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O CIRCO DOS HORRORES

 

Escrito por ALLAN FEAR

 

Capítulo 1

           

Era uma manhã de chuva fina e persistente, véspera de Halloween, quando um comboio chegava à pacata cidadezinha de Vale Negro.

            Era uma cidade pequena, cercada de longas colinas por todos os lados e inúmeras árvores por toda parte.

            Aos poucos todas as pessoas de Vale Negro começavam a comentar sobre a chegada do misterioso circo, cujo nome estampado em uma grande bandeira numa das carruagens era “SAMHAIN”, uma palavra celta, que significa “o rei dos mortos”, “o fim do verão”.

            O festival de SAMHAIN era nesta data dia 31 de outubro.

            Segundo as lendas, para agradar os deuses que se converteram ao demonismo, os Druidas promoviam rituais com fogo. Prisioneiros, deficientes mentais e animais eram queimados vivos em grandes fogueiras. Eles acreditavam conseguir o poder de ler o futuro em suas mortes.

            Mas por que um circo teria esse nome? Era o que alguns, os mais sábios, se perguntavam. Seria um nome apenas para chamar atenção ou o circo tinha alguma coisa a ver com aquele festival macabro onde pessoas eram mortas em rituais sinistros?

            O circo, ainda naquela manhã de chuva fina e vento frio, começou a ser montado numa grande área verde, cercada por árvores e mato. Muitas pessoas, principalmente as crianças, ficavam a contemplar a montagem do circo, que contava com exatamente 12 cavalos, 6 enormes carruagens e cerca de 20 pessoas.

            Ao fim daquele dia, eles continuavam trabalhando na montagem do circo, sem descanso, apenas trabalhando em silêncio.

            Foi assim também durante toda a madrugada e pouco a pouco o circo crescia, tomando por completo toda àquela enorme área verde, envolvida em trevas, pois os trabalhadores não usavam nenhum tipo de iluminação, a não ser pelo fato de que seus olhos brilhavam no escuro. Um brilho fraco, cor de prata sem qualquer emoção.

            Talvez fosse apenas o reflexo da lua cheia brilhando em seus olhos, ou talvez fosse uma pequena faísca dos segredos horripilantes que escondiam suas lonas.

 


Capítulo 2

           

No outro dia os que saíam de suas casas pela manhã, já podiam contemplar o esplendoroso e imponente circo “SAMHAIN”, todo preto por fora, com o logotipo estampado acima da única entrada com letras tão vermelhas quanto sangue fresco.

            O circo ainda tinha estampado em suas lonas rostos distorcidos de demônios, gigantescas cabeças de abóboras e horripilantes palhaços.

            -SAMHAIN, o circo encantado, chegou! Venham! Venham todos! Abandonem as esperanças e conheçam um enigmático mundo novo! - falava em voz alta um palhaço gordo e baixinho, parado ao lado da entrada do circo, segurando um megafone a altura dos lábios

            -Segredos e mistérios que estão além de suas imaginações! Não esperem mais! Tudo por uma ninharia.

            Tomados pela curiosidade, as pessoas começaram a aparecer, formando, aos poucos, uma fila enorme na entrada do circo.

            Naquela tarde três jovens passavam perto daquele circo, eles eram Kleber, Roberto e Samanta, amigos inseparáveis, e não podiam deixar de ver o grandioso circo “SAMHAIN”.

            -O que vocês acham de visitar este circo? - perguntou Samanta para aos amigos, enquanto olhava para o cenário montado, boquiaberta, pois nunca havia visto um circo de perto.

            -Eu topo.- respondeu Kleber. A gente não vai fazer nada hoje mesmo. E você, vem com a gente Roberto?

            –Sim. Talvez seja divertido aí dentro. - respondeu Roberto dando um sorriso forçado.

            Os jovens tinham uns trocados no bolso e pagaram suas entradas no circo.

            Dentro do circo era sombrio, apenas alguns candelabros iluminavam partes de um estreito corredor, que no final, dava para um lugar maior, com várias portas e mais à frente, uma tenda, que acima da entrada tinha um anúncio que dizia: “Conheça seu futuro”.

            Mais corredores se estendiam pelo pavimento. Muitas pessoas se acotovelavam para explorar as várias atrações do circo.

            -Oh! Vejam! É uma tenda de vidente!- apontou Samanta -Eu vou lá saber o meu futuro. Vocês vêm? – ela exibia um sorriso maroto.

            –Não. Eu tô fora! - respondeu Kleber. –Esse negócio de saber o futuro é tudo bobagem. -Eu não acredito nessas coisas.- resmungou Roberto. Vai lá você, a gente vai dar mais umas voltas por aí, depois passamos pra pegar você e dar o fora daqui.

            Enquanto Kleber e Roberto foram dar umas voltas pelos aposentos do circo, Samanta foi até a tenda da vidente.

            -Olá! Tem alguém aí? - perguntou Samanta ao entrar na tenda, cuja iluminação era de duas velas em candelabros que ficavam em cima de uma mesa, onde queimavam alguns incensos de cheiro forte. No meio desta mesa havia uma bola de cristal e sentada à mesa, estava uma velha, que usava longas roupas coloridas, cheia de símbolos místicos e um lenço em sua cabeça que trazia o nome do circo estampado; “SAMHAIN”.

            -Eu sou... - começou a garota, mas foi interrompida pela voz áspera e rouca da velha a sua frente que disse:

            -Fique à vontade Samanta, vou lhe revelar o seu futuro, que agora tomará rumos diferentes...

            De repente Samanta viu o que seus olhos jamais desejariam ver. Uma visão que a fez lutar para gritar por socorro, mas sua voz não saía, nem o seu corpo se mexia. Seus olhos quase lhe saltavam das órbitas, enquanto fitavam algo indescritivelmente apavorante.

 

 

Capítulo 3

 

-Aí Kleber, eu já me cansei deste circo... - começou Roberto. -As portas onde acontecem os shows estão todas trancadas.

            –É estranho, não acha? - perguntou Kleber. -O circo não estava cheio de gente logo cedo? Desde que entramos, eu não vejo ninguém saindo. Ou todos que entraram nessas portas sumiram, ou o show não acaba mais.

            –É mesmo, deve ter alguma coisa errada por aqui. Vamos procurar a Samanta e dar o fora deste lugar. - disse Roberto meio tenso.

            A noite já caía como um véu escuro e frio naquele momento.

            Depois de procurarem por quase todos os cantos do circo, sem encontrar Samanta, Roberto disse para o amigo:

            -Vamos lá na tenda da vidente, talvez ela saiba onde a Samanta foi.

            Os amigos andaram pelo estranho circo vazio até chegarem na tenda da vidente.

            -Hã... têm alguém aí? - perguntou Kleber ao entrar na tenda junto com Roberto.

            A iluminação estava fraca e aos poucos quando se acostumaram com a penumbra, puderam ver a mesma velha que Samanta vira quando ali entrou. Uma velha que usava roupas bizarras, várias pulseiras nos braços e dona de um rosto cheio, envelhecido, enrugado, com suas órbitas tomadas por uma cor prateada sem pupila e qualquer tipo de brilho.

            -Sejam bem-vindos, Kleber e Roberto! Eu já os aguardava... - começou a velha com aquela voz áspera e rouca, num tom profundo e estranho. -Presumo que estejam procurando sua amiga Samanta, não é mesmo?

            –Como você sabe o nosso nome? Foi a Samanta quem te disse? - Perguntou Kleber. - onde a Sam está?- indagou em seguida observando o ambiente a procura da amiga.

            -Acalme-se meu jovem! Tenho algo para vocês...- disse ela num sussurro.

            -Seus olhos... - começou Roberto. -Você não é cega?

            –O pior cego é aquele que não quer ver. Meus olhos enxergam muito além do que vocês possam imaginar. Agora calem-se e prestem atenção nesta bola de cristal. - Disse a velha. Em seguida a bola de cristal em cima da mesa à sua frente começou a brilhar. Os dois rapazes aproximaram-se da mesa e sentiram repentinamente um forte cheiro de incenso penetrar por suas narinas, fazendo-os tossir. De repente um rosto começou a se formar dentro da bola de cristal.

 

 

 

Capítulo 4

 

-Samanta!- exclamou Kleber ao ver o rosto da amiga dentro da bola de cristal. A garota tinha uma expressão de pavor, suas órbitas estavam como as da velha vidente, tomados por uma cor prateada.

            De repente Samanta gritou horrorizada e seu grito ecoou ruidosamente dentro da tenda.

            -Mas isso é bruxaria! O que você fez com a Samanta? Onde ela está? - perguntou Kleber com a voz trêmula e a expressão de assombro estampada em seu rosto, da mesma forma em que se encontrava Roberto.

            –Ela está aí, bem atrás de vocês!- respondeu calmamente a velha, num sussurro, enquanto os fitava severamente.

            Os jovens se viraram rapidamente para trás e puderam contemplar Samanta, que se encontrava envolvida em sombras.

            –Samanta!?- exclamaram ambos ao mesmo tempo, fitando surpresos a garota. A visão era espantosa. Samanta não era mais a mesma, estava diferente, muito desigual. Suas órbitas, tal como ela aparecera na bola de cristal, estavam tomadas por aquela sobrenatural cor prateada. Sua expressão era séria e misteriosa, transparecendo uma profunda melancolia.

            -Os olhos de Samanta também...- balbuciou Roberto. -Mas o que está acontecendo aqui?

            -Vamos sair deste lugar maldito! - gritou Kleber, enquanto sentia seu corpo ser tomado pelo terror.

            Na verdade, os jovens sentiam seus sangues gelarem dentro das veias, arrepios sobrenaturais percorrerem cada pedaço de suas carnes trêmulas e pálidas.

            -Vocês não vão a lugar algum!- disse a velha severamente. -Eu tenho um segredinho para lhes contar neste feliz dia de Halloween! Hahaha.... - começou a velha e em seguida sua risada satânica e medonha se espalhou por toda a tenda, aumentando de intensidade e por fim ecoando por todo o circo.

            -SAMHAIN, o circo dos horrores, assim conhecido em cidades onde outrora nos hospedamos, traz consigo o poder maldito do Halloween... pois só nesta data é que podemos caçar.

            Enquanto a velha vidente ia falando, Samanta permanecia parada frente à porta da tenda.

            Kleber e Roberto encontravam-se paralisados por uma força invisível, gelada e obscura que os privavam de qualquer movimento.  Era uma sensação estranha e assustadora, como a paralisia do sono que ocorre em algumas ocasiões onde o sujeito acorda, mas não consegue mexer o corpo.

            Eles apenas conseguiam ouvir, horrorizados e confusos, as palavras da velha vidente:

            -Este circo está rodando este mundo há muito tempo e o que o mantém não é o dinheiro ou qualquer outra coisa material, mas sim almas.

            -Sim meus jovens! Almas como as de vocês e de todos que adentraram este circo.

            -Mas do que diabos você está falando, sua velha maluca?- balbuciou Kleber, lutando para que as palavras lhe saíssem da boca.

            –Acha mesmo que sou uma velha, rapaz? –indagou a vidente, aumentando a voz. -Pois lhe mostrarei quem eu realmente sou.

           

Capítulo 5 

 

De repente a velha começou a se despedaçar, cada pedaço de seu corpo desmoronava como carne podre.

            –Oh! Meu Deus! Ela está se decompondo.- gritou Kleber, fazendo uma careta.

            –É nojento demais. Argh!- conseguiu balbuciar Roberto sentindo o estômago embrulhar.

            Uma estranha criatura surgiu de dentro da velha, era duas vezes maior que os garotos, chegando a tocar o teto da tenda.

            Era indescritível, a mais aterradora criatura que os dois garotos já havia visto em suas as vidas monótonas.

            Eles não tinham palavras para dizer naquele momento horrendo. Seus corações batiam acelerados dentro de seus peitos, suas mãos e pernas tremiam assustadoramente, seus dentes se debatiam uns contra os outros, suor gélido lhes escorriam pelas pálidas e horrorizadas faces. A criatura à sua frente tinha o corpo de uma cor azul escuro, tomado por sombra, a pele gosmenta que emanava um insuportável cheiro de carniça e gotas salientes e pegajosas lhe escorriam da enorme boca, onde havia uma abissal língua de uma cor roxa, que ao ser colocada para fora, exibia  caroços enormes, semelhantes a furúnculos inflamados.

            Naquela assombrosa e saliente bocarra, cheia de grandes, afiados e apodrecidos dentes, havia um bafo ainda pior que a carniça que seu corpo emanava. Era um cheiro horrível e indescritível.

            Os olhos da besta horrenda eram medonhos, gigantescos, do tamanho de bolas de futebol e de uma cor vermelha e preta que brilhava nas trevas. Sua cabeça, com orelhas pontudas e cabeludas, era escamosa, com múltiplos caroços com pequenos buracos de onde escorriam melecas esverdeadas.

            -Hahaha... - uma risadinha diabólica e zombeteira começou a sair da boca da abominação. -Olhem para minha verdadeira aparência seus vermes imundos!- a criatura falou, num tom de voz grotesco, impossível de se descrever, que com sua devastadora potência, quase estourou os tímpanos de Kleber e Roberto, seus únicos ouvintes, pois Samanta parecia não ouvir absolutamente nada, ela aparentava estar em um profundo estado de transe.

            –Eu sou conhecido como VALHALLA, nome dado a um lugar medonho, onde breve suas almas estarão. -

            O horror manifestado aproximou-se dos indefesos e espavoridos garotos.

            –Desfaçam-se de todas as suas esperanças, por menores que elas possam ser e não tentem resistir aos seus destinos finais. Hahaha...

            Então a criatura se calou, um breve momento de silêncio invadiu a tenda.

            Só se ouviam as batidas aceleradas dos corações dos dois rapazes apavorados. Então a besta voltou a falar:

            -Agora chegou o momento esperado! Preparem-se meus jovens, em poucos segundos vocês serão como sua amiga, se tornarão meus escravos! Hahaha!!! – A risada demoníaca ecoou novamente por todos os lados, como um furioso trovão.

           

 

Capítulo 6

 

Uma estranha energia sobrenatural, de uma cor negra, com pequenos pontos esverdeados e brilhantes, semelhante a uma fumaça espessa, começou a sair da gigantesca boca da fera e envolver Kleber e Roberto, da cabeça aos pés. A fumaça era gélida, muito espessa e densa, envolvido nela, os dois rapazes podiam ouvir estranhos gritos, choros e gemidos de dor e horror.

            A fumaça penetrava pelos orifícios de seus corpos, como suas bocas, ouvidos, narizes e poros, fazendo seus corações baterem numa velocidade muito acelerada, uma velocidade sobre-humana.

            Seus corpos começaram a se enrijecer e seus sentidos foram esvaindo-se, um a um. Primeiro o tato, depois o paladar, em seguida o olfato e a audição e pôr fim a visão. Suas almas foram arrancadas de seus corpos e tragadas por aquela fumaça maldita.

            –Com mais estas duas almas estou muito bem alimentado, por este Halloween já é o suficiente. -Disse aquela criatura grotesca, quando toda aquela fumaça sobrenatural penetrou por sua boca, levando mais duas almas de ingênuos e inocentes jovens.

            Logo os corpos de Kleber, Roberto e Samanta se juntaram a tantos outros. Era hora de partir. Os corpos escravizados pelo poder maligno de um monstro insano e demente começaram a desmontar o circo.

            O exército maldito do crepúsculo, as crias de VALHALLA, eles deveriam partir para outro destino.

            Os escravos de suas maldades foram abandonados, libertos do transe hipnótico, mas corpos humanos não vivem sem almas, sendo assim logo todos irão perecer.

            SAMHAIN, o circo maldito, cheio de segredos e mistérios bizarros, como o palhaço na porta do circo dizia: estão além da imaginação humana.

            Ainda de noite, numa madrugada fria, sombria, debaixo de um céu de nuvens negras e opressoras, onde a lua cheia e brilhante ora aparecia ora desaparecia, o comboio deixou a cidade de Vale Negro, largando para trás um clima de desconfiança e mistério e levando consigo, numa cavalgada negra, o terror, o sobrenatural e inúmeras almas, saciadas num banquete sádico e macabro.

            O show deve continuar.           

 









  

 

 

 

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