropia.
Hoje
será noite de lua cheia e Breno está preparado para encontrar uma dessas
criaturas sinistras que, dizem, rondar os bosques na calada da noite em busca
de presas para se alimentar.
Breno
morava sozinho em uma casa na orla do pântano, ele jamais ouviu os uivos pois
tem um sono muito pesado, mas já evidenciou os restos de animais dilacerados
que encontrou na floresta. Ele já viu as grandes pegadas na terra e os vizinhos
próximos juram terem ouvido os uivos nas noites de lua cheia.
Naquela
noite Breno havia se deitado cedo, mas o despertador começou a tocar próximo da
meia-noite. Era hora de se levantar e ir em busca da fera. Mas, deitado de
barriga para cima, Breno, totalmente desperto, não conseguia se mover.
O
que estava acontecendo? Era uma espécie de paralisia, seu corpo não respondia
aos comandos para se levantar. O que era aquilo? Teria algum medo profundo
desencadeado aquilo para evitar que ele adentrasse o bosque em busca do
lobisomem?
CAPÍTULO 2
Breno
reuniu sua coragem e sua força e conseguiu se levantar da cama num salto, e
deixou apressadamente sua morada para adentrar o pântano escuro armado com seu
revolver com balas de prata, uma lanterna e cordas, seu plano era achar o
lobisomem e feri-lo para assim poder capturá-lo e receber a recompensa de 5 mil
pratas que um fazendeiro estava oferecendo pela cabeça do animal que estava
devorando suas criações.
Embora
a oferta pela cabeça do animal fosse tentadora, Breno desejava ver um lobisomem
com seus próprios olhos, afinal crescera naquela cidade do interior ouvindo as
lendas sobre essas bestas ferozes.
Mas
apenas um revolver com balas de prata, cordas e a habilidade de um caçador
seriam o suficiente para capturar um lobisomem?
CAPÍTULO 3
No céu onde algumas nuvens
cinzentas e opressoras flutuavam baixas, a lua cheia surgia, brilhando pálida
como uma caveira. O clima estava frio, o vento soprava gélido queimando a face
de Breno, que apesar de conhecer todo aquele pântano como a palma de sua mão,
estar ali de noite, caçando uma besta-fera repulsiva, lhe causava estranhos e
intensos calafrios.
Após
alguns minutos mata adentro, Breno ouviu o uivo, era alto e estridente como um
lamento triste, que ecoou em meios as árvores. O animal estava perto.
Breno,
na surdina, empunhando seu revolver foi em direção ao uivo, ouvindo gravetos
serem esmagados e rugidos assustadores.
Os
uivos soavam cada vez mais perto, cada vez mais assustadores. O coração de
Breno esmurrava seu peito, sua adrenalina estava a mil. Um suor frio lhe descia
pelas costas.
Breno andou sorrateiro, escondendo-se atrás de cada
árvore e observando, apagou sua lanterna e forçou seus olhos a enxergar na
penumbra sob a luz prateada do luar.
Breno parou e se agachou perto de arbustos altos, viu uma
moita se mexer e ouviu o ruidoso som de uma respiração inumana. Era hora de
enfrentar o lobisomem.
CAPÍTULO
4
Breno avançou e se
deparou com aquela criatura monstruosa, que era banhada pela luz prateada da
lua cheia. Lá estava o lobisomem, a besta repulsiva e assassina que rondava os
bosques e caminhava em meio a névoa do pântano. Estava bem à sua frente. Era um
grande lobisomem de pelagem escura com um veado abatido sobre suas patas
enormes.
O
revolver tremia nas mãos de Breno quando ele o apontou na direção do lobisomem,
fascinado e aterrorizado ao mesmo tempo diante daquela criatura imponente.
Então a besta-fera lançou lhe um olhar raivoso e com sua bocarra aberta em um
rosnado furioso atacou-o no mesmo instante que Breno puxou o gatilho.
CAPÍTULO
5
Breno atirou inúmeras
vezes, mas nenhum dos tiros fez efeito contra a criatura que parou diante dele,
fitando-o com um ar de dúvida, o focinho colado a sua face, como se estivesse
estudando-o e então simplesmente se voltou para sua refeição.
Breno
estava aturdido, espantado demais para esboçar qualquer outra reação, de algum
jeito as balas de prata não haviam surtido efeito e quando a criatura estava
pronta para dilacerá-lo ela simplesmente mudou de ideia. Mas por quê? Como isso
era possível?
CAPÍTULO
6
Breno ficou ali parado,
chocado demais para se mover, observando o lobisomem de tão perto, a criatura
se alimentando como se ele fosse apenas mais uma das árvores que o rodeavam.
O cano fumegante de seu revolver tremia em sua mão.
Logo
a brilhante lua cheia se foi levando consigo a escuridão da noite diante da luz
do amanhecer.
Breno,
ainda ali, chocado demais para esboçar qualquer reação, viu o lobisomem começar
a se transformar, sofrendo uma mutação que lhe parecia dolorosa. A criatura
começou a tornar-se humana novamente.
Muitos
pensamentos e lembranças das velhas lendas que ouvira lhe vinham à mente. Então
era mesmo verdade que lobisomens eram pessoas que se transformavam.
Horror
e curiosidade estremeciam dentro de Breno quando ele viu o lobisomem se
tornando cada vez mais humano, perdendo a pelagem que era tragada de volta
pelos poros e voltando a ser um homem.
Qual
seria a identidade do lobisomem? Seria algum parente ou conhecido?
CAPÍTULO 7
Logo
os traços da criatura desapareceram sem deixar vestígios, deixando ali, caído
sobre a grama, ao lado do que sobrou das entranhas e vísceras do veado, o corpo
nu de um homem.
Cauteloso
Breno se aproximou e o horror se apossou de seu ser quando reconheceu o homem.
Breno começou a gritar, desesperado, aterrorizado até a medula. Aquilo não
poderia ser possível, era horrível demais.
O lobisomem era...
CAPÍTULO
8
O lobisomem era ele!
Mas como? Breno estava a olhar para seu corpo nu ali no chão, podia reconhecer
cada traço seu incluindo sua grande tatuagem de Bob Marley sobre o peito.
Teria
ele um irmão gêmeo sem o saber? Afinal como aquele homem ali caído poderia ser
tão igual a ele? Incluindo a mesma tatuagem?
Breno
estava confuso, aterrorizado e foi então que algo ainda mais estranho
aconteceu. Seu revolver simplesmente desapareceu de sua mão, tornando-se uma
opaca fumaça.
Ainda
mais chocado e confuso, Breno olhou para suas mãos, viu que elas estavam
ficando transparentes, desaparecendo também. Foi então que ele percebeu que
este tempo todo ele estava fora do corpo, em uma projeção astral, como ocorria
quando era criança. Por isso o revolver não havia surtido efeito pois não
passava de uma criação mental e de alguma forma tenebrosa ao se transformar em
lobisomem, seu espírito permanecia no estado de sono, desdobrado, ao passo que
aquela bestialidade assumia sua personalidade.
Então
a visão do espírito de Breno começou a ficar turva, ele se sentia puxado para
dentro do corpo físico e sabia que quando acordasse não se lembraria de nada,
afinal depois de sua infância traumática com sonhos lúcidos e viagens astrais,
depois de longos meses fazendo tratamentos psicológicos, ele jamais voltou a se
lembrar dos sonhos.
Pobre
Breno, ele não poderá ganhar a recompensa por capturar o lobisomem pois nem mesmo
em seus piores pesadelos imaginou algo tão macabro em sua vida.
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