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O PEQUENO HOMEM QUE ODIAVA GATOS


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Escrito por ALLAN FEAR

CAPÍTULO 1

Paulo era um rapaz fracassado. A sorte não lhe sorria na vida. Depois de ter sido demitido do último emprego, ficou na pior e foi morar de favor com seu irmão mais novo, Gilberto, que era casado e tinha uma filha de cinco anos.
Enquanto Gilberto era bem-sucedido e tinha uma estatura de 1,70 Paulo era baixinho com seus 1,55. Ele odiava ser baixo e sua estatura lhe fechava portas no trabalho, dificultava seus relacionamentos e deixava-o depressivo.
Paulo odiava animais, principalmente Leopoldo, o gato de estimação de Sara, sua sobrinha. O animal parecia adorar deitar sobre suas roupas ou em seu peito quando ele estava dormindo.
Às escondidas Paulo sempre berrava com o animal ou mesmo chutava ele do seu caminho.
Paulo tinha uma obsessão na vida que era crescer, se tornar mais alto mesmo que lhe dissessem que em sua idade isso já não seria mais possível.
Fuçando páginas sórdidas da internet, Paulo sempre achava algo que prometia fazê-lo crescer e saía comprando diversas porcarias que no fim das contas não adiantava absolutamente nada.
Mas naquele site estranho, encontrado nos emaranhados da Deep Web, Paulo finalmente conseguiu encontrar o produto que prometia fazer uma pessoa crescer até 30 centímetros em pouco tempo. Paulo leu fascinado os comentários de pessoas que afirmavam ter tido êxito, sendo assim ele não hesitou em usar o cartão de credito do irmão para pagar aquela pequena fortuna.

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CAPÍTULO 2

Três dias depois o remédio milagroso para crescer chegou pelo correio e Paulo começou logo o tratamento, tomando as pílulas do crescimento conforme informava o manual. 
Paulo, em sua vida mansa, comendo e bebendo às custas do irmão, seguiu seus dias acordando tarde, chutando o gato e não fazendo nada de útil. Mas ele tomava as cápsulas do crescimento, seguindo rigorosamente os horários, porém mantendo segredo sobre isso pois ninguém acreditava quando falava sobre a possibilidade de crescimento com uso de comprimidos.  Ficavam caçoando dele.
Paulo delirava em seus devaneios, poderia crescer e ficar com 1,85 de altura. Seria maior que seu irmão e todas as portas lhe seriam abertas.  
De início Paulo começou a sentir apenas uma leve queimação no estômago, mas nada que não pudesse suportar.
Mas um mês depois, em um fim de tarde, sozinho em casa, Paulo, vendo que ainda não havia crescido nenhum centímetro sequer, decidiu tomar um vidro inteiro do remédio para acelerar o crescimento.
 Após engolir dezenas de cápsulas Paulo foi para o sofá, onde o gato estava deitado dormindo profundamente.
Maliciosamente Paulo pegou o felino pela pelagem das costas, andou até a cozinha, abriu a lata de lixo e o jogou lá dentro.
Paulo voltou rindo para o sofá, sentou-se, ligou a tevê e de repente começou a passar mal, sentiu o estômago queimar e produzir estranhos ruídos de sucção enquanto um sangue grosso, encaroçado, parecia correr por suas veias, causando uma sensação muito estranha e dolorosa.
Seria o efeito do medicamento acelerando seu crescimento ou estaria prestes a entrar em colapso?

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CAPÍTULO 3


Gemendo de dor, Paulo viu o gato, todo sujo de lixo, subir no sofá da sala onde ele estava. Furioso, ele pegou o felino pelo pescoço e o jogou pela janela aberta dentro do tanque cheio de água onde várias roupas estavam de molho.
            O felino exalou um miado estridente ao cair na água fria.
Paulo já ia voltando para a sala quando de repente entrou numa convulsão terrível, seu corpo começou a se debater, ele caiu no chão, urrando de dor e sentiu seu corpo mudar. A pele colava nos ossos, podia sentir o rosto murchar como casca de maracujá.
            Paulo se estatelou no chão com uma espuma branca saindo de sua boca, os olhos virados e todo o corpo enrijecido enquanto se debatia numa louca convulsão incontrolável.

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CAPÍTULO 4

Pobre Paulo, para seu horror ele sentiu uma dor lancinante quando seu corpo começou a encolher.  Ele estava ficando cada vez menor. Os pulmões se comprimiam em seu interior, os braços se retraíam, o pescoço parecia querer engolir a cabeça e enterrá-la nos ombros como uma tartaruga. Ele estava encolhendo, encolhendo muito rapidamente em uma metamorfose estranha e bizarra...


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CAPÍTULO 5

Por fim restou apenas as roupas e chumaços de pele derretida, Paulo havia encolhido até desaparecer.
Na verdade, o que restou de Paulo lutou para sair de baixo da calça, escapou por uma perna da roupa e fitou aquele ambiente gigantesco a sua frente, confuso, ainda sentindo seu minúsculo corpinho nu dolorido devido a estranha metamorfose.
Paulo estava apavorado em sua nova condição. Sua mente estava confusa, ele olhava para suas roupas gigantescas no chão e aqueles móveis enormes à sua volta. Nada lhe fazia sentido.  
O pobre e pequeno homem gritou ao sentir uma coisa mole, crespa, molhada e enorme golpeá-lo pelas costas e jogá-lo para a frente.
Quando se virou, Paulo encarou a gigante e horrível fera, que na verdade era Leopoldo, o gato, que de seu ponto de vista, parecia uma criatura imensa.
Paulo gritou com a criatura, cuspindo-lhe maldições, mas sua fina e fraca voz, minúscula como seu corpo, não foram suficientes para amedrontar o animal imponente.
Medo e horror gelavam o sangue nas veias de Paulo, diante do felino ele entendeu o erro que havia cometido em confiar naquele medicamento clandestino comprado de forma ilegal na Deep Web.
Paulo, vendo que o enorme gato estava preparando para atacá-lo, começou a correr em direção ao fogão, estava do tamanho de um bonequinho de 10 centímetros e poderia entrar facilmente ali embaixo e se esconder do felino.
Mas o gato foi ágil e deu-lhe uma patada. Paulo ficou atordoado e foi facilmente abocanhado pelo felino.   

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CAPÍTULO 6

 A família Tobias adentrou o aposento, com Sara, a filhinha do casal, apontando, dizendo que o gato estava comendo ratos novamente.
Mas foi Gilberto que ficou intrigado ao ver as roupas de Paulo amontoadas no chão, próxima de uma pequena poça de sangue onde o gato mastigava ruidosamente sua refeição.
-Esse gato não tem jeito, adora comer porcarias, não sei por que me dou o trabalho de comprar rações caras para ele. – Disse a Sra. Tobias balançando a cabeça. –E vejam só, essas não são as roupas do folgado do seu irmão? Além de não ajudar em nada nos afazeres domésticos, fica o dia todo vagabundando e ainda decidiu deixar suas roupas sujas amontoadas na cozinha?
-Paulo é um cara mau mamãe, - começou Sara, mas foi ignorada pela mãe que apanhava com nojo as roupas do chão. – ele maltrata muito o Leopoldo.
Após a refeição o gato deixou a cozinha, satisfeito por ter devorado aquele pequeno traste inútil que adorava lhe fazer mal.  

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